Jales Naves
Especial para A Redação
Goiânia - Criativo, inovador, competente, realizador e habilidoso – avaliação sempre elogiada e enaltecida, unanimemente, por todos que conhecem a sua trajetória e o trabalho que executa, como gestor público, foram adjetivos que tornaram o historiador Jales Guedes Coelho Mendonça, presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), merecedor do já muito cobiçado Troféu Cariama, do Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado (Icebe), em sua quarta edição.
Atento à movimentação e às mudanças no meio cultural goiano e já parceiro do IHGG em seu maior projeto editorial, o “Goiás +300 – Reflexão e Ressignificação”, o Icebe, por decisão unânime de seus dirigentes, entregou-lhe na segunda-feira, dia 20, a honraria, que reconhece a contribuição do homenageado à ciência e à cultura goianas.
Ao apresentar a biografia de Jales Mendonça, a professora doutora Tereza Caroline Lobo reconheceu que os feitos dele, voltados para os estudos políticos e jurídicos sobre a transferência da capital goiana e suas incursões literárias no Ministério Público de Goiás, “têm contribuição ímpar na história do Estado”, fazendo coro com renomados intelectuais que atestaram seu brilhantismo. Como o professor doutor Noé Freire Sandes, seu orientador, que afirmou sobre sua tese: “um novo regime de historicidade se inaugura em Goiás”; e o professor doutor Nars Chaul: é “um historiador maduro, de um trabalho polêmico, de um texto sagaz e muito bem pesquisado e embasado nos documentos de vários matizes e ampla consulta bibliográfica”.
Jales Mendonça agradeceu a honraria e a viu como um estímulo para continuar o compromisso que assumiu, há 10 anos, na esteira do lançamento da primeira edição de seu livro, ao ser convidado a ingressar e ter aceito o desafio de assumir a Presidência de uma instituição que tem história e faz história em Goiás. Aproveitou para enumerar as suas muitas iniciativas no IHGG, os parceiros de instituições irmãs e a parceria com a iniciativa privada na viabilização desses projetos, como a restauração do primeiro imóvel construído no setor Sul, em Goiânia, a Casa Rosada, com o apoio da Sicoob UniCentroBR, que se tornou o maior investimento privado na cultura goiana; e a reforma do primeiro andar da sede e sua requalificação, com o apoio da empresa Balada App, transformando-o em espaço para exposições culturais, que começaram com a homenagem ao bispo, dom Tomás Balduíno, neste 2023, e com mais duas agendadas: em 2024 vai mostrar o empresário e político Jalles Machado de Siqueira; e, em 2025, o ex-governador e empresário Otávio Lage de Siqueira. Citou o projeto “Goiás +300”, que reescreve a história goiana, com seis livros lançados, de um total de 18 programados; a criação da Hemeroteca Digital, já com 5.560 edições de jornais goianos; e o projeto “A história chama a escola”, que recebeu neste 2023 a visita de mais de 1.000 estudantes do ensino médio de Goiânia. Ao final, anunciou o novo grande projeto, em parceria com a Federação do Comércio de Goiás e Serviço Social do Comércio (Sesc), que, por sua sugestão, adquiriram a casa ao lado do IHGG: a transformação desse espaço em Centro Cultural da cidade.
Icebe
Em sessão especial, na sede do IHGG, tendo como mestre de cerimônia a professora doutora Lenora de Castro Barbo, o Icebe deu posse aos novos sócios titulares e sócios correspondentes; perpetuou dois novos patronos, Adão Divino Batista e Maria de Lourdes Souza; e entregou o Troféu Cariama 2023 ao historiador Jales Guedes Coelho Mendonça. Composta a mesa, seguiu-se a apresentação musical, com a participação da musicista Andréa Luísa Teixeira e do violonista Felipe Veloz; e sarau literário, com leitura e declamação de poemas e de pequeno trecho de conto de Bernardo Élis, com a participação de Elizabeth Abreu Caldeira Brito, “Primeira chuva”; João Guilherme da Trindade Curado, “O homem que fazia anos no dia sete de setembro”; Mário Vasconcelos, “A cachaça de meu avô”; Matheus Nunes, “Goiás”; Rosy Cardoso, “O descobrimento”; e, síntese de conto, Jô Sampaio, “Nhola dos Santos e a cheia do Corumbá”.
O presidente Nilson Jaime discorreu sobre o Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis Para os Povos do Cerrado (Icebe), instituição civil de direito privado, sem fins lucrativos, criada para preservar a efetiva memória cultural, literária, histórica e social do escritor Bernardo Élis – sua Casa-Museu, a biblioteca, a pinacoteca e sua obra literária. Ainda, preservar e divulgar valores e potencialidades culturais, científicas, históricas, sociais e de sustentabilidade ambiental em Goiás. Fundado em março de 2020, o Instituto possui a estrutura de uma sociedade civil, inspirada no modelo da Academia Francesa, sendo composto por 100 cadeiras com respectivos patronos, ocupadas por 100 sócios titulares, além de sócios correspondentes, honorários, eméritos, beneméritos e “ad perpetuam rei memoriam”.
Com apenas três anos de funcionamento, o Icebe tem se afirmado como uma das mais profícuas e ativas instituições culturais de Goiás, promovendo colóquios presenciais e virtuais, exposições artísticas, concertos de música e publicação de livros. O primeiro grande projeto é a Coleção “GOIÁS +300, - Reflexão e Ressignificação”, em consórcio com a recém criada Sociedade Goiana de História de Agricultura (SGHA) e com o nonagenário Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
A Coleção “Goiás +300” é um conjunto de 18 livros, que vêm sendo construídos por 450 mestres, doutores, bacharéis, licenciados e por detentores de saber, representantes de mais de 30 instituições culturais e científicas de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Com seis livros já publicados em um intervalo de apenas dez meses, perfazendo 2.600 páginas e 140 capítulos, os livros dos dois boxes dessa Coleção – História; Geografia; Memória e Patrimônio; Cronistas e Viajantes; Literatura; e Povos Originários – foram escritos por 160 autores. O próximo box será lançado em abril de 2024.
Participam da elaboração dos livros pesquisadores como os professores Eliézer Cardoso de Oliveira, Thales Murillo Vaz Costa, Eguimar Felício Chaveiro, Ricardo Assis Gonçalves, Lenora de Castro Barbo e João Guilherme da Trindade Curado, Bento Fleury, Goiandira Ortiz de Camargo e Marina Severina Guimarães.
“Até o momento, o projeto da Coleção ‘Goiás +300’ custou 180 mil reais e não utilizou um único centavo do setor público. Foi todo financiado pela iniciativa privada, graças à genialidade gerencial do dr. Jales Guedes Coelho Mendonça, responsável pela sua viabilização financeira. Foi ele quem buscou nos parceiros Josserand Massimo Volpon, Projeto Cultural de Artes Integradas Flores de Goiás, da talentosa cineasta e musicista Tainá Pompêo; Jalles Machado, Balada App, e em dois mecenas que preferiram o anonimato, os recursos necessários para essa viabilização”, afirmou Nilson Jaime.
O Troféu Cariama surgiu por iniciativa da escritora Maria Carmelita Fleury Curado (viúva de Bernardo Élis), e consta do Estatuto do Icebe, devendo ser entregue a pesquisadores que, por sua produção cultural, ou por sua atuação frente a instituições culturais, sejam referência na cultura de Goiás. O nome Cariama se deve ao nome científico da seriema, ave símbolo do Instituto: Cariama cristata.
Sendo a única láurea do Icebe, o troféu é entregue a cada ano, durante a quinzena Bernardo Élis, que acontece de 15 a 30 de novembro. Em 2020, homenageou o escritor, folclorista e compositor Bariani Ortencio; em 2021, o professor e homem de ciência Horieste Gomes; e em 2022, o escritor e ex-presidente da Academia Goiana de Letras Eurico Barbosa, “um menestrel da Democracia”. Neste ano – por iniciativa do presidente de honra do Icebe, Bento Fleury, e aprovado por unanimidade na diretoria – a honraria coube a Jales Mendonça.
Novos sócios
Na segunda-feira, dia 20, a família do jornalista Adão Divino Batista (o Adão do Jornal) e da candomblecista Maria de Lourdes Souza receberam o diploma de sua perpetuação – ad perpetuam rei memoriam – como Patronos do Instituto Bernardo Élis.
Tomaram assento no Instituto Bernardo Élis os seguintes sócios:
Cadeira 6 – Patrono: Olavo Tormin Borges; Titular: José Reinaldo Felipe Martins Filho, doutor em Ciências da Religião e professor da PUC Goiás.
Cadeira 12 – Patrono: Hélio Seixo de Britto; Titular: Sélvia Carneiro de Lima, doutora em Geografia e professora do Instituto Federal Goiano Inhumas.
Cadeira 25 – Patrona: Maria de Lourdes Souza; Titular: Thaís Marinho, doutora em Sociologia e professora da PUC Goiás.
Cadeira 42 – Patrono: Venerando de Freitas Borges; Titular: Márcia Maria Duarte dos Santos, D.Sc., doutora em Geografia e professora do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais ((IGC/CRCH/UFMG).
Cadeira 47 – Patrono: Anatole Ramos; Titular: Marcos Antônio de Menezes, mestre e doutor em História, docente da Universidade Federal de Jataí e professor na pós-graduação em História da Universidade Federal de Goiás.
Cadeira 52 – Patrono: Dom Pedro Casaldáliga; Titular: Marlene Castro Ossami de Moura, doutora em Antropologia e professora do Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia da PUC Goiás.
Cadeira 53 – Patrono: João Guimarães Rosa; Titular: Romualdo Pessoa Campos Filho, mestre em História e doutor em Geografia, professor do Instituto de Estudos Socioambientais (IESA-UFG).
Cadeira 54 – Patrono: Modesto Gomes da Silva; Titular: Eliomar Pires Martins, advogado e presidente da Associação de Egressos da UFG.
Cadeira 56 – Patrono: Zoroastro Artiaga; Titular: Sônia Maria Ferreira, graduada em Línguas Neolatinas e Pedagogia; e mestre em Educação (Psicopedagogia).
Cadeira 59 – Patrono: Pedro Gomes de Oliveira; Titular: Ordália Cristina Gonçalves Araújo, doutora em História e professora da UEG de Quirinópolis.
Cadeira 69 – Patrono: Jesus de Aquino Jaime; Titular: Osmar Pires Martins Júnior, mestre em Ecologia e doutor em Ciências Ambientais.
Cadeira 84 – Patrono: Adão Divino Batista; Titular: Patrícia Emanuelle Nascimento, doutora em História e professora da Universidade Federal de Uberlândia.
Cadeira 100 – Patrono: Padre José Pereira de Maria; Titular: Matheus Nunes da Silva Brito, poeta e presidente do Coletivo Cultural Matrinchã.
Igualmente, foram empossados os novos sócios correspondentes:
Carlos Martins Alves, licenciado em Filosofia, pós-graduado em Cinema e Educação, e professor da Secretaria da Educação do Estado de Goiás (Seduc-GO);
Daniela Amancio Cavallari, bacharela em Literatura e licenciada em Português e Inglês, professora da Seduc/GoiásTec;
Ivair Alves de Souza, licenciado pleno em Letras, especialista em Docência Universitária e em Pesquisa e Metodologia da Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e professor da Seduc/GoiásTec;
Johnwill Costa Faria, mestre em Linguística Aplicada e doutorando em Linguagem e Cultura, professor da UEG-Inhumas;
Eunice Pirkodi Caetano Moraes Tapuia, mestre em Performances Culturais e professora de escola indígena na Aldeia do Tabocão;
Marta Quintiliano, mestre e doutoranda em Antropologia Social e presidente da Associação Quilombola Vó Rita e Coletiva de Mulheres Indígenas e Quilombolas; e
Vanessa Hãtxu de Moura Iny-Karajá, pedagoga e mestranda em Letras pela Universidade Federal do Tocantins, professora da Seduc-TO em escola da Aldeia Xerente, em Tocantínia, TO.
O homenageado
O Troféu Cariama, entregue em novembro, mês em que se celebra o nascimento e a morte de Bernardo Élis, “distingue personalidades que, no conjunto de suas obras, concorreram para a dilatação da compreensão do modus vivendi e do modus operandi do homo cerratensis. Cerrado que gestou, abrigou e deu vazão à vida e a toda criatividade manifesta nas obras bernardianas”, como ressaltou a professora doutora Tereza Caroline Lobo. “O destaque de 2023 é para o ativista cultural Jales Mendonça. Se a idade o diferencia dos homenageados anteriores, sua atuação cultural e a qualidade de suas pesquisas sobre Goiânia/Goiás o coloca no mesmo patamar destes que têm se destacado no cenário cultural goiano”.
Promotor de Justiça em Goiás desde 1999, doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (2012), atuante e dinâmico presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (2021-2025), acumula na sua primeira gestão frente ao Instituto uma longa lista de ações e eventos que tem revolucionado o modo de fazer a cultura em Goiás. “Habilidade e competência na gestão foram capazes de remodelar a sede do IHGG, e trazer para o século XXI iniciativas que estão projetando a cultura em Goiás e que reverberarão por décadas”, afirmou.
“Com fartos e musicais cafés da manhã para abrir os pomposos eventos de posse de novos sócios, apresentações da Orquestra Sinfônica de Goiânia, inaugurações de exposições em homenagem a escritores de destaque na literatura goiana, palestras, inauguração de painel, exposições de artes dentre tantos momentos abrilhantados pela presença de personalidades das mais diversas áreas: jurídica, jornalística, política – esta das mais divergentes posições ideológicas –, reunindo, sem rotular ou segregar, a sociedade goiana que faz cultura. Uma gestão eficiente, democrática e agregadora!”. “Como bem definiu a professora doutora Lena Castello Branco – eternizada pela sua imensurável produção historiográfica – um ‘jurista por formação e historiador por (irresistível) vocação’, integrante da elite estudiosa e séria ocupante de postos-chaves na sociedade goiana”.
Animado pela filosofia do francês Paul Ricoeur, embalado pela história-problema, num incansável exercício de aproximação do Direito e da História – base intelectual de sua formação e de suas pesquisas –, Jales Mendonça concebe que “uma diferença entre o trabalho de ambos (o promotor e o historiador) chama a atenção: enquanto o magistrado, em regra, elabora um produto com o traço de definitividade (coisa julgada), o historiador produz um material com a marca da transitoriedade. Ou seja, a História está sempre sendo reescrita e revisada”. “O mérito que justifica a premiação está nesta relação entre a definitividade e a transitoriedade que permite a manifestação do novo alicerçado pelos fatos pretéritos periodicamente revisitados”.
Jales Mendonça – conforme destacou – foi recentemente comparado à grande figura goiana chamada Colemar Natal e Silva por empreender várias frentes de atuação e sua militância em prol da cultura goiana. “Sua liderança, competência administrativa e seu entusiasmo como gestor o conduziu para novas ações ligadas às áreas da engenharia e da arquitetura ao reformar o espaço físico do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás – a Casa Rosada. As parcerias eficientes e modernas abriram novas possibilidades de alimentar e manter viva a cultura feita em Goiás. Somente a revitalização desta casa já seria digna da premiação; afirmamos isso aportados na célebre obra A poética do espaço, de Gaston Bachelard (1993), cujo estudo fenomenológico dos valores de intimidade do espaço interior, elege a casa como “um corpo de imagens que dão ao homem razões ou ilusões de estabilidade”. É o espaço do acolhimento, do abrigo; “aqui especificamente é uma casa de cultura. Ao reformar e revitalizar este espaço/casa nos foi dado um porto seguro num período emblemático de nossa existência, antecedido pela pandemia do Corona vírus e por políticas públicas culturais nefastas que nos consumiram de 2019 a 2022”.
“Para além do aspecto físico, o engenho de Jales Mendonça, extrapolou o espaço edificado: uma casa nova com paredes rosadas, auditório remodelado e com piso branco, um arquivo organizado e preservado, uma fabulosa hemeroteca digital, a inserção no espaço cibernético, não são suficientes para fazer a História defendida por Jales, é necessário o habitar, é preciso povoar os espaços de gente. De gente que pesquisa, de gente pequena que desconhece nossa história – estudantes de escolas públicas e privadas –, de gente colorida, gente do interior, da capital e de fora do Estado”. Assim, os espaços entre uma parede rosada e outra são preenchidos com fazeres e saberes culturais, é a morada das nossas histórias, é uma unidade no espaço da quase centenária cidade de Goiânia. “É a realização de um sonho”, como poeticamente disse Gilberto Mendonça Teles ao visitar a casa em 2022 e verificar, ele próprio, as mudanças que estão acontecendo.
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