Samuel Straioto
Goiânia - Mesmo com o avanço das redes sociais e o uso crescente de campanhas digitais, carreatas, caminhadas e comícios ainda mantêm seu espaço nas eleições municipais em Goiânia. Mas será que essas formas tradicionais de mobilização ainda têm poder de influenciar o eleitorado? Em um cenário político cada vez mais digital, o impacto dessas ações presenciais divide opiniões entre especialistas e candidatos.
Enquanto as campanhas se adaptam às novas ferramentas digitais, ampliando seu alcance por meio das redes sociais, muitos políticos continuam apostando em atividades presenciais para fortalecer vínculos emocionais e comunitários com os eleitores. A discussão sobre a eficácia dessas estratégias destaca as transformações no comportamento eleitoral e a constante necessidade de inovação nas campanhas.
Com a chegada do período eleitoral, as ruas de cidades brasileiras se tornam palco de carreatas, caminhadas e comícios, eventos que há décadas fazem parte da cultura política do país. Em um momento em que as campanhas nas redes sociais ganham espaço e se tornam mais acessíveis e eficientes, muitos candidatos continuam apostando em métodos tradicionais para alcançar o eleitorado. Mas será que essas formas de mobilização ainda são tão eficazes quanto eram em eleições passadas?
Para o professor e cientista político Guilherme Carvalho, o impacto dessas ações presenciais está cada vez mais restrito a contextos locais. "No interior do país e em regiões onde o acesso à internet ainda é limitado, carreatas e caminhadas podem ter algum efeito. Nessas áreas, o contato físico com o candidato ainda faz diferença. Mas, nas grandes cidades, onde o eleitor está mais conectado e informado, esses métodos perdem força", afirma Carvalho.
Carreatas e o vínculo comunitário
As carreatas, por exemplo, têm sido uma ferramenta simbólica de exibição de força política. Ao organizar grandes grupos de veículos adesivados, com bandeiras e jingles tocando pelas ruas, o candidato busca transmitir uma imagem de popularidade. "É um movimento que gera impacto visual e, muitas vezes, serve para criar a ideia de que o candidato está ganhando apoio", explica o cientista político. "No entanto, em termos de efetividade, elas têm ficado atrás das campanhas digitais, que permitem uma segmentação mais precisa e um alcance muito maior".
As campanhas dos três principais candidatos à Prefeitura de Goiânia, conforme apontam as pesquisas, ainda valorizam a força das atividades tradicionais. Segundo coordenadores de marketing das campanhas de Adriana Accorsi (PT), Sandro Mabel (União Brasil) e Vanderlan Cardoso (PSD), as carreatas e caminhadas continuam a ser uma das principais formas de engajar o eleitorado local. Eles destacam que, em um cenário onde muitos eleitores ainda preferem o contato pessoal, essas ações são indispensáveis para consolidar a imagem de proximidade e para fortalecer a presença nas comunidades.
Embora o marketing digital esteja ganhando espaço, os estrategistas dessas campanhas afirmam que o corpo a corpo nas ruas ainda tem um peso significativo. Segundo um dos coordenadores da campanha de Vanderlan Cardoso, "as caminhadas e carreatas são eventos comunitários que criam laços emocionais com o eleitorado, e esse tipo de envolvimento é difícil de substituir, mesmo com as melhores estratégias digitais". A campanha de Adriana Accorsi também ressaltou que os eleitores de bairros mais afastados e áreas suburbanas muitas vezes esperam a visita pessoal do candidato.
Contato direto e o engajamento emocional
Outro ponto positivo dessas ações presenciais é o contato direto com o eleitorado. As caminhadas, por exemplo, proporcionam momentos em que o candidato pode apertar mãos, ouvir demandas e se mostrar próximo das pessoas. "A imagem de um político que anda pelas ruas, cumprimenta eleitores e ouve suas reivindicações cria um vínculo simbólico de proximidade", comenta Carvalho. Para muitos eleitores, essa interação cara a cara é importante, principalmente nas cidades menores, onde o laço comunitário é forte e o acesso à internet não é tão disseminado quanto nos grandes centros urbanos.
Após uma caminhada na Vila Redenção, dois eleitores expressaram opiniões distintas. Marta Nogueira, de 55 anos, defendeu as ações de rua: "Gosto de ver o candidato perto, conversando com a gente. A rede social é fria, e eu confio mais quando olho no olho". Já João Roberto, comerciante de 37 anos, discorda: "Essas carreatas só atrapalham o trânsito e não decidem meu voto. Eu prefiro acompanhar as propostas pelo celular, onde consigo comparar melhor".
Transição digital nas campanhas
Contudo, a eficácia desse tipo de mobilização está cada vez mais questionada. Para muitos especialistas, a participação em carreatas e comícios não é mais suficiente para garantir votos. "A popularidade em redes sociais e o investimento em ferramentas digitais têm mostrado ser muito mais eficazes", argumenta Carvalho.
No contexto urbano e digitalizado, a diferença entre os impactos de campanhas presenciais e digitais torna-se mais evidente. Candidatos que investem em marketing político digital conseguem alcançar eleitores de forma mais direta e segmentada, o que aumenta o potencial de conversão em votos. "O eleitor urbano é cada vez mais digital. Ele se informa pelas redes sociais, assiste a lives de candidatos e consome conteúdo em vídeo. Aquele candidato que aposta apenas em comícios e carreatas está se limitando, enquanto o marketing digital consegue atingir o público certo com mensagens personalizadas", destaca o professor.
A presença nas redes sociais permite que as campanhas sejam mais ágeis e baratas, além de possibilitar a criação de conteúdo viral, algo que dificilmente uma carreata ou comício consegue fazer. "Se um candidato investe em uma boa campanha nas redes sociais, com postagens pagas e impulsionamentos, ele atinge um público muito maior, sem os custos logísticos de organizar um evento físico", analisa Carvalho.
Presencial
Apesar das críticas sobre a baixa efetividade eleitoral, carreatas, caminhadas e comícios possuem um apelo emocional que ainda não foi completamente substituído pelas redes sociais. "Esses eventos, em especial nas regiões do interior, criam uma sensação de pertencimento. São ocasiões em que a comunidade se reúne em torno de um candidato, gerando um laço emocional que não ocorre de forma tão intensa nas interações online", comenta o cientista político.
O declínio das mobilizações presenciais
Mesmo com o fator emocional envolvido, a relevância das carreatas e comícios está em declínio, especialmente nas grandes cidades. Segundo Carvalho, "pesquisas têm mostrado que o eleitor decide seu voto cada vez mais próximo do dia da eleição, o que significa que o impacto dessas mobilizações no início da campanha é muito pequeno". Além disso, ele alerta para os aspectos negativos dessas atividades: "Carreatas podem causar transtornos no trânsito, barulho, e até gerar rejeição por parte de eleitores que se sentem incomodados".
Propaganda no rádio e TV
A propaganda eleitoral no rádio e na televisão também faz parte desse debate. O professor Guilherme Carvalho ressalta que, embora essas mídias tradicionais ainda sejam relevantes, seu espaço tem diminuído progressivamente. "O rádio e a TV vão perdendo espaço para as redes sociais, que oferecem mais interatividade e permitem ao eleitor escolher o que deseja ver e quando", explica. Para o especialista, a tendência é que campanhas no digital assumam maior protagonismo nas próximas eleições.