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Da sala de aula aos laboratórios

Jovens cientistas transformam curiosidade em inovação e impacto econômico

Ideias moldam carreiras e indústria | 30.10.25 - 11:35 Jovens cientistas transformam curiosidade em inovação e impacto econômico (Foto: Bruno Hermano/A Redação)

Fernando Dantas
Especial para o jornal A Redação

Goiânia - Nos laboratórios da unidade Planalto do Serviço Social da Indústria (Sesi), em Goiânia, microscópios dividem espaço com computadores, balanças de precisão, kits de eletrônica e robótica, sensores, tubos de ensaio e mesas abarrotadas de experimentos. Mas o que poderia parecer apenas um ambiente de estudo para aprender fórmulas e protocolos se revela um espaço de descoberta, criatividade e inovação científica, onde estudantes se aproximam da prática real da ciência e da tecnologia. É nesse cenário, entre experiências, erros e acertos, que podem se formar futuros pesquisadores, cientistas, profissionais, técnicos e empreendedores capazes de transformar não apenas a indústria, mas a própria sociedade.
 
Nesse contexto se destacam três adolescentes: Júlia Ribeiro Moraes Paiva, Matheus Baruch Lima e Yasmin Nunes Paulino, todos com 14 anos e alunos do 8º ano da unidade. Neste ano, eles conquistaram medalhas de ouro na Olimpíada Nacional de Ciências (ONC), considerada a maior competição científica estudantil do país. Porém, o que começou como uma competição escolar mostrou que a curiosidade científica, quando estimulada desde cedo, pode transformar a vida dos jovens e impulsionar a inovação e a economia de Goiás.
 
“Essa experiência me ensinou que pensar como um cientista é usar a curiosidade e o raciocínio para entender e resolver problemas”, destaca Júlia, que faz parte da Liga de Ciências, uma atividade extracurricular do Sesi Planalto. Já Matheus diz que a conquista da medalha de ouro é a prova de que tudo pode acontecer se a pessoa vai atrás dos sonhos e investe em estudos. “O que mais me marcou durante esse processo foi o aprendizado, algo que nunca poderá ser retirado, mas sim, aprimorado”. Para Yasmin, o resultado da ONC revelou muito mais do que uma competição. “Me fez acreditar ainda mais em mim e mostrou que sou capaz de alcançar grandes resultados quando me dedico. Além disso, aprendi que pensar como um cientista é observar o mundo com curiosidade e buscar entender o porquê das coisas. É ter paciência, fazer perguntas e nunca desistir”, revela.        

O desempenho histórico do Sesi Goiás — 12 ouros, 12 pratas, 25 bronzes e 60 menções honrosas — é resultado de um modelo de ensino que busca ir além do conteúdo tradicional, afirma o diretor de Educação e Tecnologia do Sesi Goiás e Serviço Nacional da Indústria (Senai Goiás), Claudemir Bonatto. Segundo ele, cada medalha representa a confirmação de um método que conecta educação científica, inovação e preparação para o futuro. “A medalha é apenas um símbolo. O verdadeiro prêmio é ver esses jovens pensando de forma científica. Eles aprendem a questionar, formular hipóteses, testar ideias e buscar soluções. É isso que vai transformar o futuro do país, não apenas a pontuação em uma competição”, afirma.


Diretor de Educação e Tecnologia do Sesi e do Senai Goiás, Claudemir Bonatto diz
que a verdadeira premiação é ver os alunos pensando de forma científica (Foto: Naira Batista)

Para Claudemir, o diferencial do Sesi e do Senai está em unir estrutura, tecnologia e metodologias ativas. Ele lista laboratórios modernos, robótica, projetos Makers – que utilizam a metodologia ‘faça você mesmo’ -, salas de aula invertidas e o método Steam (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), criando um ambiente que desenvolve não só competências cognitivas e técnicas, mas também habilidades socioemocionais, como trabalho em equipe, pensamento crítico e criatividade.

 
No dia a dia, quem acompanha de perto a transformação e a evolução dos estudantes é o professor Alan Kardec Amaral Lopes, que há três anos leciona a disciplina de Ciências no Ensino Fundamental do Sesi Planalto e que orienta os alunos na Liga de Ciências. Para ele, a magia ocorre quando a teoria se transforma em prática. “Aproximamos o conteúdo da realidade, tornando o aprendizado mais significativo, envolvente, permitindo que os alunos experimentem, errem, acertem e aprendam de verdade”.
 
Alan revela que o mais importante é ver os estudantes descobrindo a vocação deles dentro da ciência, seja em energia, biologia, tecnologia, sustentabilidade, relações humanas, matemática etc. “O encantamento acontece quando o aluno percebe que a ciência vai além do livro, que está ligada ao que ele realmente gosta e sabe fazer bem. No nosso trabalho, além de desenvolver as aptidões científicas, buscamos identificar em cada estudante as áreas em que mais se destacam e valorizar isso. Ver cada um encontrando seu caminho é o que dá sentido a tudo”, celebra.


Professor Alan Kardec Amaral Lopes orienta os alunos Matheus Baruch, Júlia Ribeiro e
Yasmin Nunes por meio da Liga de Ciências (Foto: Bruno Hermano/A Redação)

Uma das formas de estimular o interesse do aluno pela ciência é a participação em torneios, competições e eventos científicos, de robótica e de inovação. Isso porque demanda do estudante, entre vários requisitos, dedicação, conhecimento e comprometimento. Alan explica, por exemplo, que a preparação para a ONC é intensa, exigindo estudo de Física, Química, Biologia, Matemática, Astronomia, História e Geografia, assim como debates, exercícios e resolução de provas anteriores. Ele lembra os desafios enfrentados pelos alunos, passando por ritmo puxado, dedicação fora do horário escolar e horas de concentração. “A própria ONC tem duas fases bem exigentes, por isso chegamos a nos reunir mais de uma vez por semana pela Liga de Ciências. São dias longos, de muito estudo, discussão e foco. Saímos muitas vezes exaustos, mas com o coração cheio de propósito. Ver o resultado, o entusiasmo e o crescimento dos alunos, faz cada minuto valer a pena”, destaca.


 (Crédito: Arte/Fernando Rafael)
 

O diretor Claudemir Bonatto reforça que a abordagem do Sesi e do Senai se preocupa em formar profissionais para o mercado de trabalho e contribuir para a transformação da indústria goiana. “Nenhum país se tornou competitivo sem investir em ciência e tecnologia. Nossos alunos estão sendo preparados para áreas estratégicas como automação, biotecnologia, energia renovável e Indústria 5.0. A curiosidade que nasce na escola pode moldar a força de trabalho de Goiás nas próximas décadas. Eles aprendem a transformar conhecimento em inovação, e é isso que move o futuro”, enfatiza.
 
Essa visão é compartilhada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), André Rocha, que destaca o compromisso do Sistema Fieg com a formação e a construção de uma cultura científica desde a base. “O Sistema tem compromisso com a formação de talentos. Nossas escolas Sesi e Senai vão além do conteúdo formal, incentivam o pensamento crítico, a criatividade e a busca por soluções reais. Os prêmios em olimpíadas são reflexo desse esforço coletivo, que começa na base e chega à indústria”, afirma.
 
Para ele, o incentivo à iniciação científica é um dos pilares para o fortalecimento da indústria goiana e para o futuro da economia do Estado. “A indústria do futuro exige jovens com capacidade de propor, testar e implementar soluções. Ao estimular a iniciação científica desde cedo, criamos uma cultura de inovação. Em áreas como automação, biotecnologia e energia limpa, isso significa competitividade, produtividade e inserção global”, pontua o presidente.


Presidente do Sistema Fieg, André Rocha defende que o incentivo à iniciação científica é um dos
pilares para o fortalecimento da indústria goiana (Foto: Naira Batista)

André Rocha também ressalta que o avanço tecnológico exige novas competências e um olhar humanizado para a inovação. “Precisamos ir além da formação técnica. A Indústria 5.0 exige empatia, criatividade, pensamento sistêmico. Por isso, investimos em currículos integrados, robótica, projetos colaborativos e conexão com o mundo real. Queremos jovens que não apenas operem tecnologia, mas que criem novas soluções”, destaca.

Segundo ele, a filosofia que norteia o trabalho do Sistema Fieg — de que “a ciência desperta o raciocínio, e o raciocínio é o motor da inovação industrial” — se traduz em ações concretas dentro das escolas e unidades do Sesi e Senai em todo o Estado. “Transformamos essa filosofia em ação quando levamos projetos de iniciação científica para dentro das escolas, conectamos alunos com empresas e criamos ambientes de experimentação. Temos escolas com laboratórios de última geração, professores treinados para estimular a curiosidade e programas que aproximam o estudante da realidade industrial”, enfatiza.
 



Para a estudante Evelyn Oliveira Carlos, de 18 anos, a ciência deixou de ser apenas um conteúdo de prova para se tornar uma força transformadora em sua vida. Aluna do 3° ano do Ensino Médio no Sesi Planalto, ela foi eleita a melhor aluna da Olimpíada Brasileira de Robótica em 2024, feito que lhe garantiu uma bolsa de estudos em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde participará de um programa internacional em agosto de 2026. “Essa vitória representa o reconhecimento do meu esforço, a confiança da escola em meu potencial e a oportunidade de transformar ideias em resultados concretos”, explica. Para ela, cada desafio nas competições, seja de ciência ou robótica, foi uma chance de descobrir algo novo, desenvolver raciocínio lógico e entender que errar faz parte do processo de aprendizado.

Desde que entrou no Sesi Planalto, há cinco anos, Evelyn encontrou na metodologia Steam e nos projetos de ciência da escola a inspiração para se aprofundar em tecnologia e inovação. “O momento mais marcante foi quando percebi que cada desafio ou problema não era apenas uma questão de acertar a resposta, mas de entender o porquê das coisas. Essa experiência me fez enxergar que a ciência vai além dos livros, ela muda a forma como observamos o mundo, nos ensina a questionar, investigar e encontrar sentido em cada descoberta”, diz. Atualmente, cursando Itinerário Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, Evelyn planeja unir ciência e tecnologia, seguindo carreira nas áreas de Engenharia de Software e Inteligência Artificial.


 (Crédito: Arte/Fernando Rafael)

Paralelamente, João Vitor Soudré e Gabriel Craveiro, ambos de 20 anos e estudantes de Engenharia de Software, transformaram a paixão pela ciência e robótica em um verdadeiro empreendimento. A GTech nasceu em 2019, quando eles tinham apenas 14 anos, estavam no 9º ano do Ensino Fundamental no Sesi Goiás e ministravam aulas de robótica para colegas do Ensino Médio, em uma unidade escolar particular de Goiânia. A experiência inicial despertou um espírito empreendedor que os acompanharia pelos anos seguintes. Hoje, a Gtech atende escolas em todo o Brasil, oferecendo capacitações, torneios, eventos educacionais e vendas de materiais didáticos, além de fornecer profissionais para ensino de robótica e Maker.
 
Com faturamento anual de cerca de R$ 250 mil, a startup se consolidou como referência em educação tecnológica. “A Gtech possui vários tipos de serviço, e cada um deles fez parte da nossa formação para conseguirmos estar onde estamos hoje, desde as primeiras capacitações prestadas praticamente sem lucro algum, até hoje com desenvolvimento de materiais educacionais. Esse processo de quase seis anos acaba deixando as pessoas mais experientes”, afirma João.
 
Ele relata ainda que cada etapa, desde os primeiros protótipos até torneios internacionais, como o mundial em Houston, nos Estados Unidos, mostrou que a base científica do Sesi serviu de preparo para ir além do que eles esperavam. João elenca que a estrutura e os laboratórios da escola, a orientação de professores e a experiência prática em robótica foram decisivos para desenvolver não apenas habilidades técnicas, mas também criatividade, trabalho em equipe e pensamento crítico.
 
Mas para chegar a ter uma startup consolidada no mercado foi preciso driblar alguns desafios. “Com certeza a principal foi nossa idade. Hoje em dia está até mais tranquilo, depois que cresceu um pouco de barba [risos], mas no início conquistar a confiança dos clientes era um tanto quanto mais desafiador, mas com resultados e serviço tudo melhora. Em agosto tivemos a oportunidade de levar oito alunos para a Coreia do Sul, isso mostra que a falta de confiança já não é mais um problema”, celebra João.
 
Já Gabriel Craveiro comemora que Goiás está se tornando referência em projetos voltados à tecnologia, fazendo com que o estado estimule outras áreas inovadoras e ‘saia da bolha’ de um local bem desenvolvido somente por causa do agronegócio. “Ser referência em vários setores pode ser um bom negócio”. Ele acrescenta que às vezes passa despercebida, mas a robótica educacional tem um papel importante no desenvolvimento de habilidades socioemocionais. “Isso ajuda a melhorar oratória, trabalho em equipe, domínio de ferramentas tecnológicas, raciocínio lógico, entre outros. Existem pesquisas que mostram que pelo menos 43% dos estudantes que participam de competições de robótica têm interesse em continuar na área, o que já é um avanço considerável, e uma amostra de que no Brasil não temos só bons jogadores de futebol”, relata.


Amigos desde o Ensino Fundamental, João Vitor Sodré e Gabriel Craveiro
viram na ciência robótica a oportunidade para empreenderem (Fotos: Arquivo Pessoal)

A trajetória de Evelyn, João e Gabriel evidencia como o ensino científico pode gerar resultados concretos, mudar trajetórias pessoais e profissionais e inspirar outros jovens. Para eles, ciência e tecnologia não são apenas ferramentas de estudo, mas engrenagens de transformação social e econômica. “Comece onde você está. Use o que você tem. Faça o que puder”, lembram João e Gabriel, citando Arthur Ashe - tenista norte-americano e considerado lenda no esporte -, lema que orienta suas escolhas e que reflete o espírito de iniciativa, coragem e curiosidade que eles cultivaram desde a escola.



Os alunos e ex-alunos do Sesi Planalto transformaram curiosidade em medalhas, bolsas internacionais e startups, mas também representam uma parcela dos jovens brasileiros que são interessados por ciência e inovação. É o que revela o estudo ‘Confiança na Ciência no Brasil em tempos de pandemia’, divulgado em 2024 pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT), com sede na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz).
 
O estudo mostrou que continua alto o interesse dos jovens por ciência e tecnologia e assuntos que permeiam essa temática: 77% afirmam ter muito interesse ou interesse por meio ambiente; 67%, por ciência e tecnologia; e 66%, por medicina e saúde. O interesse em ciência e tecnologia é maior entre aqueles de escolaridade mais elevada e com diferenças entre as regiões do país, sendo o Norte a região com o percentual mais alto.
 
As fontes utilizadas com maior frequência pelos jovens para se informar sobre ciência e tecnologia são a internet e as redes sociais. Considerando plataformas e aplicativos, os meios mais usados para acessar conteúdos são o Google (87% dos entrevistados), o Instagram (80%) e o YouTube (77%).


 (Crédito: Arte/Fernando Rafael)

Além das instituições de ensino, outras iniciativas têm buscado fortalecer o caminho da ciência desde a base. Há políticas e programas que estimulam jovens a explorar, criar e inovar, com impacto direto na indústria e na economia do estado.
 
É nesse contexto que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) atua de forma estratégica para fortalecer a iniciação científica e a cultura de pesquisa. Segundo o presidente da entidade, Marcos Fernando Arriel, por meio de editais específicos a Fundação destina recursos e bolsas de Iniciação Científica (IC) e Iniciação Científica Júnior (IC-Jr) a alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior, promovendo oportunidades que aproximam os estudantes do universo científico. Além disso, a Fapeg investe em programas voltados à inclusão de grupos sub-representados, como Goianas na Ciência e Inovação e Meninas e Mulheres em Steam, incentivando a participação feminina em áreas como Engenharia, Computação e Ciências Exatas.
 
“Essas iniciativas não apenas aproximam os estudantes da pesquisa, mas contribuem para a formação de uma cultura científica e inovadora desde cedo, essencial para o futuro da economia goiana”, afirma Arriel. Ele informa que programas como Meninas Cientistas, apoiados pela Fapeg e pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), têm transformado ainda o ambiente escolar ao derrubar barreiras históricas e promover o protagonismo feminino na ciência. “As participantes são envolvidas em atividades práticas de pesquisa e experimentação, orientadas por professoras e pesquisadoras que se tornam mentoras e referências inspiradoras. Essas ações estimulam o pensamento crítico, a criatividade e o interesse pela ciência de forma concreta — muitas vezes com projetos que dialogam com temas regionais, como sustentabilidade, bioinsumos e tecnologia aplicada ao Cerrado. Além de fomentar vocações, esses programas aproximam a ciência da comunidade, mostrando que o conhecimento pode transformar realidades”, acrescenta.

Além do impacto educacional, o incentivo à ciência tem efeitos diretos na indústria goiana. “Os jovens que hoje têm contato com ciência e inovação serão os profissionais que amanhã irão transformar a indústria local. Eles chegam ao mercado com visão analítica e criativa, capazes de propor soluções tecnológicas e sustentáveis, aumentando a competitividade das empresas e atraindo investimentos. Quando a formação científica aborda temas regionais, como biotecnologia, agroindústria e uso sustentável do Cerrado, cria-se uma sinergia entre conhecimento e demandas produtivas do estado”, explica Arriel.


Presidente da Fapeg, Marcos Fernando Arriel destaca que, além do impacto educacional,
o incentivo à ciência tem efeitos diretos na indústria goiana (Foto: Fapeg)

O presidente da Fapeg vai além e defende que investir em ciência desde cedo é investir em uma nova forma de pensar. “Quando a pesquisa entra na sala de aula, o aluno deixa de ser apenas um receptor de informação e se torna um protagonista do conhecimento. A iniciação científica é, portanto, uma ponte entre o aprendizado e o desenvolvimento do país”, enfatiza.
 
Por isso, explica ele, a Fapeg ainda mantém parcerias estratégicas com universidades e institutos federais, como Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Estadual de Goiás (UEG) e Instituto Federal de Goiás (IFG), que orientam projetos de iniciação científica. Com o Sistema S, incluindo Sesi e Senai, a Fundação desenvolve programas que conectam pesquisa e setor produtivo, como Inova Talentos IEL/Fapeg e Tecnova III. Um exemplo concreto é o Edital Fapeg nº 31/2024, que seleciona bolsistas para atuarem em projetos de desenvolvimento tecnológico e industrial em institutos do Senai, fortalecendo a inovação industrial e formando profissionais qualificados.
 
A Fundação também atua para promover a inclusão e a diversidade na ciência, por meio do Comitê Permanente para Questões da Mulher e Diversidade (CPQMD) e de editais que priorizam instituições fora da Região Metropolitana de Goiânia, ampliando a participação de estudantes de diferentes contextos sociais. Entre os programas recentes estão a Chamada Pública Fapeg/Secti nº 08/2024 – Meninas em Steam, que incentiva meninas do Ensino Fundamental, Médio e Profissional da rede pública a seguirem carreiras científicas, e o Programa Pró-Licenciaturas, que apoia pesquisas nas áreas de formação docente.
 
Para Arriel, o impacto desse investimento é duplo: a médio prazo, formar uma geração de jovens críticos, criativos e mais interessados em ciência; a longo prazo, criar um estado mais inovador, competitivo e sustentável, capaz de gerar startups, soluções tecnológicas e políticas públicas baseadas em evidências. “Trata-se de um investimento no futuro de Goiás, na inteligência, na curiosidade e na capacidade transformadora da juventude”, conclui.



Enquanto programas de fomento como os da Fapeg ajudam a formar uma geração de jovens pesquisadores, no norte de Goiás um projeto vem abrindo caminhos para meninas que sonham em ocupar a ciência. Coordenado pela professora Renatha Cândida da Cruz, do Instituto Federal de Goiás – Câmpus Uruaçu, o projeto Meninas Cientistas tem transformado o cenário local ao unir inclusão, tecnologia e propósito.

De acordo com ela, a ideia nasceu dentro do próprio IFG, a partir de pesquisas sobre autonomia e empoderamento de mulheres, e o projeto ganhou forma com a aprovação, em 2018, da proposta submetida ao Edital 31/2018 CNPq/MCTIC [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações] - Meninas nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação. “Com o apoio do CNPq, passamos a ofertar formação a meninas do ensino fundamental e médio das escolas públicas de Uruaçu. Nosso principal objetivo era criar um espaço de incentivo, pertencimento e formação para meninas do interior de Goiás, especialmente da rede pública, mostrando que ciência, tecnologia e inovação são espaços possíveis para todas”, explica.


Projeto surgiu no norte de Goiás e hoje se consolidou como referência
regional em políticas de gênero e ciência (Fotos: Arquivo Pessoal)

Renatha explica que o foco inicial foi atender estudantes quilombolas, em vulnerabilidade social, com necessidades educacionais específicas ou moradoras de áreas rurais, com a proposta de aproximar as meninas da prática científica e mostrar que o conhecimento pode resolver problemas reais do cotidiano.
 
Ela relata que o projeto cresceu rapidamente e se consolidou como referência regional em políticas de gênero e ciência. “Fizemos uma leitura de que o distanciamento das meninas e mulheres das áreas científicas e tecnológicas tem raízes estruturais e simbólicas. Faltam referências femininas, oportunidades de vivência e ambientes acolhedores. Foi isso que nos motivou a construir uma rede de apoio e visibilidade para meninas e mulheres na ciência”, afirma.
 
Com o passar dos anos, o projeto Meninas Cientistas conquistou reconhecimento e apoio de diversas instituições. Segundo Renatha, foram mais de 16 aprovações em editais de fomento, com recursos que ultrapassam R$ 3 milhões, garantindo quase 500 bolsas de iniciação científica. “Hoje temos parcerias com o CNPq, a Fapeg, o British Council, o Museu do Amanhã, o Ministério da Educação, a Universidade Estadual de Goiás, além de vários institutos federais do país. Atendemos estudantes em Uruaçu e Cavalcante, no nordeste de Goiás, e contamos com o apoio dos Conselhos Municipais da Criança e do Adolescente”, enumera.
 
Entre as atividades do projeto estão oficinas práticas de robótica, modelagem 3D, corte a laser, biotecnologia e química aplicada, além de eventos científicos, mentorias, visitas técnicas e participação em feiras de inovação, como a Campus Party. “Buscamos despertar a curiosidade e o protagonismo científico das meninas, aproximando a ciência das questões do Cerrado e das demandas sociais. Elas participam de feiras, ministram oficinas e até palestram, desenvolvendo autonomia e comunicação”, explica.
 
De acordo com Renatha, a robótica e a biotecnologia são áreas que mais despertam interesse, especialmente quando as meninas percebem que a tecnologia pode ser usada para resolver problemas ambientais e de inclusão. “Também há encantamento pela química, literatura e informática. É bonito ver como cada uma encontra seu espaço e se reconhece como criadora”, observa.
 
Os resultados, segundo ela, são expressivos. “Já formamos mais de mil estudantes, com a maioria de meninas e grande parcela com bolsas de iniciação científica. Tivemos uma aluna representando o Brasil no Parlamento Juvenil do Mercosul na Argentina e outras que seguiram para graduação e mestrado. Uma delas já conclui o mestrado agora. São trajetórias que nasceram da curiosidade e da oportunidade”, conta.
 
Apesar das conquistas, Renatha reconhece que os desafios continuam. “Garantir a continuidade do financiamento, manter as bolsas e os equipamentos e ampliar o alcance são desafios permanentes. Trabalhar com ciência e gênero no interior exige sensibilização constante. Ainda enfrentamos desigualdades de acesso e a sobreposição das jornadas de trabalho e cuidado, que afetam pesquisadoras e estudantes”, pontua.


Coordenadora do projeto Meninas Cientistas, Renatha Cândida da Cruz afirma
que uma das metas é ampliar as ações para outros municípios goianos (Foto: Arquivo Pessoal)

Com olhar voltado para o futuro, a coordenadora explica que o projeto tem metas como ampliar ações para outros municípios, montar um laboratório móvel para levar a ciência até comunidades quilombolas e rurais, criar núcleos de biotecnologia e robótica, fortalecer redes regionais de meninas e mulheres em Steam e consolidar um observatório de gênero e ciência no Cerrado. “Queremos expandir as formações também para professoras, incentivando práticas pedagógicas mais inclusivas. A ciência precisa ser acessível, e o interior tem muito a contribuir”, ressalta.
 
Para Renatha, o projeto Meninas Cientistas vai além da pesquisa. “O projeto é sobre construir pertencimento. Quando uma menina do interior entende que pode ser cientista, ela transforma a própria realidade. E quando uma se transforma, muitas outras seguem o mesmo caminho. A ciência precisa dessa rede, dessa coragem e dessa criatividade”, complementa.
 
Meninas, como as de Uruaçu; adolescentes medalhistas olímpicos do Sesi Senai; ou mesmo jovens empreendedores do ensino e da robótica - exemplos não faltam de que o futuro já está sendo construído pela ciência e pela educação. É um mundo em efervescência e ebulição que irá transformar a realidade, da economia, da indústria, deles próprios e de todos.


 (Crédito: Arte/Fernando Rafael)

 
 
 
 



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