Jales Naves
Especial para A Redação
Goiânia - Determinado e persistente, Joel Naves de Carvalho nunca foi de desistir de uma empreitada, e tem sido feliz em suas iniciativas. Essa posição ficou clara desde jovem, quando, aos 21 anos, comunicou aos pais, Pedro Naves Filho e Ana Eugênia de Carvalho, que pretendia mudar os rumos de sua vida, já que a pequena cidade em que nascera e residia, Bom Sucesso, MG, então com uns 15 mil habitantes, pouco lhe oferecia, em termos de emprego e melhoria de vida. Ele teve duas experiências de trabalho e sentiu que estava na hora de sair para encontrar melhores oportunidades. Assim, contrariando os pais, que não concordaram com a sua ideia de se mudar, ele decidiu, com a cara e a coragem, deixar a sua cidade natal e se fixar em Brasília, na época um grande canteiro de obras. Na verdade, essa intenção ele já vinha matutando uns dois anos antes e não queria mais esperar uma segunda chance.
Em seus planos, era prioridade organizar a sua vida e buscar a família, que tinha ficado naquela cidade mineira. Tudo deu certo: ele conseguiu emprego, casa e criou as condições de trazer os pais e os 11 irmãos. Primeiro vieram dois; em seguida, casou-se com a namorada da adolescência, Maria da Glória, que nasceu e morava na cidade vizinha, Ibituruna (MG), muito o ajudando nessa empreitada, o que contribuiu para ele melhor se estruturar na nova Capital Federal; e em 10 anos todos já estavam em Brasília, formando hoje uma grande comunidade.
Pedro Luiz Naves, o avô, fora fazendeiro em Bom Sucesso, no século anterior, e ali criara, na Fazenda Pedra Branca, que não era pequena, os 10 filhos que teve com Ana Ferreira. O filho homônimo, que nascera em 1905, seguiu os passos do pai e construiu sua vida e sua família na Fazenda Gusmão, um sítio de uns oito alqueires, onde tocou lavoura de arroz, café, feijão e milho, e tinha gado leiteiro, mais para subsistência. Pedro Filho casou-se com Ana Eugênia, e tiveram 13 filhos, que foram o maior orgulho deles, pois todos se tornaram independentes, casaram-se e constituíram novas famílias.
Joel não foi o primeiro a sair de casa: o irmão mais velho, Vicente de Paula Naves, construiu sua carreira de bancário no Banco da Lavoura de Minas Gerais – numa disputa em família, esse estabelecimento de crédito foi dividido em dois: o Banco Real ficou com Aloísio Faria, e o Banco Bandeirantes com Clemente Faria. Vicente ingressou no banco aos 15 anos, em Bom Sucesso, e fez sua carreira, logo sendo transferido para o Nordeste brasileiro, onde ficou até se aposentar, ali residindo até hoje.
Pedro Naves Filho e Ana Naves (Foto do álbum de família)
Trajetória
Nascido em 5 de fevereiro de 1939, em Bom Sucesso – uma terra de colinas suaves e de histórias contadas na varanda – Joel Naves de Carvalho teve duas experiências profissionais antes de se decidir a deixar a sua cidade e buscar uma melhor opção de vida: primeiro, mensageiro do Banco da Lavoura, então o mais importante estabelecimento de crédito de Minas Gerais; e depois alfaiate, ofício que aprendeu por conta própria e no qual trabalhou uns cinco anos. Estudara apenas o primário, mas que lhe deu boa base, o suficiente para conseguir aprovação no ginásio e daí prosseguir com os estudos em Brasília, aproveitando cada oportunidade que teve para crescer mais, pessoal e profissionalmente, até completar o ensino superior.
No dia 3 de junho de 1960 ele fez a mala com uns poucos conjuntos de roupas, alguns objetos de uso pessoal, despediu-se de todos, que se emocionaram nessa separação, e cumpriu a longa jornada de uns dois dias de ônibus, de Bom Sucesso e a Belo Horizonte, e depois de BH para a nova Capital Federal. Era uma viagem para o desconhecido, pois não conhecia ninguém e nem tinha visitado a cidade antes, e ao mesmo tempo era um atraente mundo novo que se construía, em ritmo acelerado, em pleno Planalto Central, dando forma e vida a um arrojado e moderno centro urbano no coração do Brasil.
O primeiro desafio, logo ao chegar a Brasília, ele venceu com relativa tranquilidade: prestou um teste para fiscal de obras, e passou. O estágio para conseguir o cargo seria de 15 dias, mas no décimo dia eles entregaram a obra para ele fiscalizar, e assim assumiu o controle de pessoal e material na Novacap, empresa pública encarregada da construção da nova Capital. Ali ficou até 1967.
O segundo desafio aconteceu ao fazer uma auditoria na Escola Parque, onde havia ocorrido um incêndio: percebeu uma movimentação, nos alojamentos e casas de madeira, de pessoas frequentando a escola, preparando-se para o concorrido exame de admissão ao curso ginasial. Ele se interessou, fez os estudos em dois meses, de setembro a novembro, e logo conquistou mais uma vitória: passou nas provas e ingressou no curso.
Uma outra surpresa agradável seria revelada em 1962: fez, de forma despretensiosa, uma redação sobre o dia 7 de setembro e a professora, ao comentar os trabalhos recebidos dos alunos, anunciou que o texto que Joel elaborara fora considerada a melhor redação sobre a data, sem nenhum erro de português. Prêmio: um dicionário de inglês/português, autografado pelo Ministro da Educação daquela época, que guarda até hoje como recordação e que o motivou a fazer o Curso de Inglês. De 62 a 65 cursou o ginasial no Colégio Caseb e, de 66 a 69, o nível médio no Colégio Elefante Branco.
Acolhendo os pais e irmãos
Depois de organizar sua vida, pessoal e profissional, tendo uma estrutura para abrigar os demais familiares, decidiu buscá-los, os pais e os 11 irmãos que ficaram, para morar com ele em Brasília. Para os irmãos definiu duas condições: eles deveriam estudar, ele ajudaria no que fosse possível, e que trabalhassem. Em 1965 chegaram dois irmãos: o primeiro, Luiz Sérgio, em janeiro, trabalhou três anos na Novacap, no almoxarifado, controlando material, e em seguida passou em concurso para o Banco Regional de Brasília (BRB), onde trabalhou por 27 anos, até se aposentar; Luiz, como é conhecido, fez, de 1972/78, o Curso de Ciências Contábeis na Universidade do Distrito Federal (UDF), mais tarde conhecida como UniDF. Em setembro foi a vez de Antônio (Toninho), igualmente indo para a Novacap, no almoxarifado, Seção de Pessoal, e depois também passando em concurso para o BRB.
O terceiro irmão, Antônio Celso, chegou em junho de 1969, trabalhou numa construtora e em seguida foi igualmente para o BRB, via concurso. Finalmente, em julho de 1970, buscou os pais e os demais irmãos, vários deles tendo morado na casa de Joel, até que a família se organizou na cidade, cada um já procurando se estruturar.
Criando a sua família
Mesmo com toda essa carga de preocupações e atividades, Joel não parou. Em 1966 casou-se com Maria da Glória Carvalho, e logo vieram os filhos, todos nascidos em Brasília: Marco Túlio, em 1968; Joelma, em 1971; e Marcelo, em 1974. Essa situação aumentou sua responsabilidade, mas não reduziu o entusiasmo e nem sua luta, pois continuou a estudar, para galgar novos degraus na carreira profissional. No período de 1972 a 76 fez o Curso de Administração de Empresas, na então UDF. Nesse período, trabalhava durante o dia e estudava a noite; nos fins de semana, ia para a biblioteca da Universidade para estudar, vendo os filhos apenas nas tardes de domingo. Os três filhos ficaram sempre sob os cuidados atentos da mãe.
Com essa vida agitada e cheia de compromissos, ele reconhece a compreensão e a participação da mulher, Maria da Glória, que muito o apoiou nessa trajetória, revelando-se, desde cedo, uma excelente dona de casa, mãe cuidadosa com os filhos, que soube bem educar, e se dedicando integralmente à família. Essa divisão de responsabilidades deixou-o mais tranquilo para buscar o sustento da família e mais oportunidades para si –fez vários cursos de extensão, para se atualizar – e para os filhos, que são o maior orgulho deles. Todos estudaram na Universidade de Brasília (UnB), uma de melhores instituições de ensino superior do País, pública, e hoje eles têm suas carreiras e vidas independentes, mas sempre estão em volta dos pais, paparicando-os.
O mais velho, Marco Túlio Naves de Carvalho, 57 anos, é geólogo, tendo ocupado funções de destaque em empresas como Votorantim e Vale, dentre outras, e hoje é diretor de uma importante empresa de mineração brasileira. Casado com a goianiense Sabrina de Azevedo Naves, são pais da bela Luísa Azevedo Naves, de 12 anos.
Psicóloga Clínica, Joelma Naves de Carvalho também foi bancária, aposentando-se pelo Banco do Brasil. Desquitada; tem uma filha, Beatriz Naves de Carvalho, 23 anos, estudante de Engenharia de Produção na UnB, casada com Marcelo Scher, baiano de Salvador.
O caçula, Marcelo Naves de Carvalho, trabalhou durante muitos anos como engenheiro eletricista em multinacionais e hoje se dedica integralmente ao que mais gosta, ser Mestre Cervejeiro e dono da famosa e premiada fábrica de cerveja Quatro Poderes. Casado com Maísa Rosso Naves, natural do interior de São Paulo, eles têm duas filhas, Maria Alice Rosso Naves, com 16 anos, e Maria Helena Rosso Naves, com 14 anos.
Joel Naves de Carvalho, Maria da Glória e os filhos (Foto do álbum de família)
Estudos
Sempre levando tudo muito a sério, gostava de trabalhar e se dedicava às suas tarefas. A carreira no Governo do Distrito Federal se estruturou a partir da Secretaria de Finanças, onde foi, por último, Analista de Planejamento e Orçamento, cargo no qual se aposentou. Emprestado para outros órgãos, ocupando chefias de seções e serviços, passou pela Sociedade de Abastecimento de Brasília (SAB), que tinha supermercados e fazia o atendimento à população e aos órgãos do Governo, onde assumiu o Serviço de Tesouraria, depois a Divisão e, finalmente, Departamento de Finanças; em seguida, pelo Departamento de Estradas de Rodagem, DER-DF, onde foi chefe do controle; e, ainda, na Secretaria de Obras. Quando chegou aos 31 anos no Setor Público e preocupado com o Decreto 17.151, decidiu juntar sua documentação e requerer a aposentadoria, para incorporar a maior gratificação ao salário. Os seus superiores, no entanto, quando estava arrumando as gavetas e ia se despedir, não deixaram que saísse, e acabou permanecendo por mais quatro anos.
Ao completar 35 anos no Setor Público decidiu, em 1° de abril de 1993, sair de vez e montar o seu próprio negócio, um escritório para assuntos imobiliários; ainda hoje, aos 86 anos, trabalha com impressionante disposição e dedicação.
Joel é um mineiro de fala mansa e calmo, mas até hoje incansável e sempre em movimento: vai para sua musculação diariamente, adora caminhar, sair pra dançar com sua esposa e nunca recusa um convite para viajar, preferencialmente em família. Mas seu grande valor está em sua integridade, dedicação ao que faz e em seu enorme coração bondoso e extremamente generoso. Ele é fonte de amor e inspiração para toda a família.