Jales Naves
Especial para o jornal A Redação
Goiânia - Com intensa programação, a Escola de Minas, criada pelo Decreto nº 6.026, de 6 de novembro de 1875, e hoje integrada à Universidade Federal de Ouro Preto, comemora nos dias 9 a 11 deste mês os 149 anos de instalação do primeiro Curso de Engenharia de Minas do país e a forte tradição histórica desde essa época. Como destaca o diretor da Escola, professor José Alberto Naves Cocota Júnior, que foi reeleito em setembro para um novo mandato de quatro anos, atualmente a Escola oferta nove cursos de Engenharia e o de Arquitetura e Urbanismo.
Professor José Alberto Naves Cocota Júnior (Foto: Assessoria da UFOP)
Na última avaliação do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, do Ministério da Educação, em 2023, os cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo obtiveram nota máxima. O curso de Engenharia Civil, de 1891, é um dos pioneiros no Brasil.
Pioneirismo
Em 1876 o cientista Claude Henri Gorceix fundou a Escola de Minas, primeira instituição brasileira dedicada ao ensino de mineração, metalurgia e geologia. Sediada inicialmente na rua Padre Rolim, e posteriormente, no antigo Palácio dos Governadores, no centro de Ouro Preto, foi transferida, em 1995, para o campus Morro do Cruzeiro.
Com a independência do Brasil de Portugal e a realização de uma Assembleia Constituinte em 1823, foram discutidas a criação de universidades e de uma escola mineralógica na província de Minas Gerais, para o desenvolvimento econômico do novo Império. Decretos sobre a fundação de uma instituição de ensino para esse fim foram discutidos e publicados pela Assembleia Legislativa da Província na primeira metade do século XIX. A Escola Central do Rio de Janeiro foi transformada em Escola Politécnica, em 1874.
Este era o cenário que fez com que, impulsionado pela curiosidade e necessidade de crescimento econômico, o Imperador do Brasil, dom Pedro II, em sua segunda viagem pela Europa, convidasse o cientista Auguste Daubrée, para visitar o Brasil e realizar estudos sobre as riquezas minerais que o Império potencialmente poderia ter. Como o engenheiro havia acabado de ser nomeado diretor da Escola de Minas de Paris, o que o impedia de aceitar o convite, a solução foi indicar um cientista talentoso que havia estudado com Pasteur, Claude-Henri Gorceix, que estava se destacando por sua capacidade intelectual e por seu trabalho científico em sítios arqueológicos vulcânicos realizados na Grécia e Turquia.
Gorceix aceitou realizar estudos das riquezas minerais do Brasil e propôs ao Imperador, depois de conhecer todas as regiões com potencial mineralógico do país, fundar uma Escola de Minas em Ouro Preto. Ele também fundou, em 1878, um curso preparatório para corrigir as deficiências acadêmicas de candidatos da escola. Dentre as personalidades que passaram pelo curso preparatório, e não conseguiram passar no processo seletivo para cursar engenharia na Escola de Minas, pode-se citar Santos Dumont e Carlos Chagas. A modesta escola de Gorceix, composta de três edificações, uma das quais, segundo ele próprio em carta a dom Pedro II, “um prédio público que estava destinado para servir como escola de meninas”, estava situado entre a Igreja das Mercês (de cima) e da Misericórdia e a primeira Santa Casa de Ouro Preto, na rua das Mercês.
Atualmente, o casarão de dois andares que seria uma escola de meninas, permanece com o número 77, identificado com uma placa comemorativa do 1º Centenário da Escola em 1976, em sua fachada. A primeira sede, retratada em pintura encomendada por dom Pedro II, é capa do livro que será lançado no dia 7 de novembro, para lembrar a data.
Revolução acadêmica
Foi nessa escola que Gorceix fez história revolucionando o ensino acadêmico do Brasil, ao implementar no país uma formação que ultrapassava a teoria, incentivando a prática, o pensar e o refletir, introduzindo métodos de estudos desconhecidos pelos brasileiros, como a obrigatoriedade de uso dos cadernos para anotar as aulas ministradas, obrigando o aluno a evitar ausências e a prestar atenção ao conteúdo dado. A abolição de decorar livros, a ênfase na docimasia – aulas práticas em laboratórios próprios, jornada de 7 às 17h e trabalhos de campo nos períodos de férias acadêmicas.
A importância da Escola de Minas foi demonstrada pelas duas visitas que recebeu da família imperial brasileira. Sua fama correu mundo e a instituição ganhou diversas premiações internacionais. Suas práticas geraram frutos, seus alunos ocuparam todos os tipos de cargos de relevância da nação. Gorceix, esse professor francês, com um brasileiro, conseguiu com o seu trabalho, alterar o futuro acadêmico da educação do setor minero-metalúrgico do Brasil.