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Pare de coçar os olhos

Ceratocone: a jornada silenciosa da visão turva

Condição é comum entre os jovens | 03.11.25 - 18:05 Ceratocone: a jornada silenciosa da visão turva Izabela Carvalho (Foto: divulgação)
Izabela Carvalho
Especial para A Redação

Goiânia - 
Imagine, na flor da adolescência, o mundo começar a perder a nitidez. Óculos trocados com frequência já não dão conta, e a frustração vira uma companheira constante. Essa é a realidade para muitos jovens que descobrem o ceratocone, uma condição em que a córnea, fina e frágil, se afina e se projeta para frente, formando uma espécie de cone. É uma doença que avança silenciosamente, da juventude até por volta dos 40 anos, e que pode se agravar durante a gravidez.
 
No Brasil, ela toca a vida de até 2% dos jovens. Em Goiás, os números oficiais podem ser escassos, mas nos consultórios as histórias se repetem: astigmatismo que evolui rápido, a sensação de impotência quando os óculos não funcionam mais e a confirmação que vem no exame de mapeamento da córnea. É um susto que exige ação imediata.
 
Nesse momento de incerteza, encontrar o caminho certo faz toda a diferença. E é aqui que encontrar um oftalmologista especializado pode mudar o destino do paciente com ceratocone.
 
Um perigo quase invisível
A oftalmologista Gabriela Belém alerta que o ceratocone é, muitas vezes, uma urgência silenciosa. "É uma doença frequentemente subdiagnosticada. Muitas vezes, o diagnóstico não é feito de forma adequada", explica, destacando o abismo entre quem tem a doença e quem, de fato, sabe que tem.
 
Um dos fatores que mais agravam a condição, segundo ela, é um hábito aparentemente inofensivo: coçar os olhos. "Isso piora a doença, faz ela progredir mais rápido e de forma mais agressiva", orienta.
 
A melhor arma contra o ceratocone é o diagnóstico precoce. Quanto antes for descoberto, maiores são as chances de controlar fatores de risco, como alergias, e estabelecer uma rotina rigorosa de acompanhamento.
 
Na prática, isso significa apostar no básico que salva: consultas anuais, atenção a sinais de alerta – como astigmatismo alto ou um aumento rápido do grau – e a realização da tomografia corneana, um exame essencial para entender a forma e a espessura da córnea.
 
"Uma vez diagnosticado, o acompanhamento precisa ser, no mínimo, uma vez ao ano, mas na maioria dos casos, a cada seis meses, ou até mais cedo", detalha a doutora Gabriela. Ela é franca: "Não há promessa de cura. Há um plano, vigilância e escolhas. Mesmo pacientes que fazem transplante de córnea não têm cura da doença; temos tratamento e acompanhamento."

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A vida depois do diagnóstico
No consultório e no centro cirúrgico, a teoria ganha vida em histórias reais de superação. A paciente Daniela Urani chegou até a doutora Gabriela com uma baixa visual significativa. "A Daniela é uma paciente que tem ceratocone. Ela chegou com uma baixa visual já mais importante. E a gente fez uma cirurgia nela de anel, para tentar melhorar a forma da córnea", relata a médica.
 
Foi utilizado um anel de Ferrara, que tem o poder de regularizar a curvatura da córnea, devolvendo nitidez e, o mais importante, autonomia. "Controlamos os fatores ambientais e fizemos a cirurgia. Ela ficou super bem, mas precisa manter o acompanhamento", atesta a especialista.
 
Daniela conta a mesma história com a emoção de quem voltou a enxergar a vida com clareza: "Comecei a fazer exames, e infelizmente constataram que eu tinha ceratocone. Foi quando conheci a doutora Gabriela. Fiz a cirurgia dos dois olhos... Quando eu fiz a cirurgia, usava um óculos de 10 graus em cada olho, e mesmo assim não adiantava. Hoje, meu grau foi para 3,5. Sou uma pessoa realizada por tudo que a cirurgia melhorou em minha vida".
 
Esse depoimento é a tradução perfeita do que a doutora Gabriela sempre repete: o tratamento é um caminho, não uma linha de chegada. O anel dá um fôlego à visão, mas o relógio do acompanhamento não para, e o alerta para não coçar os olhos segue mais vivo do que nunca.
 
Dedicação à arte de cuidar
A trajetória da oftalmologista Gabriela Belém explica a confiança que tanto pacientes quanto residentes depositam nela. Sua formação é sólida: formou-se em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fez residência em oftalmologia pelo Hospital de Olhos Aparecida. Decidida a se aprofundar, realizou uma subespecialização em córnea e doenças externas no Cerof, o Centro de Referência em Oftalmologia da Universidade Federal de Goiás.
 
Hoje, sua atuação se concentra em córnea, catarata e cirurgias da superfície ocular. "Meu intuito é sempre ajudar os pacientes a enxergarem da melhor forma possível e terem uma qualidade de vida melhor através da visão", diz.
 
Além do consultório, ela circula pelos corredores do ensino, atuando como preceptora nos mesmos lugares que a formaram: o Hospital de Olhos Aparecida e o Cerof. "Lá, trabalhamos com pacientes do SUS, pessoas de baixa renda que contam com o acesso a tratamentos de qualidade", explica, mostrando seu compromisso com a saúde pública.
 
No fim, esta não é apenas a história de uma doença, mas a narrativa de um ofício guiado pela empatia. Entre o ambulatório, o centro cirúrgico e a sala de aula, a doutora Gabriela Belém compõe uma rotina dedicada a enxergar o paciente por trás da patologia. Atende pelo SUS, orienta residentes, opera quando necessário e insiste no "óbvio" que salva visões: informação desde cedo, intervenção no momento certo e acompanhamento para a vida toda.
 
Para quem convive com o ceratocone, pode não haver cura. Mas para quem se dedica a cuidar, como a doutora Gabriela, há um objetivo claro e profundamente humano: fazer com que cada paciente volte a enxergar a própria vida, em todos os seus detalhes, com a nitidez que ela merece.

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