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gestão de resíduos sólidos

Aterro Sanitário de Goiânia opera no limite e exige soluções urgentes

Cenário é preocupante; entenda | 27.12.24 - 08:00 Aterro Sanitário de Goiânia opera no limite e exige soluções urgentes (Foto: SEMAD)Samuel Straioto

Goiânia - Goiânia, a jovem capital do Cerrado, se aproxima de seu centenário em 2033 enfrentando um dos maiores desafios ambientais de sua história: o esgotamento do Aterro Sanitário. Com projeções que indicam pouco mais de 10 anos de vida útil restante, o cenário exige ações urgentes para evitar um colapso no sistema de gestão de resíduos sólidos.

“O aterro sanitário não pode ser tratado como uma solução definitiva. Ele é parte de um sistema que precisa ser mais eficiente, integrado e sustentável. Se não pensarmos além do simples descarte, a cidade vai enfrentar uma crise ambiental muito antes do seu centenário”, alertou Antônio Pasqualetto, professor da PUC Goiás e especialista em sustentabilidade urbana, em entrevista ao jornal A Redação.

Atualmente, Goiânia gera aproximadamente 1,5 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. Deste total, 60% são resíduos orgânicos, enquanto a taxa de reciclagem mal atinge 3%. Essa combinação de fatores, aliada à pressão causada por grandes geradores de lixo, coloca o aterro sanitário no centro de um debate que vai muito além do descarte de resíduos: trata-se de planejar o futuro da cidade.

O histórico e os fatores de saturação do aterro
O Aterro Sanitário de Goiânia foi inaugurado em 1992 com uma vida útil inicial estimada em 20 anos. Desde então, intervenções técnicas, como a ampliação das células de disposição e a compactação dos resíduos, prolongaram sua capacidade. No entanto, o crescimento populacional e as práticas inadequadas de gestão aceleraram sua saturação.

“O modelo adotado na década de 1990 já não atende à realidade atual. Goiânia passou de pouco mais de 1 milhão de habitantes para quase 1,7 milhão em 2023, sem uma evolução proporcional na gestão de resíduos. Continuamos depositando quase tudo no aterro, sem investir de forma consistente em reciclagem, compostagem ou reaproveitamento energético”, afirmou Pasqualetto.

Entre os principais fatores que contribuem para a saturação estão:
  • Aumento populacional e econômico: O crescimento da cidade ampliou a geração de resíduos em residências, comércios e indústrias.
  • Baixa adesão à reciclagem: A taxa de 3% está muito abaixo da média ideal para cidades com porte e recursos de Goiânia.
  • Falta de políticas de compostagem: Com mais da metade dos resíduos sendo orgânicos, a ausência de usinas de compostagem contribui para a sobrecarga do aterro.
  • Grandes geradores de resíduos: Cerca de 2 mil estabelecimentos em Goiânia, como hospitais e shoppings, são responsáveis por volumes expressivos de lixo, muitas vezes descartado de forma inadequada.
Desafios ambientais e os custos do descaso
O colapso do aterro sanitário de Goiânia representaria não apenas um problema logístico, mas também ambiental e econômico. Estudos da Abrema alertam que aterros saturados geram riscos como:
  • Contaminação do solo e das águas subterrâneas: O chorume gerado pela decomposição dos resíduos pode infiltrar-se no solo e atingir lençóis freáticos.
  • Emissão de gases poluentes: A decomposição anaeróbica dos resíduos produz metano, um gás de efeito estufa 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono.
  • Custos para transporte e disposição em outros aterros: A logística de transporte para aterros particulares na região metropolitana poderia dobrar os gastos municipais com resíduos.
“Se o aterro chegar ao colapso, o custo de construção de um novo espaço pode superar R$ 50 milhões, sem contar as despesas operacionais e o impacto ambiental de uma solução emergencial”, afirmou Pasqualetto.

Além disso, o professor destacou a importância de monitorar o aterro mesmo após seu encerramento. “O aterro continuará emitindo gases e chorume por décadas. Esse monitoramento é essencial para evitar danos ambientais de longo prazo”, explicou.

Soluções sustentáveis e o papel da compostagem
Especialistas apontam que a sustentabilidade é o caminho para prolongar a vida útil do aterro e reduzir seus impactos. A instalação de uma usina de compostagem, por exemplo, poderia reduzir em até 60% o volume de resíduos destinados ao aterro.

“Compostagem é uma solução prática e eficiente. Além de diminuir a quantidade de resíduos orgânicos no aterro, ela permite a produção de adubo, que pode ser usado na agricultura urbana ou vendido para produtores rurais. Goiânia precisa urgentemente de um projeto de compostagem em larga escala”, destacou Luiz Antunes, ambientalista e especialista em resíduos sólidos.

A reciclagem também é um ponto crucial. O envolvimento de cooperativas de catadores e o incentivo à separação de materiais recicláveis nas residências são medidas que podem ampliar a taxa de reaproveitamento, atualmente estagnada.

“Reciclar não é apenas uma questão ambiental, mas também social e econômica. As cooperativas já fazem muito com poucos recursos. Com mais apoio governamental e parcerias público-privadas, esse setor pode se tornar um pilar da gestão de resíduos em Goiânia”, afirmou Antunes.

O papel dos grandes geradores e a responsabilidade compartilhada
Cerca de 2 mil grandes geradores de resíduos em Goiânia, como hospitais, supermercados e indústrias, têm responsabilidade direta na sobrecarga do aterro. Apesar das leis que obrigam esses estabelecimentos a gerenciar seus próprios resíduos, a fiscalização ainda é limitada.

“Os grandes geradores precisam adotar práticas mais sustentáveis, como a separação correta, a contratação de empresas especializadas em reaproveitamento e o uso de tecnologias para reduzir o volume de lixo. O município também precisa ser mais rigoroso na fiscalização e criar incentivos para quem adotar medidas adequadas”, afirmou Pasqualetto.

Preparação para o centenário de Goiânia
Com o centenário da cidade a menos de 10 anos, o destino do aterro sanitário é uma questão emblemática para o planejamento do futuro de Goiânia. Pasqualetto ressaltou que a celebração deve ser vista como um marco para a transformação ambiental da capital.

“O centenário de Goiânia pode ser uma oportunidade de virada. Temos as ferramentas e os recursos para implementar um modelo de gestão sustentável, mas precisamos de vontade política e engajamento social. Não se trata apenas de prolongar a vida útil do aterro, mas de redefinir nossa relação com os resíduos”, concluiu.

Para isso, especialistas sugerem um conjunto de ações prioritárias, que incluem:
  • Aumento na reciclagem e na compostagem.
  • Fiscalização mais rigorosa de grandes geradores.
  • Parcerias público-privadas para modernização do sistema de gestão.
  • Criação de um plano metropolitano de resíduos, integrando municípios vizinhos.
Histórico e sucateamento do Aterro Sanitário de Goiânia
O Aterro Sanitário de Goiânia, inaugurado em 1993, foi projetado para ser um marco na gestão de resíduos sólidos, substituindo o antigo lixão a céu aberto. À época, ele representava um avanço significativo em termos de tecnologia e sustentabilidade. Contudo, mais de três décadas depois, o aterro opera em condições preocupantes, com infraestrutura desgastada e desafios cada vez maiores para atender à demanda crescente.

Estudos recentes apontam que equipamentos essenciais para o funcionamento do aterro, como as bombas de chorume, frequentemente apresentam falhas devido à falta de manutenção preventiva. Em 2023, problemas com caminhões de coleta e unidades de transbordo expuseram as dificuldades enfrentadas pela Comurg na gestão operacional.

“Esses problemas são consequência de anos de sucateamento e falta de investimentos consistentes. A gestão do aterro precisa de recursos, tanto financeiros quanto técnicos, para garantir sua operação segura e eficiente”, destacou o ambientalista Luiz Antunes.

Além disso, a Associação Brasileira de Empresas de Resíduos Sólidos e Meio Ambiente (Abrema) alertou para os riscos de acidentes no aterro, especialmente relacionados ao acúmulo de gases inflamáveis como o metano. Esses gases, quando não captados adequadamente, podem gerar explosões ou vazamentos que comprometem a segurança do local e o meio ambiente.

Um modelo que precisa de renovação
O aterro enfrenta também o desafio de se adaptar a novas exigências ambientais. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, reforçou a necessidade de integrar tecnologias mais avançadas, como a captação de biogás e o reaproveitamento de resíduos orgânicos para geração de energia. No entanto, Goiânia ainda está distante de incorporar essas soluções de maneira abrangente.

“O aterro precisa passar por uma modernização completa. Isso inclui a atualização de tecnologias, o fortalecimento do controle ambiental e a implementação de práticas que reduzam a dependência desse modelo de descarte. É possível transformar o aterro de Goiânia em um exemplo de gestão sustentável, mas isso exige comprometimento e planejamento estratégico”, concluiu Pasqualetto.
 


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