Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 14º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Efeitos climáticos

Nordeste goiano enfrenta pior seca desde novembro de 2024

Região passou de seca moderada a grave | 22.11.25 - 08:00 Nordeste goiano enfrenta pior seca desde novembro de 2024 (Foto: Reprodução)Samuel Straioto

Goiânia - O nordeste de Goiás enfrenta a pior situação de seca desde novembro de 2024. A região passou de seca moderada para seca grave em outubro deste ano, segundo o Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O fenômeno afeta agricultura, pecuária e abastecimento de água em diversos municípios. Guarani de Goiás e Guarinos decretaram situação de emergência em novembro em virtude da estiagem.

Em novembro, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) reconheceu situação de emergência em municípios goianos afetados por estiagem e seca. O reconhecimento federal permite que as prefeituras solicitem recursos para ações de defesa civil, como distribuição de cestas básicas, água potável e kits de higiene. O ministro Waldez Góes explica que os recursos podem ser empregados para assistência humanitária e restabelecimento de serviços essenciais.

Entre agosto e setembro de 2025, a área com seca em Goiás diminuiu de 86% para 81% do território estadual. Mesmo com essa redução, o estado registrou intensificação do fenômeno. As áreas com seca grave aumentaram de 2% para 3%, enquanto a seca moderada avançou de 41% para 53%.

É a pior condição no território goiano desde os 27% de seca grave registrados em novembro de 2024, segundo a ANA. Goiás apresentou a condição mais severa do fenômeno no Centro-Oeste em setembro, sendo a única unidade da Federação da região a registrar redução da área total com seca.

Agravamento no nordeste
Em outubro, devido às anomalias negativas de precipitação, houve avanço da seca fraca no oeste e sudoeste do estado e da seca moderada no norte, centro e sul. O nordeste goiano registrou o agravamento mais significativo, com a seca passando de moderada para grave.

Os impactos são classificados pela ANA como de curto e longo prazo. Isso significa prejuízos imediatos à produção agropecuária e ao abastecimento de água, além de consequências duradouras para a economia regional.

Municípios em emergência
Guarani de Goiás e Guarinos tiveram suas situações de emergência reconhecidas pelo Ministério da Integração por meio das Portarias nº 3.290, de 5 de novembro, e nº 3.352, de 12 de novembro de 2025, publicadas no Diário Oficial da União.

O geógrafo e especialista em climatologia Marcus Vinícius Almeida explica que a região nordeste apresenta características que agravam a seca. "O nordeste goiano tem um regime de chuvas mais irregular. Quando somamos isso às mudanças climáticas globais e ao desmatamento local, criamos um cenário propício para secas mais intensas e prolongadas", analisa.

A agrônoma e pesquisadora em recursos hídricos Laura Mendes destaca os impactos na produção. "A estiagem prolongada compromete não apenas a safra atual, mas também o plantio das próximas. O solo perde umidade, a recarga dos lençóis freáticos diminui e isso cria um ciclo de vulnerabilidade que pode durar anos", afirma.

Com o reconhecimento federal, as prefeituras podem solicitar recursos ao Ministério por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Com base nas informações enviadas nos planos de trabalho, a equipe técnica da Defesa Civil Nacional avalia as metas e os valores solicitados.

O ministro Waldez Góes explica como os repasses podem ser aplicados. "Os recursos da Defesa Civil podem ser empregados naquele primeiro momento que acontece o desastre para fazer assistência humanitária, para dar kits de higiene, alimentação para as pessoas que foram atingidas, bem como para restabelecimento dos serviços essenciais, como abastecimento de água", afirma.

O secretário nacional de Proteção e Defesa Civil, Wolnei Wolff, destaca a agilidade no processo. "A Defesa Civil Nacional trabalha 24 horas por dia, assim que as solicitações chegam, reconhecemos a situação de emergência, avaliamos e aprovamos os planos de trabalho e os valores solicitados e ajudamos com o necessário", detalhou.

Impactos na agropecuária
A estiagem prolongada afeta diretamente a produção agrícola no estado. A pecuária enfrenta momentos críticos diante da seca prolongada. A escassez hídrica afeta a recuperação da pastagem, diminuindo a oferta de alimento para o rebanho. Produtores relatam perda de animais pela falta de pasto e água.

O veterinário e consultor em pecuária Rodrigo Tavares alerta para os riscos. "Quando falta água, o gado perde peso rapidamente, a produção de leite despenca e, nos casos mais graves, há morte de animais. Os produtores precisam de suporte emergencial para manter os rebanhos vivos", explica.

Em 2024, a falta de chuvas causou prejuízo de 4 milhões de toneladas de grãos ao setor agrícola goiano, segundo dados divulgados pelo governo estadual.

Comparação com 2024
Em fevereiro de 2024, o governo estadual decretou situação de emergência em 25 municípios goianos, principalmente das regiões Oeste e Norte. O decreto levou em consideração os baixos índices de chuvas e condições climáticas extremas causadas pelo período prolongado sem precipitação.

Naquela ocasião, os municípios afetados foram Acreúna, Amorinópolis, Araguapaz, Arenópolis, Baliza, Bom Jardim de Goiás, Britânia, Caiapônia, Diorama, Guarani de Goiás, Iporá, Israelândia, Ivolândia, Jaupaci, Moiporá, Montes Claros de Goiás, Mozarlândia, Nova Crixás, Palestina de Goiás, Paraúna, Piranhas, Porangatu, Quirinópolis, Santa Helena de Goiás e Turvelândia.

O economista especializado em desenvolvimento regional Paulo Henrique Castro observa um padrão preocupante. "Estamos vendo a seca se tornar um problema recorrente em Goiás. O que antes era exceção está se tornando regra, e isso exige planejamento de longo prazo por parte do poder público e dos produtores", avalia.

O fenômeno El Niño foi apontado como causador da estiagem. Levantamento do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), ligado à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), indicou que o fenômeno teve início em junho de 2023 e, de setembro a dezembro, causou temperaturas elevadas e chuvas irregulares.

A onda de calor persistente afetou as plantações, com o calor excessivo consumindo a umidade do solo. Alguns rios, além do Rio Araguaia, enfrentaram seca e degradação ambiental que geraram efeitos inéditos em determinados pontos.

Em Faina, o Rio do Peixe, que fornece cerca de 95% da água consumida no município, ficou extremamente seco. Um decreto publicado em outubro de 2024 declarou situação de calamidade pública no município após todos os moradores ficarem sem água. Áreas inteiras de canais longos e largos, comumente tomados pela água, ficaram na terra. A situação exigiu medidas emergenciais de abastecimento por meio de caminhões-pipa.


Faina decretou estado de calamidade pública devido à seca do Rio do Peixe (Foto: Paulinho Vieira)

Características do nordeste goiano
O nordeste de Goiás é uma região marcada por características geográficas e climáticas que a tornam particularmente vulnerável à seca. A área faz parte da transição entre o Cerrado e a Caatinga, apresentando vegetação mais rala e solos com menor capacidade de retenção de água.

A região abrange municípios como Guarani de Goiás, Guarinos, Campos Belos, Posse, Iaciara, Mambaí e São Domingos, entre outros. Historicamente, o nordeste goiano registra os menores índices pluviométricos do estado, com média anual de chuvas entre 1.200 e 1.400 milímetros, concentradas entre outubro e março.

O geógrafo e especialista em climatologia Marcus Vinícius Almeida explica que a região nordeste apresenta características que agravam a seca. "O nordeste goiano tem um regime de chuvas mais irregular. Quando somamos isso às mudanças climáticas globais e ao desmatamento local, criamos um cenário propício para secas mais intensas e prolongadas", analisa.

A economia local depende fortemente da agropecuária, especialmente da criação de gado de corte e da agricultura familiar. A estiagem prolongada compromete diretamente essas atividades. Os rios e córregos da região, como o Rio Paranã e seus afluentes, apresentam vazão reduzida nos períodos de seca, afetando o abastecimento humano e animal.

A agrônoma e pesquisadora em recursos hídricos Laura Mendes destaca os impactos na produção. "A estiagem prolongada compromete não apenas a safra atual, mas também o plantio das próximas. O solo perde umidade, a recarga dos lençóis freáticos diminui e isso cria um ciclo de vulnerabilidade que pode durar anos", afirma.

Comunidades rurais são as mais afetadas, muitas dependem de poços artesianos e pequenos mananciais que secam rapidamente em períodos de estiagem. A população enfrenta dificuldades desde o consumo doméstico até a manutenção de hortas e pequenas criações, base da subsistência de muitas famílias.

Solicitação de recursos
Cidades com o reconhecimento federal de situação de emergência podem solicitar ao MIDR recursos para ações de defesa civil. A solicitação pelos municípios deve ser feita por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD).

Com a aprovação, é publicada portaria no Diário Oficial da União com o valor a ser liberado. O órgão de proteção e defesa civil municipal é o responsável por fazer a solicitação. No caso de inexistência do órgão no município, a prefeitura poderá realizar o pedido.

Geralmente, após a solicitação, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil analisa a documentação em até dois dias úteis. Se o pedido for deferido, os recursos podem ser liberados rapidamente.

Capacitações disponíveis
A Defesa Civil Nacional oferece uma série de cursos a distância para habilitar e qualificar agentes municipais e estaduais para o uso do S2iD. As capacitações têm como foco os agentes de proteção e defesa civil nas três esferas de governo.

Os cursos são gratuitos e estão disponíveis no site do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Leia mais:
COP30: Ministério lança guia sobre mudanças climáticas e saúde

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351