Jales Naves
Especial para o jornal A Redação
Goiânia - Polemista, o professor Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque, engenheiro mecânico, economista e político, é o convidado especial do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás desta sexta-feira, dia 15, às 9h, para a palestra sobre evasão escolar e lançamento de seu mais recente livro, “Jogados ao Mar”. A obra narra a história que une um repórter investigativo, um diretor de escola pública, uma mãe desolada e um filho que saiu para ir à escola, mas não chegou, “nem voltou para casa”. Faz uma reflexão sobre a evasão escolar a partir de diferentes perspectivas, desde o tempo da escravidão até os dias de hoje e os descaminhos da educação, numa ficção investigativa com elementos de suspense e mistério.
Doutor em Economia pela Université Paris 1 Pantheon-Sorbonne (1973), foi Reitor da Universidade de Brasília (1985 a 1989), Governador do Distrito Federal (1995 a 1998), Ministro da Educação (2003 e 2004) e Senador pelo Distrito Federal (2003 a 2018), dois mandatos consecutivos. É Professor Emérito da UnB e professor colaborador de diversas universidades estrangeiras. Atua como professor e pesquisador no Centro de Desenvolvimento Sustentável e no Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, da UnB. Tem 81 livros publicados (até 2012), assinou uma coluna quinzenal no jornal “O Globo” e é defensor da educação como motor de transformação social.
Leitor atento, sempre em busca de novidades no campo literário, e conhecedor da importante contribuição do professor Cristovam Buarque na área de educação, o presidente do IHGG, Jales Guedes Coelho Mendonça, entrou em contato com ele e o convidou para apresentar sua nova obra, de ficção, e debatê-la com os intelectuais goianos. A evasão escolar no Brasil é um problema sério – mais de nove milhões de jovens já tinham deixado de estudar em 2023 antes de concluir a educação básica, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), "Síntese de indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2024" –, realidade que afeta a vida desses jovens, suas famílias e a sociedade como um todo, ampliando as desigualdades sociais e dificultando o desenvolvimento do país.
Para circular
O livro apresenta um tema atual, o fato de que muitas crianças estão abandonando a escola, desaparecendo, e o autor quer debater essa questão. Na obra, Cristovam Buarque conta que Ivo Vitor saiu de casa para ir à escola, mas não chegou, nem voltou para casa. “O jornalista Nestor é enviado para cobrir e noticiar o caso. Em sua investigação encontra um professor de História, uma mãe desolada, uma educadora que usa o tráfico para conseguir recursos para seus alunos e outros personagens, permitindo uma leitura empolgante que instiga reflexão, envolve e desperta o leitor. O autor, segundo Elimar Nascimento, “é de uma honestidade brutal. Diz no livro o que pensa sobre o humano, a sociedade e, sobretudo, a desigualdade que o incomoda sobremaneira e denuncia há anos. E sem pudor. Em um texto direto, cru. Sem sofisticação, tendo como personagem central um jornalista de casos policiais. A descrição de um real aparentemente invisível em forma de narrativa ficcional”.
“Li-o de um fôlego. E, ao final, fiquei pensando: este não é um livro para guardar nas minhas estantes. É um livro para circular. E foi o que fiz. Pedi desculpas ao autor que me o havia presenteado, dizendo-lhe que dispensava dedicatória (ele me enviou o livro junto com outros pelo correio). E, na primeira oportunidade, presenteei-o a um casal de amigos”, afirmou Elimar. “É um livro que nos incomoda. Perturba. E não deve deixar ninguém calado. Prevejo que as reações sejam muito diferentes e mesmo díspares e contraditórias”. “Alguns dirão que é um panfleto. Uma porcaria. Outros, que é um livro corajoso, verdadeiro, que escancara a mediocridade e o cinismo da elite brasileira, incluindo um largo segmento da classe média. Alguns o criticarão pela ausência de uma escrita não sofisticada, esquecendo que o autor, está dito no livro, é um jovem jornalista. O mesmo que sai para a periferia do Distrito Federal para escrever sobre um menino desaparecido. E a busca por descobrir o mistério do desaparecimento de Pedro Ivo o conduz à descoberta de algo que muitos já sabiam, mas não o tinham percebido da forma dura como é apresentada. E outros ficarão estupefatos, porque nunca haviam pensado a respeito. E cobrirão o livro e, sobretudo seu autor, de elogios”.
Profunda reflexão
Cristovam Buarque, “mais uma vez, nos surpreende ao trazer uma profunda reflexão sobre os descaminhos da educação e da evasão escolar”, escreveu o professor José Geraldo de Sousa Junior, doutor em Direito (Direito, Estado e Constituição) pela Faculdade de Direito da UnB (2008) e ex-reitor dessa Universidade. Ressaltou que ele faz isso com maestria através de uma ficção investigativa, com elementos de suspense e mistério, como destaca a Editora ao oferecer uma suma da obra: “Tendo como ponto de partida o desaparecimento de um aluno – ao mesmo tempo filho, amigo – e a investigação de seu paradeiro, em busca pelo seu corpo, vivo ou morto, esta obra se desenrola em tramas que se entrelaçam e se desdobram em busca de outros que também foram jogados ao mar, sempre nos remetendo ao desencanto do alunato, mas também, em modo contrário, à esperança vinda da abnegação de professores e voluntários que se esmeram no aperfeiçoamento de seu trabalho em prol do progresso humano. No processo investigativo de um repórter, em conflito com o de um delegado, e sob a pressão e manifestação de “Véspera”, somos estimulados a discernirmos sobre o futuro que desejamos para as próximas gerações e o que queremos para nosso país.
Em “Jogados ao Mar”, o ex-Ministro da Educação combina ficção e realidade nos moldes do seu livro “O Tesouro na Rua”. No texto da quarta capa, a conclusão é interpelante: “Uma leitura empolgante que instiga reflexão, envolve e desperta o leitor. Entre a travessia do Atlântico ontem e a travessia para a vida adulta hoje, aqueles que foram Jogados ao Mar poderão ser salvos?”.
O escritor Eduardo Neiva, professor emérito de Estudos de Comunicação da Universidade de Alabama, em Birmingham (EUA), diz que “a paisagem educacional que contemplamos hoje deveria nos aterrorizar e encher de cautela e medo. E que o romance “Jogados ao Mar”, de Cristovam Buarque, trata o tema com coragem e isenção”. Ele completa, concordando com as teses do livro: “Admito que cheguei às últimas páginas desse romance convencido de que “Jogados ao Mar” ocupará, principalmente em sua diferença, um lugar ao lado de Dona Flor, Brás Cubas e Grande sertão veredas. Afinal, e de uma maneira assemelhada ao livro de Cristovam Buarque, esses três clássicos da literatura produzida no Brasil enfrentam enigmas e impasses cruciais para a vida dos brasileiros, respectivamente a licenciosidade e a sua contenção no romance de Jorge Amado, o conformismo fúnebre que a ironia de Machado não perdoa e a ferocidade violenta que a fabulação de Guimarães Rosa se ocupou em ilustrar. Entretanto, por mais grandiosos que sejam esses ficcionistas, que arbitrariamente cito, é igualmente notória a falta deixada por outros temas centrais para o entendimento dos cinco séculos que forjaram a vida e a experiência brasileiras. Dos quais “Jogados ao Mar” trata com coragem e isenção”