Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

24 de outubro

91 anos de Goiânia: entenda como o estilo Art Déco moldou a capital

Modelo dá o tom da região central da cidade | 24.10.24 - 10:00 91 anos de Goiânia: entenda como o estilo Art Déco moldou a capital Edifícios históricos no Centro de Goiânia (Fotos: reprodução)Samuel Straioto

Goiânia -
 Em 24 de outubro de 1933, a pedra fundamental de Goiânia foi lançada, simbolizando o início de uma nova capital, planejada para ser moderna e organizada. Hoje, 91 anos depois, essa cidade se consolidou como um dos principais centros urbanos do Centro-Oeste brasileiro. No entanto, para entender o espírito e a identidade de Goiânia, é imprescindível voltar os olhos para o formato arquitetônico que ajudou a moldar seu coração: o estilo Art Déco.
 
Goiânia completa 91 anos e, ao longo de quase um século, a capital goiana consolidou-se como um dos maiores patrimônios arquitetônicos do estilo Art Déco no mundo. Ao caminhar pelo centro da cidade, é possível sentir a essência de uma época que marcou o início da construção de uma nova capital, planejada para ser o marco do desenvolvimento do interior brasileiro.


(Fotos: reprodução)

Mas por que a escolha do Art Déco para Goiânia? Na década de 1930, quando a capital foi concebida, o Brasil vivia uma fase de transição política e econômica. O presidente Getúlio Vargas, defensor da modernização nacional, incentivava a criação de cidades planejadas e a expansão para o interior. Nesse cenário, a arquitetura Art Déco se apresentou como a solução ideal: um estilo inovador, mas também acessível para um estado pobre como Goiás, que tinha restrições financeiras.

Art Déco: elegância e economia
O Art Déco, que se popularizou na década de 1920, nasceu com o objetivo de modernizar as cidades com linhas geométricas, formas aerodinâmicas e ornamentações simplificadas. Embora fosse associado ao luxo e à modernidade nos grandes centros urbanos, como Paris e Nova York, em Goiânia esse estilo teve outro papel: adequar-se ao orçamento enxuto do governo.

O historiador Silvano da Rocha, que estuda a formação de Goiânia e sua arquitetura, destaca que a escolha pelo Art Déco não foi apenas uma questão de estética, mas também de praticidade. "O estilo tinha linhas mais retas e um conceito mais limpo, o que ajudava a baratear os custos. Para uma cidade nova, sem muitos recursos, isso era essencial."

Além disso, o arquiteto Attilio Corrêa Lima, responsável pelo plano urbanístico de Goiânia, inspirou-se nas tendências modernistas, mas preferiu o Art Déco, que, apesar de moderno, permitia maior simplicidade de construção. Ricardo Machado, arquiteto especializado em Art Déco, reforça essa ideia: “Os materiais mais acessíveis e a mão de obra disponível na época encaixavam-se melhor ao estilo, que, ao mesmo tempo, conferia uma aparência moderna e imponente para uma cidade que queria marcar seu lugar no mapa.”

Goiânia e Miami: o contraste de dois gigantes Art Déco
Quando se fala em Art Déco, é comum lembrar de Miami, nos Estados Unidos, que detém o maior acervo do estilo no mundo. A cidade americana se destaca pelo preservado Miami Beach Historic District, com mais de 800 edifícios Art Déco que continuam a atrair turistas e estudiosos do mundo inteiro.

Em comparação, Goiânia ocupa o segundo lugar nesse ranking mundial. Com mais de 20 prédios tombados, o acervo goiano é composto por edifícios históricos como o Grande Hotel, o Teatro Goiânia e o antigo Palácio das Esmeraldas, entre outros, localizados principalmente na região central.


Teatro Goiânia (Foto: Hélio de Oliveira)


Teatro Goiânia (Foto: divulgação)

Mas o que coloca Miami à frente de Goiânia? Além da quantidade de construções preservadas, a principal diferença está na conservação. Enquanto Miami investe pesadamente na preservação e valorização de suas fachadas Art Déco, em Goiânia, muitos desses prédios acabam escondidos atrás de letreiros e estruturas que poluem visualmente o conjunto arquitetônico.

A arquiteta Ana Clara Nascimento, especialista em preservação de patrimônio histórico, aponta que a falta de regulamentação urbana contribui para essa diferença. "Em Miami, as leis de preservação são muito rígidas. Aqui em Goiânia, temos um acervo tão valioso quanto, mas as políticas de preservação são tímidas, e muitas vezes o patrimônio fica escondido por propagandas e fachadas modificadas sem critério.”

A Lei das Fachadas Limpas: a solução para Goiânia?
A poluição visual é um dos maiores desafios para a preservação do patrimônio Art Déco em Goiânia. As fachadas históricas de edifícios icônicos são frequentemente encobertas por letreiros comerciais, o que compromete a visibilidade e o reconhecimento dessas construções como parte importante da história da cidade.

Para o urbanista Miguel Correia, a solução passa pela criação e aplicação da Lei das Fachadas Limpas, já existente em outras capitais brasileiras, como São Paulo. “A implementação dessa lei seria um avanço enorme para a preservação do acervo Art Déco de Goiânia. Precisamos retirar a poluição visual que esconde essas belezas arquitetônicas e devolver o protagonismo ao patrimônio da cidade”, explica.

Ele ainda destaca que, com a correta aplicação de leis de preservação e limpeza visual, Goiânia pode não apenas valorizar seu acervo, mas também atrair mais investimentos no turismo cultural. "O potencial de Goiânia é imenso. Estamos falando do segundo maior acervo do mundo em Art Déco. Isso deveria ser um cartão de visitas da cidade, e não algo que fica escondido."

Goiânia: preservação e futuro
Com 91 anos, Goiânia carrega consigo a beleza de um dos mais importantes estilos arquitetônicos do século XX, mas também o desafio de manter viva essa herança. A preservação do Art Déco na cidade não é apenas uma questão estética, mas cultural, histórica e econômica. A partir da conscientização e da aplicação de políticas públicas eficazes, como a Lei das Fachadas Limpas, a capital pode resgatar e preservar o que a torna única no cenário mundial.


Palácio das Esmeraldas (Foto: Anna Stella)

A celebração dos 91 anos de Goiânia é também um convite à reflexão sobre o futuro da cidade e a necessidade de valorizar seu passado. Afinal, o Art Déco não é apenas um estilo arquitetônico; é a expressão de um período marcante na história da capital, que continua a contar essa história em cada detalhe de suas fachadas.

A Art Déco e a identidade goianiense
A influência do Art Déco vai muito além da estética. Esse estilo ajudou a moldar a identidade cultural de Goiânia, diferenciando-a de outras capitais brasileiras. Enquanto cidades como Salvador e Rio de Janeiro possuem uma arquitetura mais eclética, Goiânia se destacou como um exemplo de cidade planejada dentro de um estilo coeso e marcante.

Para o arquiteto e pesquisador Miguel Correia, essa identidade arquitetônica é uma parte essencial do que torna Goiânia única. “A Art Déco, ao mesmo tempo em que reflete um momento de modernização e industrialização, também carrega uma certa nostalgia e uma busca por ordem e controle. Essa dualidade se reflete no próprio espírito de Goiânia, que nasceu de um plano muito bem definido e continua, até hoje, em busca desse equilíbrio entre crescimento e qualidade de vida”, comenta.

Além disso, o estilo Art Déco em Goiânia se tornou um importante atrativo turístico e cultural. O Setor Central, com seus prédios históricos, é um ponto de parada obrigatória para visitantes que desejam conhecer a história da capital goiana. Em 2003, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou parte do acervo arquitetônico Art Déco da cidade, reconhecendo a importância histórica e cultural desse estilo para a identidade de Goiânia.


Coreto localizado na Praça Cívica (Foto: Acervo Iphan)
 

Os desafios da preservação
Embora o Art Déco seja uma marca registrada de Goiânia, sua preservação enfrenta inúmeros desafios. Muitos dos prédios originais já foram demolidos, e outros estão em estado de deterioração. A rápida expansão urbana da cidade ao longo das décadas muitas vezes ocorreu sem planejamento adequado para a preservação do patrimônio histórico, resultando na perda de importantes exemplares dessa arquitetura.

A preservação do conjunto arquitetônico Art Déco de Goiânia depende de um esforço conjunto entre o poder público, as universidades e a sociedade civil. Segundo Correia, “o maior desafio é conciliar o desenvolvimento da cidade com a preservação de sua história. Muitas vezes, a pressão por novas construções e por modernizações entra em conflito com a necessidade de proteger o que resta do nosso passado”.

Algumas iniciativas, no entanto, buscam reverter esse quadro. Nos últimos anos, projetos de revitalização do centro da cidade, como a restauração do Teatro Goiânia, têm sido implementados, com o objetivo de preservar esse importante legado arquitetônico. Além disso, o tombamento pelo Iphan trouxe maior conscientização sobre o valor do patrimônio Art Déco, incentivando ações de preservação e restauração.

O futuro do legado Art Déco em Goiânia
O futuro do legado Art Déco em Goiânia dependerá de políticas públicas voltadas para a preservação do patrimônio histórico e de uma maior conscientização da população sobre a importância desse estilo arquitetônico. Para Correia, é fundamental que a cidade continue a valorizar seu passado enquanto busca soluções para os desafios contemporâneos. “Goiânia é uma cidade que nasceu do planejamento e da modernidade, e o Art Déco é parte desse DNA. Se quisermos que Goiânia continue a ser uma cidade única e diferenciada, precisamos cuidar desse legado.”

Com a celebração dos 91 anos de Goiânia, é o momento ideal para refletir sobre o papel da arquitetura na construção da identidade urbana. O estilo Art Déco, que moldou o coração da capital, continua sendo um símbolo de sua modernidade e de seu espírito visionário. A preservação desse patrimônio não é apenas uma questão de manter prédios históricos de pé, mas de preservar a própria alma da cidade, garantindo que as futuras gerações possam se conectar com o passado ao mesmo tempo em que constroem o futuro.

O que é o Art Déco?
O art déco é um movimento artístico que emergiu na Europa durante a década de 1920 e rapidamente passou a influenciar diversas áreas, como as artes plásticas, moda, cinema, arquitetura e design de interiores. Sua estética é marcada pelo uso de formas geométricas, ornamentação detalhada e composições abstratas, que lhe conferem uma identidade única.

Como todo movimento artístico, o art déco teve um ponto de partida significativo. No caso, esse marco foi a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris, em 1925. Esse evento foi crucial para a difusão do estilo e deu origem ao termo "art déco", que é uma abreviação de "arts décoratifs", ou Artes Decorativas, em francês.

Embora o conceito de "Artes Decorativas" tenha sido formalizado ainda em 1875 para englobar o trabalho de artistas dedicados ao design de móveis, moda e joias, foi a exposição de 1925 que consolidou a presença do art déco no cenário internacional. Com a participação de 15 mil expositores de 15 países, o evento destacou o novo estilo que estava ganhando prestígio, especialmente entre a burguesia europeia da época.
 
 


Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351