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FORMAÇÃO

Educação transforma realidade de jovens e adultos nas indústrias goianas

Sesi oferece oportunidade de ensino em Goiás | 15.10.23 - 18:40 Educação transforma realidade de jovens e adultos nas indústrias goianas Formandos de 2022 do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da São Salvador Alimentos (Crédito: Alex Malheiros)

Fernando Dantas
Especial para o jornal A Redação

Goiânia
Foi somente aos 51 anos de idade que Marcelo Alves dos Santos, colaborador da São Salvador Alimentos, em Itaberaí (GO), voltou para uma sala de aula e teve a oportunidade de retomar os estudos por meio do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Estou há mais de 35 anos na indústria, entrei antes mesmo de ser a São Salvador. Aos poucos fui evoluindo profissionalmente, mas sentia a necessidade de estudar, concluir o ensino, porque tive que parar os estudos com 16 anos. Morava na fazenda e abandonei a escola na época para trabalhar e ajudar a família. Incentivado pela própria São Salvador, retornei às aulas e no final de 2022 consegui o tão sonhado diploma de ensino médio”, celebra.
 
Atualmente, Marcelo é inspecionista, desenvolvendo atividades de campo, como manejo e cuidados com os frangos desde a chegada, nas granjas, até a ida para o abatedouro. Mas o início na empresa foi como granjeiro em uma das fazendas. “Sempre tive apoio para crescer no trabalho e o incentivo aos estudos foi um importante passo. Ganhei mais conhecimento e experiência. Melhorei profissionalmente, inclusive em relação ao salário, e estou cada vez mais motivado. É engraçado como os estudos dão outra visão, porque antes eu achava que sabia tudo. Quando retornei para a sala de aula, percebi que não sabia quase nada. A educação realmente amplia horizontes”, enfatiza.

Com o certificado de conclusão do ensino médio em mãos, Marcelo não pretende mais parar. “Agora estou cursando Processos Gerenciais e quero fazer Agronegócio. Almejo um futuro melhor e até incentivo meus três filhos a estudarem, se formarem. A minha filha está na faculdade e tenho certeza que vai conquistar tudo o que quer. Também tento estimular os colegas de trabalho, que por algum motivo precisaram parar, a voltarem para a sala de aula. Defendo a necessidade de concluir os estudos e os benefícios que proporcionam”, reforça.
 
Marcelo Alves, da São Salvador Alimentos, recebeu o certificado de conclusão
do ensino médio por meio da EJA (Crédito: Arquivo Pessoal)
 
Marcelo faz parte de um grupo de 166 colaboradores da São Salvador Alimentos que conseguiu concluir a formação educacional por meio da EJA. O programa é desenvolvido desde 2017 na empresa,resultado de parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi). “A EJA proporciona aos colaboradores da São Salvador a oportunidade de cursar o ensino médio e é voltado para aqueles que tem interesse e atendem alguns requisitos internos da empresa. O programa tem duração de 18 meses e as aulas são de forma híbrida, ou seja, 80% das aulas em plataforma específica do nosso parceiro e 20% aulas presenciais, uma vez por semana”, destaca o analista de Treinamento e Desenvolvimento da empresa, Luis Gustavo Lima de Oliveira.

Para ele, o programa educacional só tem alcançado resultados positivos por causa da parceria com o Sesi. “A São Salvador Alimentos é responsável em fornecer toda a estrutura física, mobilização e acompanhamento dos colaboradores durante todo o processo, além de mitigar a evasão do ciclo. O Sesi entra com toda parte pedagógica do programa. Acreditamos que assim exercemos papel fundamental no processo de desenvolvimento e evolução dos colaboradores. A educação é instrumento de transformação social e é um dos pilares da empresa”, relata.

Luis destaca, ainda, que a EJA promove a restituição de direitos e inserção social para aqueles que não tiveram a oportunidade de concluir a educação básica na idade própria. “Muito mais do que continuidade aos estudos é um meio de transformar a vida destes colaboradores, proporcionando a eles grandes mudanças, uma nova visão de mundo, a chance de ter uma vida melhor e a grande possibilidade de crescimento e carreira profissional”, defende.
 
Apesar de exemplos positivos, como da São Salvador Alimentos, que mostram que empresas e indústrias têm buscado investir na educação de seus colaboradores por entenderem que é uma forma de motivação e ampliação de resultados em produtividade, a realidade nacional de acesso aos estudos, por meio da EJA, especialmente para quem deixou a escola, ainda está longe do ideal. É necessário incentivo maior para driblar os desafios que às vezes levam a pessoa a se manter fora da sala de aula.

Informações compiladas a partir do Censo Escolar, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Anuário Brasileiro de Educação Básica mostram que são diferentes os motivos que levam ao abandono ou impedem de frequentar o ambiente escolar, desde problemas de saúde até necessidade de trabalhar.
 
 
O Censo Escolar revela também que tem ocorrido uma queda na quantidade de matrículas na EJA no País nos últimos anos. Em 2018, a modalidade possuía 3.545.988 inscritos, sendo 2.108.155 na EJA ensino básico e 1.437.833 na EJA ensino médio. Se levarmos em consideração as iniciativas pública e privada, eram 3.324.356 matriculados em instituições públicas e 221.632 em privadas. Já em 2022, o número caiu para 2.774.428 inscritos, com 1.691.821 na EJA ensino básico e 1.082.607 na EJA ensino médio, além de 2.584.998 em instituições públicas e 189.430 em privadas.
 
 
Nesse atual cenário, de necessidade de fortalecimento da educação de jovens e adultos, o Sesi sai na frente e é referência. Além de oferecer oportunidade de ensino, o foco da instituição tem sido a busca constante por atrair e reter os estudantes. Em Goiás, por exemplo, desde a criação do programa, no final da década de 1990, mais de 214 mil pessoas se formaram por meio da EJA Sesi. Somente em 2023 são 3.105 matrículas efetuadas no programa no estado. 

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Sesi é uma forma de ensino flexível e adaptativa para jovens com mais de 15 anos, que não terminaram o ensino fundamental, e adultos com mais de 18 anos, que não completaram o ensino médio. A gerente de Educação Básica do Sesi, Quissinia de Freitas, explica que a sistematização das atividades de EJA se deu a partir de 1998, com o lançamento do Programa Educação do Trabalhador, que se insere no compromisso do Sesi com a educação básica em geral e com a educação do trabalhador em especial. “Até o ano 2000, as ações se concentravam na preparação de jovens e adultos para os provões de certificações. A partir de 2001, o Sesi Goiás foi autorizado pelo Conselho Estadual de Educação de Goiás (CEE/GO) a realizar a formação e certificação de jovens e adultos, ou seja, são mais de 20 anos ofertando a educação de jovens e adultos no estado”, enfatiza.
 
Quissinia reforça que o Sesi, desde seu regulamento de criação, atua com o objetivo de contribuir para o bem-estar social do trabalhador da indústria e de seus dependentes. “Assim, a instituição tem um propósito social e investe fortemente em serviços que contribuam para a produtividade e competitividade da indústria goiana. A EJA possibilita transformar a vida de estudantes trabalhadores e, consequentemente, das indústrias com a elevação da escolaridade de seus colaboradores”, diz.

Entre os benefícios para as empresas e as indústrias, ela lista a disponibilidade de cursos do ensino fundamental, anos iniciais, até o ensino médio, com oferta presencial ou a distância (EaD) e metodologia diferenciada valorizando e reconhecendo formalmente o que o estudante trabalhador já sabe. “Além disso, temos ensino flexível e contextualizado com situações do dia a dia, material didático autoral exclusivo e professores qualificados, experiência, tradição e reconhecimento internacional pela Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], elevação da escolaridade dos estudantes trabalhadores, contribuindo para produtividade e competividade da indústria goiana, certificado reconhecido no mercado de trabalho e abertura de salas de aulas dentro das próprias indústrias”, informa.
 
Gerente de Educação Básica do Sesi Goiás, Quissinia de Freitas destaca que a
EJA contribui para a transformação da vida de estudantes trabalhadores (Crédito: Alex Malheiros)
 
A gerente acrescenta que, atualmente, são cerca de 132 empresas/indústrias parceiras no programa EJA Sesi. Para participar, a indústria interessada pode entrar em contato com a unidade Sesi mais próxima para estabelecimento de parceria. “Tendo demanda para atendimento, a entidade pode abrir turmas na própria indústria e caso não haja, os colaboradores interessados podem estudar em uma das unidades do Sesi que estejam com matrículas abertas. Vale ressaltar que o atendimento a indústria é totalmente gratuito”, cita.
 
Hoje, são 11 unidades que ofertam EJA em Goiás por meio do Sesi: unidades Sesi Campinas, Sesi Canaã, Sesi Catalão, Sesi Itumbiara, Sesi Jaiara, Sesi Planalto, Sesi Alto Horizonte, Sesi Senai Aparecida de Goiânia, Sesi Senai Barro Alto, Sesi Senai Jardim Colorado, Sesi Senai Minaçu e Sesi Senai Rio Verde.
 
O perfil do estudante também mudou nos últimos anos, pois é perceptível a juvenilização da EJA, com a chegada de um público cada vez mais jovem, principalmente de estudantes que abandonam o ensino regular e depois buscam por uma conclusão mais rápida, informa Quissinia. “É um público trabalhador com perfil socioeconômico mais baixo e que tem objetivo de elevar a escolaridade e, consequentemente, conquistar melhores oportunidades de trabalho”. Por isso, segundo ela, a forma de oferta da EJA passou por reformulações e a partir de 2018 teve início a Nova EJA. “Passou a ser oferecida a Educação de Jovens e Adultos Profissionalizante, que concilia a formação básica com a qualificação profissional, preparando ainda mais os estudantes para o mercado de trabalho”.
 
O gerente de Educação Profissional do Senai Goiás, Osvair Matos, explica que esse programa visa a integração do estudo da Educação de Jovens e Adultos e a formação profissional, a qual é obtida pelo estudante ao realizar processo formativo por meio de uma qualificação em ocupação profissional.

Em Goiás, é ofertada desde 2018, tendo já formado mais de cinco mil trabalhadores. “É importante destacar dois aspectos. O primeiro é oportunizado, ao estudante, a chance de concluir uma das etapas do ensino básico, sejam em anos iniciais, finais ou médio, por meio de uma metodologia inovadora denominada Reconhecimento dos Saberes, que valida e certifica os saberes adquiridos pelos jovens e adultos em processos formais, informais e não formais de educação e nas experiências de vida e trabalho. O segundo é quando esse estudante realiza a formação profissional, o qual está alinhada com as necessidades da indústria, possibilitando a inserção ou reinserção desse estudante no mundo do trabalho”, acrescenta.
 
Gerente de Educação Profissional do Senai Goiás, Osvair Matos afirma que a EJa
Profissionalizante forma profissionais de elevada excelência (Crédito: Alex Malheiros)
 
Para Osvair, o ensino de jovens e adultos, articulado com as necessidades da indústria, contribui com a missão institucional do Sesi Senai na promoção da qualidade de vida do trabalhador e de seus dependentes, com foco em educação. “Assegura, por meio de oportunidades educacionais apropriadas, o direito pleno à educação básica aos que ainda não a concluíram, qualificando os trabalhadores da indústria por meio da elevação da sua escolaridade e da articulação de sua formação básica com a educação profissional, na dimensão da educação integral. Diante disso, esses estudantes são formados para serem profissionais de elevada excelência, contribuindo com a construção de uma indústria cada vez mais competitiva”, informa. Ele reforça que podem participar as pessoas que estiverem devidamente matriculadas, com idade mínima de ingresso de 15 anos para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio, e que possuam os documentos comprobatórios de conclusão da etapa de ensino anterior.
 
De acordo com informações do Relatório de Gestão do Sesi nacional, em 2022 foram investidos mais de R$ 9,4 milhões para a realização de 86.595 matrículas na EJA, sendo que 44.242 foram na Nova EJA em 24 Departamentos Regionais, sendo 100% fomentadas diretamente pelo Departamento Nacional.
 
 
Investir no aumento da escolaridade e da profissionalização de colaboradores pode ser feito de diversas maneiras. Na Caramuru Alimentos, o interesse pelo assunto educação vem do desafio que a empresa enfrentou ao implantar projeto industrial em Itumbiara, na década de 70, e contar com limitações em sua força de trabalho. “Estabelecemos como objetivo que os colaboradores deveriam ter escolaridade mínima de 1º grau. Por isso, desde 1991, a Caramuru trabalha no desenvolvimento de condições em treinabilidade e empregabilidade dos seus colaboradores, introduzindo curso interno de alfabetização de adultos e erradicando o analfabetismo entre os seus colaboradores”, informa a diretora de Recursos Humanos, Margareti Scarpelini.

Segundo ela, a Caramuru também implementou cursos de suplência, nos moldes do ensino oficial, ministrados por professores treinados pelos órgãos municipais, introduziu Telecurso do Primeiro Grau para alunos de 5ª a 8ª séries, e, continuamente, os colaboradores são motivados a voltar a estudar. “A empresa cumpre a sua meta de preparar seus colaboradores, e o seu envolvimento, como motivadora do processo educacional, contribuindo para o resgate da cidadania e fazendo o diferencial na prosperidade do cidadão e na competitividade das empresas”, expõe.

A diretora acrescenta que ao longo da jornada, a Caramuru firmou vínculos e conexões com as comunidades locais, com diálogo e projetos para promover a educação e a sustentabilidade. “Também atuamos para promover desenvolvimento e transformação social, especialmente por meio da educação. Nosso programa Aprendendo com Você, criado há 24 anos, tem o objetivo de contribuir com recursos, atividades extracurriculares e voluntariado para gerar bons resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Entre as ações desenvolvidas, auxiliamos na recuperação da infraestrutura de escolas, na melhoria da qualidade de ensino e no desenvolvimento cultural dos estudantes, por meio da dança, capoeira, palestra educacional e visitas técnicas, além de outras atividades”, finaliza.
 
Diretora de Recursos Humanos da Caramuru Alimentos, Margareti Scarpelini diz
que a empresa busca qualificar os colaboradores (Crédito: Divulgação)

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