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Goiás é o 6º Estado que mais gasta com divulgação parlamentar

Deputados federais goianos usam 51% da cota | 13.07.25 - 08:00 Goiás é o 6º Estado que mais gasta com divulgação parlamentar Plenário da Câmara dos Deputados (Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil.)
Samuel Straioto
 
Goiânia - Goiás é o sexto Estado que mais gasta com divulgação da atividade parlamentar na Câmara dos Deputados. Dos R$ 3,37 milhões da cota parlamentar usados pelos 17 deputados federais goianos, R$ 1,72 milhão, representando 51,24% do total, foi destinado exclusivamente a esse fim. Trata-se de percentual 11,42 pontos acima da média nacional de 39,82%.
 
A bancada goiana fica atrás apenas do Amapá (63,02%), Distrito Federal (59,75%), Acre (57,72%), Maranhão (53,53%) e Paraíba (52,34%) no ranking de Estados que mais priorizam gastos com divulgação parlamentar. O dado revela uma estratégia comum entre deputados do Centro-Oeste e Nordeste de investir massivamente em comunicação e marketing político.
 
No cenário nacional, apenas oito unidades da federação destinam mais de 50% da cota parlamentar para divulgação, colocando Goiás em um seleto grupo de Estados que priorizam investimentos em comunicação. O percentual contrasta com Estados como Rio Grande do Sul (26,50%), Santa Catarina (27,83%) e Piauí (31,09%), que mantêm gastos com divulgação abaixo da média nacional.
 
Concentração de recursos em comunicação política
Entre os deputados goianos, Glaustin da Fokus (Pode) lidera os gastos individuais com divulgação, tendo destinado R$ 168.670 para esta finalidade, o que representa 73% de todos os seus gastos com a cota parlamentar. Dr. Ismael Alexandrino (PSD) aparece em segundo lugar com R$ 159.160, seguido por José Nelto (União) com R$ 139.300.
 
Outros parlamentares que se destacam nos gastos com divulgação são Lêda Borges (PSDB) com R$ 128.800, Célio Silveira (MDB) e Flávia Morais (PDT), ambos com R$ 125 mil, e Rubens Otoni (PT) com R$ 119.100. Jeferson Rodrigues (Republicanos) utilizou R$ 166.300, o segundo maior valor absoluto da bancada.
 
A análise dos dados revela que 12 dos 17 deputados goianos destinam mais de 50% de suas cotas individuais para divulgação parlamentar, indicando uma estratégia generalizada de investimento em comunicação política. Professor Alcides (PL) destoa do padrão, utilizando apenas R$ 87.300 (35,4%) para divulgação, priorizando gastos com manutenção de escritório e combustíveis.
 
Comparação regional evidencia tendência nacional
A região Centro-Oeste apresenta um padrão consistente de altos gastos com divulgação parlamentar. Além de Goiás (51,24%), Mato Grosso do Sul destina 45,47% da cota para esta finalidade, enquanto Mato Grosso utiliza 42,85%. O Distrito Federal, com 59,75%, lidera a região e ocupa a segunda posição nacional.
 
No Nordeste, quatro Estados figuram entre os dez que mais gastam com divulgação: Maranhão (53,53%), Paraíba (52,34%), Ceará (50,77%) e Alagoas (44,84%). A região Norte também se destaca, com Amapá liderando o ranking nacional (63,02%), seguido por Acre (57,72%) e Roraima (51,24%).
 
Em contrapartida, a região Sul apresenta os menores percentuais de gastos com divulgação parlamentar do país. Rio Grande do Sul (26,50%), Santa Catarina (27,83%) e Paraná (41,02%) ficam abaixo da média nacional, sugerindo estratégias diferenciadas de atuação parlamentar.
 
Comunicação x gestão pública
Para o consultor em gestão pública Dr. Ricardo Tavares, especialista em gastos parlamentares, o alto investimento em divulgação revela uma distorção no uso dos recursos públicos. "Quando mais de 50% da cota parlamentar é destinada à divulgação, temos um indicativo de que o parlamentar está priorizando a promoção pessoal em detrimento de atividades substantivas do mandato", analisa.
 
Tavares explica que a divulgação da atividade parlamentar, embora prevista em lei, deveria ter caráter informativo e educativo, não promocional. "A linha entre informar a população sobre as atividades do mandato e fazer autopromoção é muito tênue. Gastos superiores a 40% da cota com divulgação indicam uso estratégico dos recursos públicos para fins eleitorais", complementa.
 
O especialista destaca que Estados com maior concentração de gastos em divulgação geralmente apresentam menor investimento em estrutura de escritório, assessoria técnica e capacitação parlamentar. "É uma escolha política clara: priorizar a imagem pública em detrimento da qualidade técnica do trabalho parlamentar", pontua.
 
Estratégia eleitoral disfarçada de transparência
A análise dos dados sugere que o alto investimento em divulgação parlamentar está diretamente relacionado ao ciclo eleitoral. Deputados que buscam a reeleição tendem a aumentar significativamente os gastos com comunicação nos dois anos que antecedem as eleições, utilizando a cota parlamentar como ferramenta de marketing político.
 
"A divulgação da atividade parlamentar se tornou um mecanismo legal de financiamento de campanha permanente", avalia o consultor Ricardo Tavares. "Recursos que deveriam ser destinados ao aprimoramento da atividade legislativa são canalizados para a construção de imagem pública dos parlamentares", critica.
 
O fenômeno é mais acentuado em Estados onde a competição eleitoral é mais acirrada ou onde os deputados possuem bases eleitorais menos consolidadas. "Estados como Goiás, que apresentam alta renovação parlamentar, tendem a ter deputados que investem mais em divulgação para se consolidar eleitoralmente", explica o especialista.
 
Impacto na qualidade do trabalho legislativo
A concentração excessiva de recursos em divulgação parlamentar pode comprometer outras dimensões do trabalho legislativo. Deputados que destinam mais de 50% da cota para comunicação tendem a ter menor investimento em capacitação técnica, assessoria especializada e estrutura de escritório.
 
A análise dos dados de Goiás confirma esta tendência. Deputados com maiores gastos em divulgação tendem a ter menor investimento em manutenção de escritório e assessoria técnica, sugerindo uma inversão de prioridades no uso dos recursos públicos.
 
Necessidade de regulamentação mais rigorosa
Especialistas em gestão pública defendem a necessidade de regulamentação mais rigorosa dos gastos com divulgação parlamentar. "É preciso estabelecer critérios mais objetivos sobre o que constitui divulgação da atividade parlamentar e o que configura autopromoção", defende Ricardo Tavares.
 
O consultor sugere a criação de um limite percentual para gastos com divulgação, similar ao que existe para outros tipos de despesas parlamentares. "Um teto de 30% da cota para divulgação seria razoável, forçando os parlamentares a diversificar os investimentos em sua atividade legislativa", propõe.
 
Outra sugestão é a exigência de maior transparência sobre os contratos de divulgação, incluindo a identificação dos beneficiários dos recursos e a natureza específica dos serviços contratados. "Atualmente, a rubrica 'divulgação da atividade parlamentar' é muito genérica e permite usos questionáveis dos recursos públicos", critica.
 
Comparação 
A análise comparativa com outros Estados do país evidencia a distorção nos gastos goianos com divulgação. São Paulo, maior bancada da Câmara, destina apenas 39,51% da cota para divulgação, percentual praticamente igual à média nacional. Minas Gerais utiliza 31,47% e Rio de Janeiro, 36,58%.
 
"Estados com bancadas mais experientes e consolidadas tendem a ter gastos mais equilibrados entre as diferentes categorias da cota parlamentar", observa Ricardo Tavares. "Goiás, com 51,24% destinados à divulgação, está claramente fora do padrão dos grandes Estados", compara.
 
A disparidade sugere que deputados de Estados menores ou com menor tradição política sentem maior necessidade de investir em divulgação para se consolidar eleitoralmente. "É um ciclo vicioso: quanto maior a insegurança eleitoral, maior o investimento em autopromoção", analisa o especialista.
 
Reflexos na representatividade democrática
O alto investimento em divulgação parlamentar pode ter reflexos negativos na qualidade da representação democrática. Deputados que priorizam a imagem pública em detrimento do trabalho legislativo substantivo podem comprometer a eficácia do Poder Legislativo.
 
"Quando um parlamentar gasta mais com divulgação do que com estrutura de trabalho, ele está sinalizando que sua prioridade é a manutenção do cargo, não o exercício qualificado do mandato", avalia Ricardo Tavares. "Isso pode resultar em menor produtividade legislativa e menor capacidade de representação dos interesses da população", alerta.
 
O fenômeno é particularmente preocupante em Estados como Goiás, onde a concentração de gastos em divulgação é significativamente superior à média nacional. "É preciso que a sociedade civil pressione por maior transparência e por limites mais rígidos aos gastos com autopromoção parlamentar", conclui o especialista.

Ranking nacional de gastos com divulgação parlamentar por estado (2025)

Posição

Estado

Valor (R$)

Percentual

Amapá

1.208.101,04

63,02%

Distrito Federal

925.344,81

59,75%

Acre

1.102.298,69

57,72%

Maranhão

1.849.632,54

53,53%

Paraíba

1.581.325,42

52,34%

Goiás

1.727.903,63

51,24%

Roraima

1.152.781,14

51,24%

Ceará

2.508.266,04

50,77%

Rondônia

1.047.463,68

47,88%

10º

Mato Grosso do Sul

967.119,23

45,47%

11º

Alagoas

811.361,12

44,84%

12º

Mato Grosso

721.272,40

42,85%

13º

Paraná

2.478.791,26

41,02%

14º

Pará

1.264.077,16

40,17%

15º

Sergipe

685.587,75

40,14%

16º

Tocantins

685.587,75

40,14%

17º

São Paulo

5.087.266,30

39,51%

18º

Espírito Santo

811.155,65

38,12%

19º

Rio de Janeiro

3.193.795,41

36,58%

20º

Bahia

2.821.806,36

34,69%

21º

Rio Grande do Norte

593.849,23

32,68%

22º

Minas Gerais

3.121.628,81

31,47%

23º

Pernambuco

1.662.045,51

31,44%

24º

Amazonas

540.706,76

31,26%

25º

Piauí

732.603,67

31,09%

26º

Santa Catarina

856.993,63

27,83%

27º

Rio Grande do Sul

1.814.896,82

26,50%

Média Nacional: 39,82%
Total Nacional: R$ 42.066.997,97



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