Samuel Straioto
Goiânia - A mobilização nacional e a ampla repercussão dos casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas não alteraram de forma significativa o consumo em bares e restaurantes de Goiás. Dados e percepções do setor mostram que os goianos mantiveram seus hábitos, sem retração expressiva de público, enquanto as fiscalizações para coibir possíveis bebidas adulteradas foram intensificadas no Estado.
Segundo nota divulgada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Goiás (Abrasel-GO), não há registros de casos confirmados de contaminação no Estado e o movimento nos estabelecimentos permanece dentro da normalidade.
“Mesmo diante das notícias, o movimento nos bares e restaurantes do estado segue normal, demonstrando a confiança dos consumidores nos estabelecimentos regulares e o compromisso do setor com a segurança e a qualidade dos produtos servidos”, afirma o presidente da entidade, Danillo Ramos.
A nota da Abrasel reforça que nenhuma garrafa contaminada foi encontrada em bares, restaurantes ou distribuidoras de bebidas que atuam legalmente no mercado goiano.
Em Aparecida de Goiânia, o empresário Carlos Henrique dos Santos, dono de uma distribuidora no Setor Santa Luzia, confirma que as vendas seguem dentro da normalidade. “Os clientes perguntam, mas continuam comprando. A gente sempre trabalhou com fornecedores confiáveis, e isso faz diferença. Quando o consumidor percebe seriedade, ele não deixa de consumir”, afirma.
Para o presidente da Abrasel-GO, o cenário de estabilidade mostra maturidade do público e responsabilidade dos empresários. “A confiança se mantém porque o setor trabalha com transparência e qualidade. O consumidor percebe esse compromisso”, reforça o dirigente.
Operação
A tranquilidade registrada no setor se deve, em parte, à atuação coordenada das forças de segurança e dos órgãos de vigilância sanitária. A Operação Metanol, deflagrada em todo o Estado, teve caráter preventivo e buscou fiscalizar distribuidoras, depósitos e pontos de venda suspeitos de comercializar produtos adulterados.
A operação teve como objetivo principal prevenir a entrada de bebidas irregulares vindas de outros estados, especialmente de São Paulo, onde a Polícia Civil investiga redes criminosas responsáveis pela adulteração com metanol.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), não há casos confirmados de intoxicação por metanol em território goiano. A pasta informou que mantém vigilância ativa em hospitais e unidades de referência, mas que todos os exames realizados até agora descartaram a presença da substância nas bebidas analisadas.
Orientação
AAbrasel-GO lembrou que a falsificação e adulteração de bebidas é um problema grave de saúde pública, que ameaça tanto os consumidores quanto os empreendedores que atuam dentro da legalidade. “É fundamental que toda a cadeia produtiva — fabricantes, distribuidores e estabelecimentos — esteja atenta e comprometida com a origem e a procedência das bebidas comercializadas”, diz nota.
A entidade informou que reuniu e disponibilizou orientações técnicas sobre como identificar produtos irregulares, agir diante de suspeitas e evitar riscos à saúde dos clientes e à reputação dos estabelecimentos.
O presidente da Abrasel-GO também destacou a importância da cooperação entre os órgãos públicos e o setor privado. “A operação mostrou que o diálogo entre as instituições é essencial. Fiscalização é bem-vinda, desde que venha acompanhada de informação e parceria”, disse.
Riscos legais
O advogado Raphael Medeiros, especialista em Direito do Consumidor, alerta que mesmo empresários que aleguem desconhecimento sobre a adulteração podem ser responsabilizados.
“O Código de Defesa do Consumidor estabelece responsabilidade objetiva para fornecedores. Isso significa que, independentemente de dolo ou culpa, bares e restaurantes podem ser responsabilizados pelos danos causados ao cliente, mesmo que tenham adquirido a bebida acreditando que fosse regular”, explicou.
De acordo com Medeiros, a Justiça tem entendido que o risco não pode ser transferido ao consumidor. “O consumidor não pode assumir o risco por falhas na cadeia de fornecimento. Por isso, é indispensável que o comerciante conheça a procedência das bebidas e guarde notas fiscais e certificados de origem”, afirmou.
O advogado destacou ainda que a adulteração de bebidas é crime previsto no artigo 272 do Código Penal, com pena que pode chegar a 15 anos de prisão. “A responsabilização é severa. Mesmo sem intenção direta, o comerciante pode responder na esfera cível e criminal. A melhor forma de se proteger é manter controle rigoroso sobre o estoque e sobre os fornecedores”, completou.
Para o distribuidor Carlos Henrique, o momento exige mais atenção, mas também união do setor. “Quem trabalha certo não tem o que temer. Estamos revisando estoques e pedindo laudos de procedência com mais frequência, porque a responsabilidade é de todos nós”, afirmou.