A Redação
Goiânia - Um novo documentário que começou a ser gravado nesta segunda-feira (23/6), em Orizona, lançará luz sobre uma das atividades mais importantes para a economia e a identidade do Centro-oeste: a produção de leite. A responsável pela pesquisa e pelo filme é a Skambau Produções, convidada por um esforço conjunto da Secretaria Municipal de Educação de Orizona e de parceiros como o Sindicato Rural de Orizona, entre outros. O filme destaca práticas sustentáveis na produção leiteira, a valorização do campo e a integração desse trabalho na rede de educação municipal.
De forma sensível e educativa, o material demonstra que a produção leiteira não é apenas um processo técnico, mas uma construção coletiva que envolve gerações e que depende, cada vez mais, de responsabilidade e conservação ambiental. Quem explica é Rônia Vaz, coordenadora do projeto pela Secretaria Municipal de Educação. “Os protagonistas dessa história são os produtores de leite e suas famílias, junto com os alunos da Educação Infantil ao 9º ano, professores, coordenadores, diretores e toda a comunidade escolar”. A ideia, segundo ela, é que o público conheça de perto como o leite é produzido em Orizona, quais as práticas sustentáveis já existem e como essa atividade se tornou a principal fonte da economia local.
A escolha das fazendas, pessoas e locais retratados no documentário seguiu critérios pedagógicos e comunitários. “Nada foi aleatório. Selecionamos histórias reais que nasceram do planejamento pedagógico municipal e se estendem na realidade em sala de aula com os alunos. Nas gravações temos famílias que vivem a atividade leiteira no dia a dia e que têm muito a ensinar com sua experiência”, ressalta Rônia.
Segundo ela, o maior desafio foi transformar uma abordagem técnica em algo didático e acessível. “Queremos que o documentário alcance quem assiste, não apenas informe. Por isso, mostraremos o cotidiano dessas famílias com imagens e depoimentos verdadeiros que evidenciam o compromisso com a sustentabilidade.”
Nascimento do projeto
A proposta surgiu no contexto da inscrição e participação do município no Prêmio Agrinho 2025, que neste ano traz como tema “O protagonismo verde construindo um futuro sustentável”. A conexão com a produção leiteira de Orizona foi imediata. “É a atividade mais relevante do nosso município. E nada mais coerente do que alinhar o trabalho pedagógico com a realidade local.”
Rônia, que é casada com um produtor de leite, conta que o sentimento é de uma missão pessoal. “Um mundo melhor começa pelo nosso próprio lugar. E foi exatamente isso que tentamos mostrar, que a transformação começa em casa, no campo, na escola, na sala de aula e no coração da nossa comunidade.”
Reflexo nacional
O que se vê em Orizona é, na verdade, um reflexo do que move o Brasil rural. O país é o terceiro maior produtor de leite do mundo e a atividade está presente em quase 99% dos municípios brasileiros, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com mais de 70% da produção concentrada em pequenos e médios produtores, a cadeia do leite representa uma das principais fontes de emprego e renda no campo. Ao retratar a rotina de quem vive essa realidade em Orizona, o documentário evidencia temas que são de interesse nacional: sustentabilidade, tecnologia, inovação, educação e valorização da produção local, pilares essenciais para o presente e o futuro do Brasil agropecuário.
Orizona possui destaque regional na produção de leite, especialmente na microrregião da Estrada de Ferro. De acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM) 2023, do IBGE, Orizona produziu cerca de 43 milhões de litros de leite em 2022, o que a coloca entre os 25 maiores produtores de leite de Goiás. Em Orizona há destaque na organização de cooperativas de leite e agroindústrias locais. Há o crescimento da produção leiteira com apoio de políticas públicas, incentivos à agricultura familiar e programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além disso, ressalta-se que a qualidade do leite e os investimentos em produção sustentável fazem com que o município se destaque por modelos inovadores de produção e volume.
Pertencimento
Também participando da produção, Geovando Vieira Pereira, engenheiro agrônomo, produtor de leite há mais de 30 anos, presidente do Sindicato Rural de Orizona e da Cooperativa estadual de produtores, vê no documentário uma forma de reconhecimento do potencial agropecuário da cidade e uma ferramenta de conscientização.
“O sentimento que queremos despertar é de pertencimento e respeito à atividade rural”, afirma o produtor rural, destacando que as histórias mostradas são exemplos reais de crescimento com apoio técnico, esforço e continuidade. “A pessoa que não tem envolvimento com o meio rural depende, diretamente, do alimento que consome. Este documentário mostra de onde vem esse alimento, seu valor, a qualidade e como é produzido. É uma oportunidade de entender e valorizar o campo.”
Com uma trajetória inteiramente ligada à agropecuária, Geovando resume: “Vim do meio rural. Toda minha formação foi na área agrícola. Hoje, poder colaborar com a educação, vendo o envolvimento das crianças, professores e famílias, é muito gratificante”, destaca. “Que a nova geração continue valorizando o campo e as atividades agropecuárias”, acrescenta.
Luz, câmera e ação
À frente direção e produção do documentário, Manoela Barbosa, Doutora em Ciências Ambientais e fundadora da Skambau Produções, reforça o papel do audiovisual como instrumento de transformação e pertencimento. “Há anos construímos uma trajetória que valoriza o Cerrado e as comunidades. Tenho minhas raízes e família em Orizona. Aqui recebi educação pública de qualidade, afeto e orientação para me tornar a mulher e profissional que sou hoje. Aqui realizamos projetos com coletivos culturais e escolas do município há mais de 10 anos e por isso, estou grata pelo convite para documentar essa realidade com a nossa equipe. O convite é um reconhecimento ao nosso trabalho, confiança no que desenvolvemos, uma honra e um desafio”.
Foram três meses de preparação e mais dois de pós-produção, com uma abordagem baseada em escuta, pesquisa, alinhamentos e construção coletiva com embaixadores do projeto em cada escola e com a coordenação do projeto. “Trata-se de um processo cuidadoso, representativo e que dialoga diretamente com a identidade do município.”
Segundo Manoela, o documentário busca sensibilizar pela força do cotidiano: “Nosso objetivo é mostrar a produção do leite como parte de uma cadeia de transformação de vidas, onde conhecimento popular e inovação tecnológica andam juntos”, aponta. “A sustentabilidade está nos pilares ambiental, social e econômico, e isso se revela no dia a dia das pessoas”, completa.
A Skambau, que já produziu quatro documentários e está desenvolvendo outros dois projetos em fase de pesquisa, também celebra o convite como um marco. “Esse curta traz o protagonismo das pessoas do campo e revela as inúmeras nuances que tornam o leite um produto de qualidade, da produção até chegar aos centros urbanos e aos lares brasileiros.”
O lançamento está previsto para o dia 05 de agosto, na abertura e retomada da Festa do Leite de Orizona. Um evento tradicional, que esteve paralisado nos últimos 05 anos. A exibição acontecerá no telão central do evento, com exibição gratuita e aberta ao público.
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