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Eleições 2026

Filiação partidária envelhece e afasta juventude em Goiás

Homens são maioria entre filiados | 17.08.25 - 08:00 Filiação partidária envelhece e afasta juventude em Goiás (imagem gerada por IA)
Samuel Straioto
 
Goiânia - Os partidos políticos em Goiás enfrentam uma crise de renovação de quadros, com 66,2% dos filiados há mais de uma década nas legendas e predominância de membros acima dos 45 anos. Levantamento feito pela reportagem do jornal A Redação, baseado em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelam que, dos 668.778 filiados no Estado, apenas 0,96% têm entre 16 e 24 anos, enquanto 72,96% estão na faixa etária superior a 45 anos, evidenciando o envelhecimento das estruturas partidárias goianas.
 
O cenário se intensifica quando analisado o tempo de permanência nas legendas: 442.756 eleitores (66,2%) estão filiados há mais de dez anos, contrastando com apenas 3.331 pessoas (0,5%) que se filiaram no último ano.
 
O MDB lidera com 116.309 filiados (17,39%), seguido pelo PSDB com 66.996 (10,02%) e União Brasil com 55.390 (8,28%). Em Goiás, nem o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro figuram entre os três principais partidos em número de filiados, ocupando respectivamente a quinta (48.267 filiados) e sexta posições (46.154 filiados).
 
Hegemonia
O cientista político Felipe Andrade analisa que o fenômeno reflete uma desconexão entre os partidos e as novas gerações de eleitores. “Existe uma cristalização das estruturas partidárias que impede a oxigenação necessária para a democracia representativa. Os jovens não veem nos partidos tradicionais espaços de participação efetiva”, destaca.
 
A distribuição detalhada por faixa etária é ainda mais reveladora: na faixa de 16 a 17 anos, apenas 111 pessoas estão filiadas (0,02%); entre 18 e 20 anos, são 1.290 (0,19%); de 21 a 24 anos, 5.182 (0,77%); e de 25 a 34 anos, 51.874 (7,76%).
 
Em contraste, a faixa dos 45 a 59 anos concentra 236.900 pessoas (35,42%), seguida pelos 60 a 69 anos com 141.838 filiados (21,21%). Os dados mostram que 253.259 filiados (37,87%) têm mais de 60 anos, enquanto apenas 58.457 (8,74%) não chegaram aos 35 anos.
 
Masculinização
O perfil dos filiados também revela predominância masculina, com 362.774 homens (54,24%) contra 305.960 mulheres (45,75%). O sociólogo Geraldo Correia avalia que essa disparidade reflete estruturas patriarcais ainda presentes na política goiana. “A sub-representação feminina nos partidos demonstra que as legendas não conseguiram se adaptar às transformações sociais das últimas décadas, mantendo-se como espaços predominantemente masculinos e conservadores”, observa.
 
Entre as principais legendas, o MDB do vice-governador Daniel Vilela mantém a liderança absoluta com 116.309 filiados, representando quase um quinto (17,39%) de todos os filiados do estado. O PSDB do ex-governador Marconi Perillo, mesmo tendo perdido filiados nos últimos anos, ainda mantém a segunda posição com 66.996 membros (10,02%).
 
O União Brasil, partido do atual governador Ronaldo Caiado, ocupa a terceira colocação com 55.390 filiados (8,28%), seguido pelo PP com 52.954 (7,92%).
 
Estagnação
O tempo médio de filiação revela outro aspecto crítico: dos 668.778 filiados, 442.756 (66,2%) estão nas legendas há mais de uma década, enquanto apenas 140.917 (21,07%) se filiaram nos últimos cinco anos.
 
Os dados mostram que 137.586 pessoas (20,57%) estão filiadas entre um e cinco anos, 85.105 (12,73%) permanecem entre cinco e dez anos, e meros 3.331 (0,5%) se filiaram no último ano - um número que representa menos de 1% do total e evidencia a quase paralisia na captação de novos membros.
 
O cientista político Felipe Andrade considera que essa estagnação compromete a capacidade de renovação das lideranças. “Partidos com filiados muito antigos tendem a reproduzir as mesmas práticas e discursos, perdendo capacidade de inovação e adaptação às demandas contemporâneas. Essa cristalização impede que novas vozes e perspectivas influenciem as decisões políticas”, analisa.
 
O PP aparece na quarta posição com 52.954 filiados, seguido pelo PT com 48.267. O PL, ligado ao ex-presidente Bolsonaro, registra 46.154 filiações, ocupando a sexta colocação no ranking estadual.
 
Fragmentação
A pulverização partidária também se evidencia nos números: enquanto os seis maiores partidos concentram 435.080 filiados (65,08%), as demais 31 legendas dividem 233.698 filiações (34,92%).
 
Entre as legendas menores, destacam-se o PRD (45.903), Podemos (36.349), PDT (26.947) e PSB (20.671). Partidos como Solidariedade (18.997), Republicanos (17.294) e PC do B (16.507) também mantêm representatividade significativa. No extremo oposto, siglas como PCB (358), PSOL (4.837), Novo (2.409) e PMB (2.150) registram números expressivamente baixos.
 
O sociólogo Geraldo Correia avalia que essa fragmentação dificulta ainda mais a renovação geracional. “Partidos menores, com recursos limitados e pouca visibilidade, enfrentam dificuldades adicionais para atrair jovens militantes, perpetuando o ciclo de envelhecimento das estruturas partidárias. A multiplicação de legendas sem projeto político consistente afasta ainda mais os cidadãos da participação efetiva”, explica.
 
Renovação
Para reverter esse quadro, os especialistas apontam que os partidos precisam abandonar práticas arcaicas e focar no interesse público. O cientista político Felipe Andrade ressalta que as legendas precisam repensar completamente suas estratégias. "É necessário abandonar a política de balcão de negócios e interesses pessoais que domina o cenário atual. Os jovens não se identificam com partidos que funcionam como máquinas eleitorais voltadas para a perpetuação de grupos no poder, sem compromisso real com a melhoria da qualidade de vida da população", analisa.
 
O sociólogo Geraldo Correia avalia que a atual polarização política também afasta potenciais filiados. “A politicagem baseada em ataques pessoais, fake news e disputas por cargos, ao invés de debates propositivos sobre políticas públicas, cria um ambiente tóxico que repele cidadãos genuinamente interessados em contribuir para o bem comum. Os partidos precisam voltar a ser espaços de formação política e construção de projetos coletivos”, observa.
 
Entre as soluções propostas na visão dos entrevistados estão a criação de programas de formação política para jovens, utilização intensiva de redes sociais e plataformas digitais, abertura de canais diretos de participação nas decisões partidárias, transparência na gestão financeira das legendas e, principalmente, o desenvolvimento de propostas concretas para resolver problemas cotidianos como saúde, educação, mobilidade urbana e geração de emprego.
 
A crise de renovação das filiações partidárias em Goiás reflete tendência nacional, mas assume contornos particulares no estado, tradicionalmente marcado por lideranças longevas e estruturas políticas conservadoras.
 
O desafio é imenso: transformar partidos em instrumentos efetivos de participação democrática, capazes de atrair e formar novas lideranças comprometidas com o interesse público. A capacidade de adaptação das legendas às transformações sociais e geracionais definirá não apenas o futuro da representação política goiana, mas a própria qualidade da democracia no estado.

Principais Partidos por Número de Filiados

Partido

Filiados

Percentual

MDB

116.309

17,39%

PSDB

66.996

10,02%

União Brasil

55.390

8,28%

PP

52.954

7,92%

PT

48.267

7,22%

PL

46.154

6,90%

 Distribuição por Faixa Etária

Faixa Etária

Filiados

Percentual

16-17 anos

111

0,02%

18-24 anos

6.472

0,96%

25-34 anos

51.874

7,76%

35-44 anos

120.115

17,96%

45-59 anos

236.900

35,42%

60-69 anos

141.838

21,21%

70-79 anos

75.757

11,33%

Acima de 79 anos

35.664

5,33%

Distribuição por Tempo de Filiação

Tempo de Filiação

Filiados

Percentual

Menos de 1 ano

3.331

0,50%

1 a 5 anos

137.586

20,57%

5 a 10 anos

85.105

12,73%

Mais de 10 anos

442.756

66,20%

 Distribuição por Gênero

Gênero

Filiados

Percentual

Masculino

362.774

54,24%

Feminino

305.960

45,75%

Não informado

44

0,01%

 



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