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Reportagem especial

Projeto de equoterapia em Morrinhos se consolida com suporte do MPGO

Ação muda rotina de pessoas com deficiência | 06.11.25 - 11:54 Projeto de equoterapia em Morrinhos se consolida com suporte do MPGO (Arte Anna Stella/A Redação)

Adriana Marinelli

Goiânia - 
“O meu maior sentimento é liberdade.” A frase de Verônica Costa, de 28 anos, traduz mais do que palavras. Ela carrega a essência de quem encontrou nos cavalos o caminho para a autonomia e o equilíbrio. Diagnosticada com ataxia cerebelar, um distúrbio neurológico que reduz a mobilidade e afeta a fala, Verônica é praticante de equoterapia na Associação de Equoterapia de Morrinhos, no Sul de Goiás. Ali, ela faz parte de um grupo de 110 pessoas que recebem atendimento 100% gratuito. Criada há nove anos, a entidade nasceu com o propósito de servir e promover a inclusão de pessoas com deficiência e necessidades especiais de baixa renda.


Verônica durante prática de Equoterapia
(Foto: arquivo/Associação de Equoterapia de Morrinhos)

 
Verônica é uma das pioneiras do projeto e, todas as quintas-feiras, tem como destino certo o Parque de Exposições Sylvio de Mello, onde são realizadas as sessões de equoterapia. Em conversa por telefone com a reportagem do jornal A Redação, o entusiasmo da voz da jovem revela o quanto a Associação de Equoterapia faz parte da sua vida. Entre sorrisos, Verônica expõe o laço especial que criou com a Faceira, a égua companheira  nas terapias, a quem chama de sua amiga favorita na entidade.


Verônica durante prática de Equoterapia
(Foto: arquivo/Associação de Equoterapia de Morrinhos)
 

Luizmar Costa, pai de Verônica, explica que a filha utiliza cadeira de rodas para se locomover. No entanto, desde que começou a praticar equoterapia, ele percebeu avanços significativos em seu desenvolvimento. “O projeto desenvolvido pela Associação é um ganho muito grande para o município, porque quando o assistido está em terapia com o cavalo, ele se sente vivo”, afirma. Emocionado, o engenheiro eletricista expressa gratidão por todo o processo. “No caso de minha filha, por exemplo, a prática auxilia no movimento da musculatura dela, o que contribui diretamente para sua melhora”, completa Luizmar, que atua como tesoureiro da Associação de Equoterapia de Morrinhos desde a sua fundação, em 2015.


A história de Verônica com a equoterapia é apenas uma entre tantas que se repetem pelo país, unidas pela mesma força de confiança e superação. Para se ter uma ideia, mais de 25 mil pessoas em todo o Brasil recebem tratamento por meio desse método, segundo dados da Associação Nacional de Equoterapia (Ande Brasil). A atividade utiliza o cavalo como ferramenta terapêutica, promovendo o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais. É um trabalho que se revela essencial para aprimorar o equilíbrio, ampliar a mobilidade e oferecer mais qualidade de vida aos praticantes.

 

(Foto: arquivo/Associação de Equoterapia de Morrinhos)
 
Reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 1997 como método terapêutico, a equoterapia foi oficialmente validada como um recurso de reabilitação motora que utiliza o cavalo em uma abordagem interdisciplinar, unindo saúde, educação e equitação. Em Goiás, o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), em Goiânia, incorporou a prática em 2004 e tornou-se referência na área. Foi lá, inclusive, que Verônica teve o primeiro contato com essa forma de terapia que, mais tarde, transformaria sua rotina.

A equoterapia chegou a Morrinhos em 2015, com a criação da Associação que leva o método ao alcance de quem mais precisa. O projeto nasceu com o propósito de atender gratuitamente pessoas com deficiência e necessidades especiais que não têm condições de arcar com o custo do tratamento. Hoje, a maioria dos praticantes é formada por crianças e adolescentes, mas o atendimento também se estende a pessoas idosas. Ao todo, são 110 assistidos: 77 crianças e adolescentes com diferentes diagnósticos como autismo e paralisia cerebral, 21 em situação de abrigo e 12 idosos que vivem no Lar José Passos. O trabalho é realizado por uma equipe multidisciplinar composta por fisioterapeutas, pedagogos, psicólogos, médicos veterinários, auxiliares, guias e um equitador.

Presidente da Associação de Equoterapia de Morrinhos, Dorielle Rodrigues, de 48 anos, destaca que, para a maioria dos praticantes, a equoterapia é a única forma de tratamento acessível. Em entrevista à reportagem do jornal A Redação, a zootecnista fala com emoção sobre o impacto do projeto e garante que muito pacientes apresentam rápida resposta. “Podemos dizer que muitos são transformados pela equoterapia”, afirma. “A emoção toma conta do coração ao falar sobre isso”, acrescenta a profissinal. 
 

Presidente da Associação de Equoterapia de Morrinhos, Dorielle Rodrigues
(Foto: arquivo pessoal)

 
A Associação se mantém graças à solidariedade. As doações e a realização de eventos, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Sindicato Rural do município, garantem a continuidade do projeto. Ainda assim, os custos de manutenção da equoterapia são elevados, podendo ultrapassar R$ 38 mil mensais. Por muito tempo, o medo de precisar interromper as atividades tirou o sono dos colaboradores, que lutam diariamente para manter viva a iniciativa que transforma tantas vidas.
 
No início das atividades, as dificuldades em adquirir recursos para a manutenção da atividade tornavam a preocupação cada vez maior. No entanto, o esforço da equipe em continuar falou mais alto, até que uma mão amiga fez toda a diferença. 


A trajetória da Associação de Equoterapia de Morrinhos ganhou um novo capítulo quando chegou ao conhecimento do Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO). Sensível à causa, o órgão decidiu intervir para transformar a realidade precária enfrentada pela entidade. Foi o olhar atento da promotora de Justiça Jonisy Ferreira Figueiredo que vislumbrou, por meio de uma atuação extrajudicial do MPGO, a possibilidade de reverter recursos e garantir que o serviço terapêutico funcionasse de forma adequada para a comunidade. O primeiro passo foi dado no início de 2024, com a cessão de uma área de quase 10 mil metros quadrados pelo Sindicato Rural.

 

Equipe da Associação de Equoterapia de Morrinhos, com a promotora Jonisy Ferreira 
e parte da equipe MPGO 
(Foto: arquivo pessoal)
 
“Foi o momento mais difícil e abençoado da Associação de Equoterapia de Morrinhos. Eram dias difíceis, de muito esforço, preocupação e medo de precisar paralisar os atendimentos. Vivíamos dia após dia correndo atrás de ajuda”, recorda Dorielle Rodrigues. “Foi quando fomos agraciados com a ajuda do MPGO, por meio da promotora Jonisy. Essa mão estendida resultou em uma realidade nunca vivida e, talvez, nem sonhada por nós. Saímos de uma equipe mínima de atendimentos e, por um tempo, conseguimos zerar a fila de espera. Saímos de 44 praticantes para 110. Até a festa de final de ano conseguimos fazer e confraternizar com as famílias e praticantes. Para muitos, foi a única confraternização que tiveram”, relata a presidente da Associação, sem conseguir conter as lágrimas. 

A fisioterapeuta Nathana Priscila da Silva Carneiro, coordenadora do projeto, destaca que a equoterapia vai além da reabilitação física. Segundo ela, a prática não transforma apenas a vida dos praticantes, mas também de todos que, de alguma forma, se envolvem com o projeto. “A minha, por exemplo, foi completamente mudada. Profissionalmente e pessoalmente, eu sou outra pessoa hoje. Aprendi a valorizar as pequenas vitórias, os gestos simples, aquilo que muita gente nem nota no dia a dia. Cada sorriso, cada avanço, por menor que pareça, é uma conquista gigantesca. A Associação é um lugar onde a vida acontece de verdade, onde cada história toca a outra e todo mundo sai transformado”, declara, emocionada. Ela faz questão de reforçar que o Ministério Público de Goiás teve um papel essencial nessa trajetória.


Nathana Priscila da Silva Carneiro em acompanhamento
terapeutico de equoterapia, em Morrinhos (Foto: arquivo pessoal)

Antes da parceria, os atendimentos eram limitados, com poucos cavalos e profissionais. “Com o apoio do Ministério Público, tudo mudou: hoje atendemos mais de 100 praticantes e contamos com 10 profissionais, incluindo veterinário. Esse apoio não trouxe apenas crescimento, mas também credibilidade, porque deu visibilidade e respeito ao nosso trabalho, abrindo portas e fortalecendo a confiança da comunidade no trabalho realizado”, explica. Nathana ressalta ainda a importância da continuidade dessa colaboração. “A equoterapia é um tratamento caro, envolve alimentação dos animais, manutenção, profissionais qualificados, e mesmo assim oferecemos tudo de forma 100% gratuita. Por mais que a gente lute todos os dias, a realidade é que a equoterapia sempre caminha ‘na corda bamba’. O apoio do MPGO é um pilar que garante a continuidade dos atendimentos e mantém viva a esperança de muitas famílias.”
 

Foi com atenção às necessidades dos assistidos e à crescente demanda pela terapia que a promotora Jonisy, então titular da 3ª Promotoria de Justiça de Morrinhos, decidiu abraçar o projeto. “A Associação faz um trabalho maravilhoso e muito importante, especialmente para as crianças”, ressalta.

Ela lembra que conheceu a iniciativa ainda em seus primeiros passos, quando as sessões de equoterapia eram realizadas no Sindicato Rural da cidade, enfrentando muitas dificuldades. “Soubemos de campanhas que estavam realizando para arrecadar recursos. A partir disso, nós nos aproximamos da entidade, buscando conhecer como era o trabalho realizado e quantas crianças e adolescentes eram atendidos. Foi à primeira vista, ficamos muito encantados com as atividades e da forma como eram desenvolvidas”, recorda a promotora Jonisy.


(Foto: MPGO)

Ao perceber os desafios enfrentados pela Associação para manter as terapias, ela identificou a possibilidade de, por meio de atuação extrajudicial do MP, reverter recursos e viabilizar um funcionamento mais estruturado do serviço. Por meio de acordos de persecução penal, firmados nos processos conduzidos pela Promotoria de Morrinhos, o Ministério Público passou a destinar recursos ao projeto. “Não só isso, passamos a ter um contato direto com a presidência da entidade e, com essa ponte de diálogo e parceria, foi possível promover o aumento das equipes e também ampliar o atendimento a mais crianças”, explica a promotora.

"Começamos a ver e compreender a importância do projeto. A equoterapia é um trabalho encantador, que promove inúmeros benefícios. À época, tinha uma enorme fila de espera para os atendimentos, porque as crianças que fazem esse método de terapia têm uma integração muito rápida com os animais e com os monitores. Nos encantamos muito com o trabalho e, assim, vimos que a destinação de recursos promoveria muitos benefícios para a comunidade".
(Jonisy Ferreira Figueiredo, promotora de Justiça)

Segundo Jonisy, o MPGO verdadeiramente abraçou o projeto. Ela descreve que, além do auxílio com a destinação de recursos, nasceu também uma parceria, que consolidou a estruturação da Associação de Equoterapia de Morrinhos. Isso porque a atuação da 3ª Promotoria contribuiu também para o aumento da credibilidade do projeto, onde as pessoas começaram a ver, de forma mais nítida, a seriedade dos trabalhos e passou a ter, também, mais visibilidade na comunidade.

“Podemos dizer que o impacto do projeto é muito grande para a população da cidade, principalmente das pessoas em situação de vulnerabilidade. É uma integração tão bonita entre as crianças e o cavalo. Quando realizamos visitas, escutamos muito as crianças falarem sobre liberdade, algumas chegavam a falar que a equoterapia era a vida delas. Os pais também ficam muito felizes, percebemos que são muito sensíveis”, afirma Jonisy.


(Foto: MPGO)
 
Hoje, a promotora não atua mais na Comarca de Morrinhos. Promovida, foi transferida para a Capital, mas não esconde o carinho que mantém pela Associação. “Nosso sonho é que o projeto cresça cada vez mais e alcance cada vez mais crianças. O que recebemos em troca é algo muito maior do que o que doamos”, detalha.

O sentimento de gratidão é igualmente recíproco por parte da Associação de Equoterapia de Morrinhos. “Foi uma ajuda muito significativa. Veio em um momento muito importante para a consolidação da entidade e para a manutenção das terapias aos assistidos”, finaliza a diretora Dorielle Rodrigues ao afirmar que, ao olhar para o futuro, a esperança e a expectativa são as melhores possíveis.
 
 
 
 
 
 
 

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