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ENTREVISTA

Karla Emmanuela propõe gestão democrática e descentralizada na UFG

Registro de chapas ocorre em 20 e 21/05 | 13.05.25 - 09:42 Karla Emmanuela propõe gestão democrática e descentralizada na UFG Karla Emmanuela (Foto: divulgação/UFG)
Samuel Straioto
 
Goiânia - Com discurso crítico à centralização administrativa e à distância entre a reitoria e os desafios reais da comunidade acadêmica, a professora Karla Emmanuela Ribeiro Hora se coloca como pré-candidata à Reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG). O processo tem início oficial com o registro das chapas nos dias 20 e 21 de maio.
 
Atuando há 15 anos como docente da UFG, Karla apresenta uma proposta de gestão alternativa à do grupo que comanda a universidade há cerca de duas décadas. A candidatura é marcada pela defesa da assistência estudantil, da escuta ativa e de uma reestruturação profunda na forma de aplicar os recursos e definir as prioridades institucionais, com base em uma vivência intensa no cotidiano da universidade.
 
Ao lado do professor Eliomar Pereira, Karla integra uma candidatura que se apresenta como um contraponto à lógica administrativa dominante na UFG desde o início dos anos 2000.
 
A chapa propõe uma mudança estrutural na governança da universidade, com foco na transparência, descentralização das decisões e fortalecimento da democracia interna.
 
Diálogo
Para ela, a UFG precisa retomar o diálogo com quem constrói a instituição diariamente: estudantes, técnicos e professores. Mais do que disputar uma eleição, a professora defende uma reformulação do modelo de gestão, com prioridade para políticas de permanência estudantil, melhorias estruturais, enfrentamento do esgotamento institucional e reconexão da Reitoria com a realidade concreta da universidade.
 
Karla enfatiza que sua trajetória profissional foi construída dentro da universidade pública, conciliando, ao longo dos anos, ensino, pesquisa, extensão e gestão. “Eu sou professora há 15 anos na UFG. Nunca saí da sala de aula. Ao mesmo tempo em que dava aula, fui coordenadora de curso, vice coordenadora, coordenei programas de pós-graduação e fui diretora de unidade acadêmica”, relata.
 
Essa vivência, segundo ela, é o que dá legitimidade à sua candidatura. “Eu sei a dificuldade que é conseguir transporte para levar alunos em atividades de campo. Eu vivo a burocracia de conseguir executar um projeto de pesquisa. Eu vejo de perto o sofrimento dos estudantes que não têm onde morar ou o que comer dentro da universidade.”
 
Ao lado do professor Eliomar, a professora apresenta uma chapa que nasce da percepção de que a UFG precisa de novos rumos. “A universidade cresceu muito, isso é inegável. Mas esse crescimento não foi consolidado. É como se tivéssemos ampliado a planta de um prédio sem garantir o alicerce. Isso precisa ser revisto com urgência.”
 
 “É hora de cuidar do que já temos”
Karla dedica parte importante de sua crítica ao que ela chama de “crescimento desorganizado” da UFG nos últimos 15 anos. A expansão promovida pelo ReUni, embora positiva em muitos aspectos, deixou um passivo estrutural profundo. “Temos cursos e campi criados há mais de dez anos que ainda não têm infraestrutura adequada para funcionar plenamente”, denuncia.
 
Ela cita como exemplo a Regional Goiás, onde os estudantes ainda não contam com uma casa de estudante e enfrentam problemas frequentes no restaurante universitário. “Parte da estrutura ainda funciona em prédio alugado, com insalubridade. É uma realidade inaceitável para uma universidade do porte da UFG.”
 
O Campus Aparecida de Goiânia, com 10 anos de existência, ainda sofre com a precariedade do transporte estudantil. “Os alunos têm dificuldade para chegar. A mobilidade é um problema real. Isso impacta diretamente no rendimento acadêmico e na permanência”, aponta. Além disso, cursos criados nos últimos anos ainda não têm seus laboratórios implementados. “É como se tivéssemos cursos incompletos. Isso gera frustração e desânimo.”
 
Contradições
Apesar das adversidades, a UFG é uma das universidades mais bem avaliadas do país. Para Karla, isso não é mérito da Reitoria, mas sim das pessoas que estão na linha de frente. “A avaliação de excelência é dos cursos, dos professores, dos técnicos e dos estudantes. São eles que fazem essa universidade funcionar.”
 
Ela lembra que as pesquisas seguem sendo produzidas, muitas vezes com esforço individual dos docentes que buscam financiamento externo. “A gente se vira para captar recursos. A universidade podia apoiar mais, mas a gestão é lenta, burocrática e distante das necessidades reais.”
 
A extensão, por sua vez, é apontada como a área mais prejudicada. “Falta transporte, falta apoio, falta visibilidade. A extensão é onde a universidade se conecta com a sociedade. Quando isso enfraquece, todo o papel social da UFG fica comprometido.”
 
Gestão distante
Com mais de 20 anos no poder, o grupo que comanda a Reitoria da UFG teria, segundo Karla, perdido a capacidade de ouvir, dialogar e inovar. “A gestão se acostumou com o próprio modelo. Ela apenas reinventa o que já conhece. Não se abre para o novo, não enxerga o que está fora da sua bolha.”
 
Ela relata que há um cansaço institucional evidente, agravado após o retorno do ensino presencial no pós-pandemia. “Os técnicos voltaram esgotados, os professores sobrecarregados, e a gestão simplesmente ignorou isso. Houve pouco acolhimento, nenhuma escuta. Isso adoece a universidade.”
 
A professora defende uma gestão horizontal, participativa e presente. “Queremos abrir canais de escuta permanentes, com conselhos ativos, reuniões públicas e decisões compartilhadas. A universidade precisa voltar a ser de todos.”
 
Evasão estudantil
A evasão estudantil é um dos temas mais sensíveis da campanha. Karla aponta que a UFG preenche hoje apenas cerca de 70% de suas vagas. E entre os estudantes que ingressam, muitos desistem no meio do caminho. “Tem algo errado quando uma universidade pública, gratuita e de qualidade tem vagas ociosas. Isso revela um problema de gestão.”
 
Segundo ela, a política de cotas foi um avanço importante, mas os estudantes que entram por esse sistema não encontram apoio suficiente para permanecer. “Falta moradia, falta alimentação, falta atendimento psicológico e médico. Isso faz com que muitos abandonem o curso sem conseguir terminar.”
 
Ela defende que a assistência estudantil seja tratada como prioridade máxima na próxima gestão. “Precisamos cuidar das pessoas. Permanência é tão importante quanto o acesso. Não adianta abrir as portas se as condições para ficar não existem.”
 
Recursos
Karla reconhece que o Brasil enfrentou um ciclo de desfinanciamento da educação pública, especialmente entre 2016 e 2022. Mas ela afirma que, mesmo em tempos de crise, é possível fazer escolhas mais eficientes. “A gestão precisa saber priorizar. E hoje, a prioridade é gente: estudantes, técnicos, professores.”
 
Ela cita o exemplo da PNAES (Política Nacional de Assistência Estudantil) que teve aumento recente de recursos. “O dinheiro chegou, mas onde ele está sendo aplicado? Falta transparência. Falta discussão com as unidades. Os diretores não sabem para onde vai o orçamento. Isso precisa mudar.”
 
Para Karla, a má aplicação dos recursos revela um modelo de gestão centralizado e opaco. “Mesmo com poucos recursos, é possível fazer mais. Mas é preciso escutar a base, dialogar com quem está na sala de aula, no laboratório, no campo. Só assim conseguimos aplicar melhor o que temos.”
 
Participação direta
Outro ponto crucial da candidatura é a defesa da democratização do processo de escolha da reitoria. Hoje, a consulta à comunidade — organizada pelos sindicatos — é apenas indicativa. A decisão final é do Conselho Universitário, que monta uma lista tríplice a ser enviada ao MEC. “Isso esvazia a participação da comunidade. Queremos mudar isso”, diz Karla.
 
Para ela, o ideal seria acabar com a lista tríplice e tornar a consulta direta e com voto paritário entre os segmentos. “Se os Institutos Federais já fazem isso, por que a UFG não pode? A comunidade sabe escolher. É preciso confiar nela.”
 
A professora também critica o fato de a própria universidade não promover o debate institucional. “A TV UFG, o Jornal UFG, a Rádio Universitária deveriam estar discutindo esse processo, mas tudo é deixado para os sindicatos. Isso enfraquece a democracia interna.”
 
Mobilização
Até os dias 20 e 21 de maio, Karla e sua equipe seguem em intensa mobilização para divulgar a pré-candidatura. “Estamos fazendo lives, visitando os campi, falando com estudantes, distribuindo material. Muita gente nem sabe como funciona o processo de escolha da reitoria. Nosso primeiro papel é informar.”
 
Ela explica que a consulta à comunidade acontece antes da votação no Consuni, e que isso, por não estar previsto em norma oficial, limita o impacto do voto da comunidade. “A gente espera sair vitorioso da consulta. Mas o trabalho maior é fortalecer a própria consulta como instrumento legítimo. Isso precisa ser debatido com o Governo Federal.”
 
Karla também ressalta a importância de debater a UFG como uma universidade pública que precisa ser valorizada. “Estamos entre as 3% melhores do país. Temos mais de 30 mil pessoas aqui dentro. É hora de fazer com que essa grandeza se reflita também na forma como escolhemos nossos dirigentes.”
 
Desafios
Karla sabe que sua candidatura enfrenta uma estrutura consolidada. “É difícil romper com 20 anos de poder. Mas há um sentimento de mudança muito forte na universidade. E é nisso que a gente acredita.”
 
Ela afirma que sua proposta não é de ruptura pela ruptura, mas de reconstrução com responsabilidade. “Queremos devolver a UFG para a sua comunidade. A universidade precisa voltar a ser de quem vive nela, não só de quem a administra.”
 
Para a professora, o mais importante não é apenas vencer a eleição, mas fortalecer o debate institucional. “Queremos acender de novo o senso de pertencimento, de engajamento, de cuidado com a universidade pública. Esse é o nosso maior projeto.”
 
A pré-candidata pretende levar a fundo a proposta de reestruturação do sistema de assistência estudantil, a melhoria da infraestrutura dos campi mais recentes, a modernização administrativa e o fortalecimento dos canais de escuta. “Queremos uma universidade mais eficiente, mais próxima e mais humana.”
 
Ela propõe ainda revisar todos os fluxos burocráticos que travam o funcionamento da pesquisa, da extensão e do ensino. “Temos que eliminar etapas desnecessárias, digitalizar processos, simplificar rotinas. Isso poupa tempo e melhora a vida de quem faz a universidade.”
 
Por fim, defende uma política de expansão responsável. “Não somos contra novos campi, como o da Cidade Ocidental. Mas antes de crescer, é preciso cuidar do que já existe. Expandir sem consolidar é repetir os erros do passado.”

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