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Meio Ambiente

Incêndios florestais geram prejuízos de R$ 4,8 milhões a Goiás em uma década

Agronegócio e cofres públicos sofrem perdas | 05.10.25 - 08:00 Incêndios florestais geram prejuízos de R$ 4,8 milhões a Goiás em uma década (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)
Samuel Straioto
 
Goiânia - Entre 2014 e 2024, Goiás registrou R$ 4,8 milhões em prejuízos econômicos provocados por incêndios florestais, de acordo com estudo divulgado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). No mesmo período, o Brasil contabilizou mais de 2,3 milhões de focos de fogo e perdas financeiras que chegaram a R$ 3,3 bilhões. Embora Goiás não figure entre os estados com maiores perdas absolutas, a frequência e a intensidade dos incêndios no Cerrado colocam o estado entre os mais vulneráveis, com reflexos diretos sobre a economia.
 
Foram mais de 63 mil focos de incêndios em dez anos, afetando lavouras, pastagens, estradas, linhas de transmissão e até o turismo em regiões de destaque. As perdas, além de financeiras, revelam a fragilidade de políticas públicas de prevenção e evidenciam a dependência dos municípios em relação a recursos limitados para o enfrentamento da crise.
 
Condições que favorecem o fogo
Os incêndios florestais em Goiás, embora em alguns casos tenham origem natural, são majoritariamente provocados pela ação humana. O uso irregular do fogo em pastagens, a queima de resíduos agrícolas e a expansão da fronteira agrícola aumentam o risco de propagação das chamas.
 
No Cerrado, bioma predominante no estado, as condições climáticas durante a seca ampliam ainda mais essa vulnerabilidade. Entre julho e setembro, a umidade relativa do ar atinge índices críticos, por vezes abaixo de 20%, criando ambiente propício para a rápida expansão do fogo.
 
O estudo da CNM aponta que o fogo afeta especialmente áreas de agricultura intensiva e regiões de vegetação nativa próximas a grandes centros. Goiás é considerado estratégico por abrigar importantes nascentes que alimentam rios de todo o Brasil.
 O comprometimento dessas áreas não gera apenas danos ambientais: compromete também a disponibilidade de água para o agronegócio e para a população urbana.
 
Custos
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), compilados pela CNM, indicam que Goiás contabilizou 63.010 focos de incêndios florestais entre 2013 e 2024. O prejuízo estimado de R$ 4,8 milhões inclui danos à agricultura, à pecuária e à infraestrutura, além de custos extras com saúde pública e turismo.
 
As regiões mais críticas foram o Entorno do Distrito Federal, marcado por forte pressão urbana e expansão agrícola; a Chapada dos Veadeiros, área de preservação que enfrenta queimadas recorrentes; o Noroeste goiano, onde o desmatamento e a estiagem ampliam os riscos; e o Sudoeste agrícola, epicentro da produção de grãos e de pastagens.
 
Nessas áreas, a perda de produtividade foi a mais significativa, mas os impactos ultrapassaram as fronteiras rurais, afetando receitas municipais e empregos. O agronegócio, motor da economia de Goiás, concentra a maior parte dos prejuízos. Lavouras de soja, milho e cana-de-açúcar foram destruídas em diferentes safras, obrigando produtores a absorver perdas milionárias.
 
A CNM aponta que, no Brasil, 64% dos prejuízos econômicos das queimadas recaíram sobre a agricultura, e Goiás seguiu essa tendência.
 
No caso da pecuária, pastagens inteiras foram comprometidas, forçando criadores a investir em insumos emergenciais para manter o gado. A necessidade de suplementação alimentar eleva custos e reduz margens de lucro. Segundo o estudo, o impacto na pecuária representou quase um terço das perdas em todo o país.
 
O pesquisador do INPE Marcos Ferreira explica que a combinação de estiagens mais severas e manejo irregular cria um ciclo difícil de quebrar. “A cada ano o solo perde nutrientes, a vegetação nativa se fragiliza e a dependência do fogo para abrir áreas aumenta. É um processo que eleva custos e compromete a sustentabilidade do setor produtivo”, avalia.
 
Saúde pública
Na saúde, o reflexo é imediato. Hospitais e postos de atendimento relatam aumento de até 20% nas internações por doenças respiratórias nos meses mais secos. Crianças, idosos e pessoas com comorbidades são as mais afetadas. Isso representa não apenas custos adicionais para o Sistema Único de Saúde (SUS), mas também sobrecarga em municípios já limitados financeiramente.
 
A infraestrutura também sofre. Estradas vicinais, linhas de transmissão e pontes são frequentemente danificadas, exigindo reparos emergenciais. Segundo a CNM, em todo o Brasil os prejuízos públicos chegaram a R$ 182 milhões no período analisado. Em Goiás, prefeituras relataram o uso de parte significativa dos recursos de contingência para recuperação de áreas atingidas, reduzindo a capacidade de investimento em educação, transporte e assistência social.
 
“A cada ano precisamos mobilizar mais equipamentos e pessoas. Esse gasto, que já chega a milhões, poderia ser investido em prevenção e capacitação. Mas acabamos sempre atuando na emergência”, explica Ferreira.
 
No cenário nacional, a CNM revelou que entre 2013 e 2024 a União autorizou R$ 2,3 bilhões para combate a incêndios, mas somente 67% dos recursos foram pagos. Essa baixa execução orçamentária limita a capacidade de estados e municípios de enfrentar a crise.
 
Fragilidade estrutural
Para o técnico da Defesa Civil Nacional, João Henrique Cardoso, a situação de Goiás reflete uma fragilidade comum em todo o Cerrado. “Divrersos municípios estão na linha de frente do problema, mas não têm brigadas treinadas nem equipamentos adequados. Grande parte da responsabilidade recai sobre os bombeiros, que ficam sobrecarregados. O resultado é que a resposta é sempre cara e limitada, quando deveria ser preventiva”, afirma.
 
Segundo ele, o fogo representa um duplo prejuízo: imediato, com as perdas de safra e infraestrutura, e indireto, com a queda da arrecadação e o aumento das despesas públicas.
 
 

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