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Goiânia

Crise na saúde: Após UTIs, Atenção Básica é foco para conter caos

Cremego relata condições precárias | 27.11.24 - 07:00 Crise na saúde: Após UTIs, Atenção Básica é foco para conter caos Solução passa por abertura de leitos e reestruturação da atenção primária (Foto: Prefeitura de Goiânia)Samuel Straioto

Goiânia - A saúde pública de Goiânia enfrenta profunda crise.  Segundo dados apresentados pelo Ministério Público de Goiás (MPGO), o colapso é fruto de falhas de gestão, falta de planejamento e outros problemas estruturais. As dívidas são superiores a R$ 250 milhões e 20 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI)estão bloqueados. Além da prioridade no atendimento de média e alta complexidade, passos devem ser dados para desafogar a saúde básica.

Em entrevista ao jornal A Redação, a presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Sheila Soares Ferro,  conta que o caos financeiro reflete diretamente na qualidade do atendimento e no funcionamento das unidades públicas, que enfrentam a falta de insumos e profissionais.

O sistema vive um colapso que resultou na morte de pelo menos quatro pacientes à espera de atendimento. Agora, as atenções se voltam para ações emergenciais que possam reorganizar a estrutura de atendimento e evitar novas tragédias.

Sheila Ferro relata que o impacto sobre os profissionais de saúde também é preocupante. Ela destaca que médicos que atuam em unidades básicas, prontos-socorros e UTIs estão com pagamentos atrasados e condições precárias de trabalho.
 
Frente a este cenário, algumas medidas emergenciais estão sendo traçadas para os próximos dias. A abertura de 40 novos leitos de UTI é uma das principais ações anunciadas pelo prefeito eleito Sandro Mabel (União Brasil), que já articula estratégias com o governo estadual e a equipe de transição.

Além disso, Mabel pretende priorizar o pagamento de valores atrasados às maternidades da cidade, assim como o fortalecimento dos Programas de Saúde da Família (PSFs), considerados cruciais para reduzir a sobrecarga no sistema de urgência e emergência.
Destaca-se ainda o fortalecimento da gestão compartilhada entre o estado e o município, com o objetivo de otimizar recursos e melhorar a coordenação dos serviços de saúde.

Também está prevista a reativação dos contratos que foram suspensos com prestadores de serviços de saúde, uma medida crucial para garantir a continuidade do atendimento à população e reduzir a sobrecarga no sistema público.

Câmara
Na Câmara de Goiânia, durante a sessão ordinária desta terça-feira (26), vereadores propuseram redirecionar parte dos R$ 710 milhões aprovados para obras em março deste ano para a saúde pública.

“Existe a legalidade para fazermos um remanejamento do uso do dinheiro já aprovado por esta Casa, porque o dinheiro já está à disposição, já está em caixa. Podemos fazer o remanejamento e ao invés de gastar com cimento, gastar com vidas? Então essa é a nossa ideia de montarmos um comitê para saber se teremos a legalidade para poder fazer. Para que a Prefeitura de Goiânia possa ter uma alternativa para a resolução desse problema imediato. Esta Casa aprovou o projeto com um fim”, defendeu o vereador Thialu Guiotti (Avante) durante a sessão.

Anselmo Pereira (MDB) também reforçou a necessidade de priorizar a saúde. Um comitê composto por diversos vereadores deve ser formado para auxiliar na contenção da crise na Saúde. 

"Existe a legalidade de transformarmos o fim das obras em prol da saúde? Se existir, esta Câmara, acredito eu, estará pronta para aprovar esse remanejamento. Nós queremos apoiar uma ação conjunta para que o dinheiro parado seja aplicado imediatamente para otimizar UTIs e, ao mesmo tempo, fazer com que a rede principal básica dê uma assistência fundamental à saúde do município”, declarou.

Mabel defende fortalecimento dos PSFs para evitar colapso (Foto: Divulgação)
Atenção básica
A reportagem do jornal A Redação apurou que o fortalecimento da atenção básica tende a ser uma das prioridades. O tema já foi destacado pelo prefeito eleito Sandro Mabel em algumas oportunidades.

"A saúde começa na ponta, e é lá que vamos agir. O fortalecimento dos Programas de Saúde da Família (PSFs) será essencial para evitar que o sistema entre em colapso", explicou Mabel. Ele também defendeu o aumento da eficiência nas unidades básicas de saúde para prevenir casos que evoluam para situações críticas.

Programas como o Saúde da Família devem ser reorganizados para oferecer atendimento preventivo e reduzir a sobrecarga nas urgências e emergências.

"A atenção básica é essencial para evitar que pacientes cheguem em condições graves às UTIs. Precisamos de médicos capacitados, insumos e infraestrutura nas unidades básicas de saúde", explicou Sheila Ferro.

Ainda assim, o desafio é imenso. Com dívidas acumuladas, falta de insumos e a ausência de um hospital municipal, a nova gestão terá que lidar com problemas que se arrastam há anos. "Estamos de portas abertas para colaborar e monitorar as ações. A saúde dos goianienses não pode mais esperar", argumentou Sheila Ferro.

Atualmente, Goiânia conta com 312 leitos contratados para o atendimento de pacientes, mas 20 desses leitos estão bloqueados devido à falta de pagamento. A distribuição dos pacientes entre essas unidades depende de diversos fatores, como a natureza da doença e a capacidade técnica dos hospitais.

Sheila Soares Ferro elogiou a parceria entre as gestões atual e futura com o estado, mas destacou que as ações precisam ser rápidas. "A vida não espera. Não podemos lidar com burocracia ou soluções morosas. Temos vidas em jogo", declarou.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere que a proporção ideal de leitos de UTI seja de 1 a 3 para cada 10 mil habitantes. Em Goiânia, essa proporção ultrapassa os 3 leitos por 10 mil habitantes, o que, teoricamente, indica uma quantidade adequada de leitos.

No entanto, devido à alta demanda e à carência de infraestrutura em algumas unidades, essa quantidade ainda se mostra insuficiente para atender a todas as necessidades da população.

Caiado lança medidas sem custo fiscal para acelerar desenvolvimento de Goiás
Para Caiado, falta confiança entre prestadores e prefeitura (Foto: Secom) 

Estado
Para o governador Ronaldo Caiado, um dos maiores desafios da saúde pública em Goiânia é a falta de confiança entre a Prefeitura e os prestadores de serviços. "O problema não está na falta de recursos ou de legislação, mas na credibilidade. Os hospitais precisam ter a certeza de que serão devidamente remunerados", afirmou Caiado em entrevista coletiva nesta terça (26).

Como parte das ações emergenciais, o governo estadual trabalha para restabelecer essa relação de confiança e ampliar a oferta de leitos na rede pública. "Estamos determinados a encontrar soluções rápidas para evitar novas mortes", reforçou Caiado.

Ronaldo Caiado (UB), destacou que um dos grandes entraves para a recuperação do sistema é a falta de credibilidade da Prefeitura junto aos fornecedores e hospitais. "O problema não está na falta de recursos ou legislação, mas na ausência de confiança. Precisamos restabelecer essa relação para que os serviços sejam retomados com qualidade", afirmou.

Caiado garantiu que o estado está mobilizado para ajudar Goiânia a superar a crise, orientando o secretário estadual de Saúde, Rasível dos Reis, a implementar medidas emergenciais. Entre as ações anunciadas estão a ampliação de leitos e a regularização de repasses às unidades conveniadas. "Estamos focados em salvar vidas e garantir o atendimento que a população merece", declarou.

Presidente do Cremego defende reestruturação da atenção básica (Foto: Divulgação)
Outros problemas
Sheila Ferro apontou problemas estruturais e administrativos que agravam a crise, como o atraso no pagamento de médicos e a falta de insumos básicos.

"Em unidades como o Cais de Campinas, faltam medicamentos simples, como dipirona e anti-inflamatórios, além de técnicos de enfermagem para aplicar medicações prescritas pelos médicos. Isso é inadmissível", afirmou.

Para ela, a solução passa pela abertura de novos leitos, mas também por uma reestruturação completa da atenção básica.
"Precisamos de pediatras em todas as unidades, equipes completas, insumos e ambulâncias para garantir o transporte adequado dos pacientes", ressaltou.

Em nota enviada à imprensa, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirmou que a falta de leitos de UTIs "é um problema enfrentado por muitos municípios brasileiros" e ressaltou que "Goiânia conta com quase 200 leitos".

A SMS também informou que recentemente repassou R$ 1,7 milhão à Santa Casa de Misericórdia para a abertura de mais 20 leitos. A Secretaria destacou ainda que a questão foi discutida em uma reunião no domingo entre o secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, o secretário estadual de Saúde, Rasível dos Reis, e o prefeito eleito, Sandro Mabel, com o objetivo de buscar soluções para a crise.

Leia mais:
Saúde de Goiás e equipe de Mabel definem soluções para crise das UTIs



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