Ludymila Siqueira
Goiânia - O mundo tem passado por uma transformação sem precedentes tanto em tecnologia como em sustentabilidade e responsabilidade social. De um lado, o mercado tem buscado soluções cada vez mais inovadoras, com uso de Inteligência Artificial e Big Data para otimizar a produção e reduzir custos. Do outro, existe uma esfera ainda maior, que visa o futuro do negócio ao utilizar a inovação com práticas ambientais sustentáveis e eficientes, pensando nas pessoas. Neste sentido e em cenário de expansão, os pilares ESG têm garantido impactos significativos. A sigla pode até parecer pequena na escrita, no entanto, é valorosa quando se trata de Ambiental, Social e Governança dentro das indústrias.
No setor industrial, a implementação destes princípios considera levar a práticas de gestão de recursos naturais mais eficientes e redução de emissões de poluentes. Já os aspectos sociais podem envolver ações de promoção da diversidade, equidade e inclusão no ambiente de trabalho. E, por fim, a governança abrange questões como a transparência nas operações e a ética nos negócios. Essas ações aumentam o valor de mercado e geram benefícios, como maior eficiência operacional, redução de riscos, e atração de investidores conscientes. Na prática, adotar estes princípios vai além de uma tendência ou obrigação regulatória. É como se fosse uma escolha estratégica com foco em assegurar o crescimento e a competitividade em um mercado ainda mais exigente.
Em Goiás, a exemplo do que se vê em outras partes do Brasil e do mundo, gigantes do setor entenderam a necessidade destas mudanças em seus meios de produção. A indústria goiana tem se destacado como referência em responsabilidade socioambiental. Este é o caso da indústria farmacêutica Teuto, localizada no Distrito Agroindustrial em Anápolis. Há mais de 7 décadas no mercado, a companhia se consolidou também nos pilares ESG.
(Foto: Divulgação/Laboratório Teuto)
Para se ter uma ideia, a indústria farmacêutica goiana foi a primeira no Brasil a utilizar o papel-cartão Vita Cycle da Papirus, proveniente da economia circular, que prevê a destinação correta dos resíduos para sua posterior na reutilização do processo produtivo. Outro projeto, ainda de economia circular, o Embalagem + Sustentável busca aprimorar a responsabilidade com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, o que gera créditos de reciclagem, promove o desenvolvimento da infraestrutura da logística reversa e valoriza as cooperativas de reciclagem.
Em 2024, a indústria que gera 3.479 empregos diretos, revisou 11 procedimentos ambientais, que foram disseminados por todos os setores da empresa. Essas revisões visam aprimorar os processos internos, garantindo a eficácia das operações e o cumprimento das metas ambientais estabelecidas. Essas revisões foram concentradas em três áreas principais:
Em entrevista à reportagem do jornal A Redação, a supervisora de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Laboratório Teuto, Aretha Duarte, detalhou que as práticas ESG fazem uma enorme diferença nos meios de produção. “Essa não é apenas uma questão de responsabilidade corporativa, mas um diferencial estratégico que impacta positivamente a operação, a reputação e a competitividade”, destacou.
Duarte explica que a importância do ESG se manifesta em diversas frentes relacionadas à produção, como:
- Redução de riscos operacionais e regulatórios: A indústria lida com processos complexos que envolvem o uso de substâncias químicas, descarte de resíduos e consumo de energia e água. Práticas sustentáveis, como a gestão eficiente de resíduos e o tratamento adequado de efluentes, minimizam os riscos de contaminação ambiental, acidentes de trabalho e multas regulatórias.
- Eficiência e otimização de custos: A busca por fontes de energia renovável e a otimização de processos produtivos não apenas reduzem o impacto ambiental, mas também geram economias substanciais a longo prazo.
- Atração e retenção de talentos: As novas gerações de profissionais valorizam empresas com forte compromisso social e ambiental. Uma cultura corporativa que prioriza o bem-estar, a diversidade e a sustentabilidade é vital para atrair e reter talentos qualificados.
(Foto: Divulgação/Laboratório Teuto)
- Fortalecimento da reputação e confiança: A saúde é um setor de extrema sensibilidade. Empresas que demonstram compromisso com a ética, a transparência e a responsabilidade socioambiental constroem uma reputação sólida, resultando em maior lealdade de clientes e parceiros.
- Acesso a capital e investidores: Investidores consideram os critérios ESG em suas decisões. Empresas com boas práticas são vistas como menos arriscadas e mais resilientes, o que pode facilitar o acesso a financiamento.
- Inovação e desenvolvimento de produtos: O foco em sustentabilidade pode impulsionar a inovação na pesquisa e desenvolvimento, levando a produtos mais alinhados às demandas do consumidor consciente.
- Resiliência da cadeia de suprimentos: Uma cadeia de suprimentos sustentável, que avalia fornecedores sob a ótica ESG, garante maior resiliência e estabilidade, minimizando riscos de interrupções e problemas de qualidade.
Foto “Sem dúvida, esses princípios ampliam a visão estratégica da indústria ao integrar responsabilidade social, ambiental e governança à tomada de decisões. Para uma indústria, a adoção de práticas sustentáveis não são um custo adicional, mas um investimento estratégico. É um caminho para garantir conformidade regulatória, perenidade do negócio, atração de talentos, fortalecimento da marca e contribuição ativa para um futuro mais saudável para as pessoas e para o planeta”, argumentou.

A Jalles Machado, agroindústria referência no setor sucroenergético, está instalada em Goianésia, a 170 quilômetros da capital goiana e é uma das empresas pioneiras em Goiás em pautas socioambientais e de cunho social desde sua concepção, em 1983. “Essas práticas se tornaram um diferencial para a Companhia. A valorização das pessoas, a busca por uma produção mais sustentável e a transparência foram fundamentais para a perpetuidade do nosso negócio”, afirma o diretor-presidente da Jalles Machado, Otávio Lage de Siqueira Filho.

(Foto: reprodução Jalles)
No quesito ambiental, a Jalles, como é conhecida, investiu no programa de reflorestamento, onde, segundo o diretor-presidente da empresa, já foram plantadas mais de 5 milhões de árvores desde 2021. Além disso, a Jalles trabalha no controle biológico de pragas e na agricultura de precisão.
Já no pilar social, a agroindústria concede, além dos benefícios básicos ao funcionário, como vale-alimentação e vale-transporte, subsídios farmácia e capacitação. A ajuda, conforme pontua Otávio Lage Filho, aumenta as possibilidades de crescimento profissional do trabalhador. A indústria investe ainda em programas sociais como, por exemplo, apoio a eventos esportivos, religiosos e culturais. Está ativa também a Fundação Jalles Machado, com iniciativas voltadas à comunidade local.
(Foto: reprodução Jalles)
Por fim, na política de governança, a empresa investiu em tecnologias de gestão e transparência. Um comitê para áreas de risco, além de auditorias trimestrais com balanços da Companhia.
Uma das novidades da Companhia será a produção de biometano. A Jalles assinou com a Albioma um compromisso de investimento para viabilizar a produção do biocombustível a partir da planta de biogás que as duas sócias já têm e que é anexa à usina de cana-de-açúcar Otávio Lage. “Um dos nossos valores é a inovação que está a serviço do bem-estar e, com essa planta de biogás, inovamos mais uma vez, trazendo para Goiás uma tecnologia para ampliar a geração de energia limpa, contribuindo com o meio ambiente”, explica Otávio Lage Filho.
Por meio do plantio da cana e do milho, é produzido o etanol que também é um biocombustível. Neste meio de produção, tira-se o biogás e será transformado em biometano, que substitui o óleo. É renovável e auxilia a descarbonizar o meio ambiente. Deste modo, o biometano é obtido a partir da purificação do biogás, um gás resultante da decomposição de matéria orgânica. Esse processo acontece em biodigestores, que transformam resíduos como esterco, restos agrícolas, lodo de esgoto e lixo orgânico em energia renovável. Resíduos orgânicos são depositados em biodigestores, onde bactérias realizam a digestão anaeróbica (sem oxigênio).
Planta de biogás da Jalles, em Goianésia (Foto: Divulgação)
Esse processo libera biogás, composto principalmente por metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2), além de outros gases em menor quantidade (H2S, vapor d’água, etc.).
Em Goiás, por exemplo, o Governo estadual apresentou, em março, o primeiro ônibus movido a biometano. O veículo está em circulação em trechos do BRT Leste-Oeste (Eixo Anhanguera).
Em entrevista exclusiva ao jornal A Redação, o vice-governador Daniel Vilela ressaltou o potencial de Goiás para a economia verde e a produção sustentável. Ele tem acompanhado de perto visitas técnicas e reuniões voltadas ao setor produtivo e afirma que Goiás vem se estruturando com tecnologias que agregam valor tanto aos produtos quanto às commodities, o que atrai novos investidores.
Vice-governador de Goiás, Daniel Vilela (Foto: Divulgação)
“Goiás tem sido um dos Estados mais requisitados para receber missões internacionais, com empresários interessados em conhecer nossas riquezas e nosso modelo de produção. Nesse sentido, temos nos consolidado como um grande polo produtor e exportador. Acredito no potencial do nosso Estado, que tem se preparado para se consolidar como uma referência cada vez mais forte em produção e tecnologias sustentáveis”, destacou Vilela.

Muito além de uma estratégia de negócios voltada à consolidação de mercado, o foco dos princípios ESG e de todo meio de inovação dentro de uma indústria deve ser as pessoas. Essa é a afirmação do vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Flávio Rassi, que também que lidera o Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Cmas) da entidade.
Em entrevista à reportagem do jornal A Redação, Rassi pontuou que as indústrias goianas têm esse olhar muito claro e, com isso, trabalham para promover um impacto positivo na sociedade. No entanto, para ele, essa ideia ainda tem muito a crescer.
A ideia do ESG foi adotada, em sua maioria, por grandes grupos, como as indústrias citadas na reportagem. Pensando na ampliação do cenário, a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) conta com o Núcleo ESG, focado em apoiar e estimular as pequenas e médias empresas a adotarem os processos socioambientais e, assim, terem um melhor reconhecimento no mercado no futuro.
Vice-presidente da Fieg, Flávio Rassi (Foto: divulgação)
“O setor industrial sempre teve muita vontade de difundir as boas práticas ambientais. Primeiro porque precisa cumprir as regras legais. Segundo, é um meio de conscientização e terceiro porque gera mais valor ao negócio. Os empresários já entenderam que os investimentos em meio ambiente não é um custo, mas um investimento, onde pode haver produtos mais rentáveis e mais valor aos olhos da população”, detalhou.
O vice-presidente da Fieg ainda afirmou acreditar em uma tendência cada vez mais evidente, ainda mais aliada às novas tecnologias. Segundo ele, o Brasil tem uma das normas ambientais mais rígidas em comparação com outros países, assim como as legislações trabalhistas nacionais. O território brasileiro está com 90% do ESG pronto nas indústrias e empresas desde pequenas, médias e grandes negócios. No entanto, para Rassi, o país ainda precisa crescer no que se trata de governança.
Neste sentido, a Fieg, que também tem buscado conhecer meios de produção de outros países, tem apoiado as indústrias goianas nos pilares ambientais, para garantir que as boas práticas sociais e ambientais se perpetuem dentro da empresa, independente de quem esteja lá. Esse apoio é realizado por meio da capacitação, cursos, palestras e em trabalho.
O Núcleo ESG da Fieg tem cooperado para o crescimento industrial dentro dos pilares ESG por meio de diversas ações. Criado em 2021, promove a conscientização sobre a importância da sustentabilidade e da incorporação destes princípios nas práticas das indústrias. Além disso, auxilia a troca de experiências e conhecimentos entre empresas que já adotam práticas ESG, oferece capacitações e treinamentos sobre aspectos relacionados aos pilares ESG e auxilia no desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade personalizadas para as empresas.
O vice-presidente da Fieg, Flávio Rassi, explica que o Núcleo passou por uma revolução significativa desde sua criação. Atualmente, conta com políticas internas em ESG consolidadas, com um grupo de trabalho criado para a promoção e ampliação da área. Há também a realização de relatórios, principalmente com a parte social, porque é um dos pontos mais fortes do apoio prestado pela Federação.
Atualmente, há uma grande procura por parte de empresários interessados em conhecer e implementar práticas ESG nas organizações. Para ter acesso ao Núcleo ESG da Fieg, os empresários podem entrar em contato com a própria Fieg, que possui canais de comunicação, como telefone e e-mail, para receber orientações e informações sobre como participar das atividades e programas voltados para práticas ESG.
*Para informações sobre como implantar os pilares ESG, entre em contato com o Núcleo da Fieg sobre o tema: (62) 3219-1300.