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Eleições 2026

Crises e rupturas expõem limites e futuro incerto das federações partidárias

Partidos reavaliam alianças federadas | 20.04.25 - 07:56 Crises e rupturas expõem limites e futuro incerto das federações partidárias (Foto: divulgação)
Samuel Straioto
 
Goiânia - Criadas em abril de 2022, as federações partidárias completam três anos cercadas por crises, rupturas e reavaliações. Com a aproximação das eleições de 2026, partidos começam a redesenhar suas estratégias e indicam que nem todas as federações resistiram ao teste do tempo.
 
Mesmo criadas para garantir estabilidade e superar a cláusula de barreira, federações como PSDB-Cidadania e Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) enfrentam impasses e podem se desintegrar. Dirigentes ouvidos pela reportagem do jornal A Redação apontam falhas, aprendizados e expectativas para novos arranjos.
 
O que são federações partidárias?
As federações partidárias foram instituídas pela Lei nº 14.208/2021 e passaram a vigorar nas eleições de 2022. Diferente das coligações proporcionais, que eram alianças temporárias para fins eleitorais, as federações exigem convivência política e programática contínua por no mínimo quatro anos. Os partidos que aderem ao modelo precisam atuar como uma só legenda em todas as esferas — nacional, estadual e municipal — com estatuto próprio, divisão proporcional de recursos e funcionamento unificado.
 
O objetivo da norma é promover maior estabilidade ao sistema partidário, desestimulando a pulverização de siglas e fortalecendo partidos com afinidade ideológica e programática. Além disso, as federações surgiram como uma saída estratégica para siglas menores que, diante da cláusula de barreira, corriam o risco de desaparecer do mapa político por não atingir desempenho mínimo para acesso a fundo partidário e tempo de propaganda gratuita.
 
Essa cláusula exige que os partidos obtenham ao menos 2% dos votos válidos em nível nacional (subindo para 3% em 2026), além de eleger um número mínimo de parlamentares distribuídos por diferentes estados. Assim, partidos sem base eleitoral robusta passaram a buscar refúgio em federações.
 
No entanto, a convivência forçada entre diferentes estruturas partidárias mostrou-se mais complexa do que o previsto. A gestão conjunta de recursos, as decisões coletivas obrigatórias e os embates internos expuseram limitações práticas do modelo. Em alguns casos, divergências locais minaram o que era proposto como unidade nacional.
 
A cerca de um ano e meio das eleições de 2026, a expectativa é de que novas federações sejam formadas, mas com maior cautela. O Tribunal Superior Eleitoral já avalia mudanças no modelo, como regras mais rígidas para entrada e saída de partidos, além de ajustes que permitam maior equilíbrio na tomada de decisões entre as legendas federadas.
 
Atualmente, existem três federações partidárias registradas no TSE:
Brasil da Esperança: PT, PCdoB e PV;
PSDB-Cidadania;
Psol-Rede Sustentabilidade.
 
PSDB e Cidadania rompem após divergências
A federação formada por PSDB e Cidadania surgiu em 2022 como uma tentativa de manter relevância nacional após resultados eleitorais aquém do esperado nas eleições anteriores. A junção garantiu sobrevida parlamentar às duas siglas, que passaram a atuar juntas no Congresso.
 
Três anos depois, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, avalia que o modelo perdeu a efetividade. "Elegemos bancadas federais e estaduais, repetimos a aliança nas eleições municipais, mas houve muitos desgastes. Em vários municípios, a relação foi conflituosa e a federação não se sustentou", afirmou.
 

Presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo (Foto: divulgação)
 
O PSDB já estuda fusão com o Podemos e avalia outras possíveis federações. Segundo Perillo, é hora de construir alianças com maior afinidade.
 
Por sua vez, Iure de Castro, presidente estadual do Cidadania, reconhece que a parceria teve papel relevante à época, mas que não há mais condições de continuidade. "Foi um instituto importante para organização interna, mas hoje precisamos de mais independência e reposicionamento. A diretriz é seguir novos rumos."


Iure de Castro, presidente estadual do Cidadania (Foto: divulgação)
 
Ele explicou que o partido deve buscar nova federação, com espaço para se posicionar com mais autonomia. "A tendência é compor uma aliança que respeite nossa identidade, com capacidade de diálogo nacional e com perspectiva de futuro."
 
Iure também apontou as dificuldades práticas enfrentadas ao longo da convivência com o PSDB. "Embora a relação tenha sido republicana, havia divergências estratégicas, especialmente em Goiás. O partido precisa agora de um novo momento de reconstrução e de espaço para aprofundar suas pautas próprias."
 
PT defende modelo; PV cobra espaço
A federação Brasil da Esperança, formada por PT, PCdoB e PV, foi idealizada como frente ampla das esquerdas para sustentar a candidatura de Lula em 2022. A parceria garantiu tempo de TV, fundo partidário unificado e desempenho expressivo nas urnas.
 
A presidente estadual do PT, vereadora por Goiânia, Kátia Maria, defende o modelo. "A federação nos obriga a dialogar e a tomar decisões coletivas. Ela amplia a democracia interna e fortalece projetos duradouros."

“PT nunca teve dificuldade em ir sozinho”, diz Kátia Maria sobre as eleições
Presidente estadual do PT,  Kátia Maria (Foto: jornal A Redação)
 
Kátia admite divergências com o PV, mas destaca que a convivência com a base verde foi positiva. "Nem todo mundo pensa igual, mas é possível decidir em conjunto."
 
O presidente estadual do PV, Cristiano Cunha, tem visão distinta. Segundo ele, o partido não teve protagonismo na federação, mesmo tendo sido o primeiro a apoiar Lula. "Fomos excluídos do governo federal. Em Goiás, não temos nenhuma representação. Isso precisa mudar."
 
Cristiano diz que o PV reavaliará sua permanência na federação e já considera buscar outra aliança para 2026.


Presidente estadual do PV, Cristiano Cunha (Foto: divulgação)
 
"O PV não teve espaço nem no governo federal nem localmente. Houve muita expectativa entre os filiados, principalmente pela nossa história de defesa ambiental. Infelizmente, isso não se concretizou", lamentou. Ele também reforçou que há insatisfação generalizada na legenda. "A reclamação é unânime. Em quase todos os estados sentimos a mesma exclusão."
 
Do lado petista, Kátia Maria ressalta que, apesar de impasses pontuais, a relação com o PV foi respeitosa. "Tivemos um bom diálogo com a militância do PV, mesmo quando houve distanciamento da presidência estadual. E isso mostra que é possível construir em conjunto, com escuta e compromisso político."
 
Ela reforça ainda que, para o PT, o valor da federação está na construção estratégica para além da conjuntura eleitoral. "Não se trata apenas de números, mas de compartilhar um projeto de país com quem está disposto a caminhar coletivamente."
 
Benefícios e limitações do modelo
Entre os principais benefícios das federações está a garantia de tempo de propaganda e fundo partidário somado, além da possibilidade de reunir forças com interesses comuns em um mesmo bloco. Em tese, o modelo também promove estabilidade e compromissos políticos mais duradouros.
 
Por outro lado, as federações obrigam os partidos a manterem atuação conjunta por quatro anos. Isso limita a autonomia, gera conflitos internos e, em muitos casos, provoca rupturas.
 
A criação de um estatuto próprio da federação, com instância deliberativa nacional e regras internas de convivência, também exige um nível de organização e consenso que muitas siglas não estavam acostumadas a praticar.
 
Novas federações no horizonte
Mesmo com os impasses atuais, a formação de novas federações está em curso. O Solidariedade, por exemplo, já articula alianças para 2026 com o objetivo de garantir sobrevivência política. Outros partidos menores também analisam essa alternativa para escapar das exigências da cláusula de barreira.
 
A cerca de um ano e meio do pleito, os dirigentes partidários demonstram que a federação ainda é vista como ferramenta viável — desde que construída com base em projetos comuns, diálogo efetivo e respeito à diversidade interna de posições.
 
Panorama das federações

Federação Partidos Situação atual Expectativa para 2026
Brasil da Esperança PT, PCdoB, PV Em funcionamento PV pode sair; PT e PCdoB devem manter
PSDB-Cidadania PSDB, Cidadania Dissolução em andamento PSDB mira fusão; Cidadania busca nova federação
Psol-Rede Psol, Rede Ativa Deve continuar unida
 


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