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Goiânia - O papa Francisco deixou o Brasil há pouco mais de dez dias, mas suas declarações e ensinamentos continuam provocando reflexões, principalmente entre os jovens, que agora estão mais presentes na Igreja. Temas que até então não eram tratados de maneira confortável pelos católicos se tornaram, após a vista de Francisco, assuntos de debates dentro e fora da Casa do Pai. Depois das afirmações do pontífice, muito tem se falado sobre uma reformulação da Igreja e o debate tem conseguido atrair, como nunca, a juventude.
Enquanto esteve no Rio de Janeiro, onde foi realizada a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2013, Francisco falou incansavelmente sobre a importância de uma aproximação da Igreja com o povo. O discurso do pontífice não destoa, em sua maioria, do que afirmam outros representantes da Igreja.
Em entrevista ao jornal A Redação, o reitor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wolmir Amado, que é mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), falou sobre o papa, sobre a JMJ no Brasil e sobre as mudanças que já podem ser percebidas entre os cristãos.
"A visita de Francisco foi histórica e programática. Histórica porque foi a primeira viagem internacional do pontífice e programática porque quando acontece essa primeira visita, o papa procura enviar uma mensagem que valerá não apenas para o País visitado, mas para todo o mundo", afirma. "Entre todas as mensagem deixadas por ele nessa passagem pelo Brasil, a primeira que deve ser lembrada, na minha opinião, é a simplicidade. Francisco é um papa diferente, que se aproxima das pessoas. Na JMJ ele usou linguagem simples com os jovens, que traduziu bem o cotidiano da vida."
Wolmir destaca que o papa abordou, durante suas pregações e entrevistas, muitos pontos, principalmente relacionados à política e ao social. "Foi muita enfatizada a questão da desigualdade e da violência, mas foi a partir desses pontos que Francisco reafirmou sua confiança nos jovens", ressalta. "Como ele [papa] mesmo disse: 'a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo'", lembra.
Mudanças na Igreja
Durante a entrevista, Wolmir ressaltou ainda a visão futurista de Francisco. "Sem ignorar o passado, ele apontou uma nova direção na Igreja. Primeiro papa do século XXI, ele conseguiu que vários pontos fossem revistos, tanto na parte estrutural quanto na prática ministerial", afirma.
"Em nível estrutural, acredito que as mudanças serão a curto prazo. Já as alterações sobre temas específicos, que devem atingir todas as comunidades, pode demorar um pouco mais. É aí que, de novo, entra o poder da juventude", acrescenta o reitor.
Mensagem de fé Missionário Redentorista e reitor do Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), Padre Robson de Oliveira também falou com a reportagem do AR e comentou as mensagens deixadas pelo papa no Rio.
“O Brasil viveu um grande momento de renovação de fé e esperança. Um encontro muito bonito da juventude do mundo todo. Os jovens trazem um ar novo, motivação, atitude e, principalmente, uma fé viva. É disso que precisamos: reacender em cada um a mensagem de Cristo.”
“Eu fico emocionado ao falar do papa. Ele vai ao encontro das pessoas, dos mais humildes, mais necessitados. E, simbolicamente, quando ele beija uma criança, quando abraça uma pessoa com problemas físicos, ele diz: 'Eu estou com você, em nome de Jesus Cristo. Coragem, meu filho. Nunca se canse de fazer a vontade de Deus'. Essa é a mensagem que deve ficar para todos nós, jovens ou adultos”, acrescenta.
Robson conta, animado, que teve a oportunidade de se encontrar pessoalmente com Francisco durante a JMJ e entregou ao pontífice uma imagem do Divino Pai Eterno.
“Espero que os jovens tenham aprendido muito com ele [papa] e que possam levar a mensagem dele, de amor, de caridade, de misericórdia, para suas famílias, para suas comunidades, dioceses e arquidioceses. Ele é um homem de muita ternura, que gosta de demonstrar afeto e proximidade. Ele foi de fato ao encontro dos jovens. O papa é realmente singular”, finaliza o reitor da Basílica de Trindade.
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia, Dom Waldemar Passini Dalbelo também falou com o AR sobre a JMJ, comentando as declarações do papa e destacando a importância da presença do jovem na Igreja. Confira a entrevista na íntegra:
A Redação: Qual a importância da escolha do Brasil para sediar a JMJ? Bispo Dom Waldemar: Após a realização da JMJ no Rio de Janeiro, é mais fácil perceber o valor de um encontro mundial dos jovens com o Papa. Os católicos ouvem a voz do Sucessor de Pedro, sentindo-se confirmados na fé. Mas também os que não são católicos e mesmo a sociedade toda tem um grande ganho ao acolher um líder espiritual da estatura do Papa. Ele ajuda a compreender os desafios da sociedade e convida a um engajamento na valorização de cada pessoa humana. O Brasil recebeu um evento de grande porte, com muitos jovens estrangeiros, provou sua capacidade de acolhida e foi enriquecido com o carinho e a alegria de todos.
AR:Como a Igreja vê a declaração do papa sobre a necessidade de uma atitude mais missionária, saindo ao encontro das pessoas? Houve, na prática, uma perda de fiéis? BDW: A Igreja existe para evangelizar e o Papa nos convoca a todos para vivermos essa missão. Ele chama os padres e bispos a sair ao encontro das pessoas no seu cotidiano, mas também convoca os jovens e os fiéis leigos adultos. Se vivenciarmos uma experiência religiosa voltada para nós mesmos, sem irmos ao encontro do próximo, estamos vivendo uma espécie de cristianismo mutilado.
Sabemos da perda de fiéis pelos dados dos censos. No entanto, a presença dos fiéis nas comunidades, nas nossas igrejas, tem aumentado. Dentre os católicos de “censo”, alguns têm optado por outra experiência religiosa – e aí temos alteração nos índices –, mas são muitos os que estão escolhendo viver mais intensamente a fé cristã-católica. Na verdade, precisamos ajudar aqueles que se reconhecem com raízes católicas, ou são simpatizantes das comunidades católicas, a descobrirem a beleza e a segurança dessa experiência cristã.
AR:Vocês sentem essa distância dos fiéis, citada por Francisco, na tradicional missa de domingo, por exemplo? BDW: Temos uma presença numerosa de fiéis nas missas dominicais. Na arquidiocese de Goiânia, nem conseguimos responder a essa demanda. Há comunidades que não têm missas dominicais por falta de padres. Estamos sobrecarregados, na verdade. Precisamos de mais padres! Mas temos os diáconos e os ministros da Palavra de Deus que realizam também cultos dominicais, e assim, conseguimos proporcionar um razoável atendimento aos católicos que vão às igrejas. Mesmo assim, ainda nos falta ir ao encontro dos que não vão aos templos. Aqui está um dos grandes desafios para o nosso cuidado pastoral.
AR: Os jovens são um público diferenciado? BDW: Com certeza! Eles dão uma contribuição com a alegria, com a disponibilidade para colaborar em vários grupos, pastorais e serviços da Igreja Católica. Cantam e vibram, mas não é só isso. Os jovens se encantam com a proposta de Jesus, com os desafios da vida no serviço ao próximo. Os jovens recordam aos fiéis adultos que não podem se acomodar. A presença deles na Igreja é decisiva para o presente e para o futuro.
AR: A Igreja vê com bons olhos a iniciativa de padres que tentam mudar/modernizar a maneira como as missas são ministradas? BDW: A Santa Missa é um culto elevado e ao mesmo tempo muito simples. Pode-se encontrar meios para comunicar melhor a mensagem da Palavra de Deus e que propiciem uma participação mais consciente dos fiéis no culto eucarístico. Mas este desafio está mais ligado à qualidade da preparação do culto, do que a mudanças no rito ou emprego de “novas técnicas” e tecnologias. Nosso maior desafio se encontra em gerar espaços de acolhida diferenciados, sem querer fazer da Santa Missa o único lugar de expressão religiosa dos novos fiéis.
AR: Na prática, a Igreja já sente reflexos da JMJ? BDW: O primeiro reflexo tem sido a boa acolhida do Santo Padre. Os fiéis católicos e os não católicos estamos todos encantados com o testemunho do Papa Francisco. Os jovens também apresentam com grande entusiasmo o tema da Jornada na pauta de seus encontros e no diálogo com os colegas e amigos. Os jovens católicos compreenderam rapidamente que são missionários, e que a Igreja e o Papa contam com eles na missão, na postura ousada de vivência do evangelho no cotidiano, sem pactos com estruturas corrompidas, e sendo capazes de um compromisso com os mais necessitados.
AR:O papa deixou um cheque de 20 mil euros, que beiram os R$ 60 mil, para a comunidade da Varginha e outro no mesmo valor para o Hospital São Francisco. A Igreja em Goiás trabalha com doações em dinheiro para comunidades carentes? BDW: Temos várias obras sociais oferecendo um compromisso concreto em várias partes de nossa arquidiocese. Creches, casas de acolhida de idosos, hospitais (São Cottolengo e Santa Casa de Misericórdia), Pastorais Sociais e outros serviços, fazem parte do nosso dia-a-dia. A oferta do Papa provém de uma coleta feita no mundo inteiro da qual também participamos a cada ano, o chamado “óbulo de São Pedro”. Na festa de São Pedro e São Paulo todas as comunidades remetem sua oferta para que o Papa possa atender as comunidades e outras obras mais carentes em todo o mundo.
AR: Além do contato direto intenso com os participantes da JMJ, o papa Francisco manteve ativa sua página no Twitter. A Igreja em Goiás tem esse lado mais tecnológico? BDW: A Arquidiocese de Goiânia marca presença nas redes sociais e cuida com muita atenção de sua página na internet.
AR: O papa pediu, também por meio do Twitter, que os fiéis confiem nos bispos, que ele chamou de Pastores do Povo de Deus. Há uma falta de confiança? BDW: Creio que o Papa, como Bispo de Roma, entende que os fiéis devem se unir aos bispos diocesanos com o mesmo entusiasmo que se unem a ele. É na diocese, na Igreja local, que a vida acontece. Para que haja um compromisso real dos católicos com sua Igreja, são chamados a viver sua fé onde vivem, unidos aos demais irmãos nas comunidades. Essas comunidades têm à sua frente um Sucessor dos Apóstolos, o bispo. A relação de confiança é fundamental na Igreja, tanto quanto numa família.
AR:Sobre as manifestações, a Igreja em Goiás comunga com o posicionamento do papa de que o momento exige diálogo construtivo? BDW: Estamos em profunda comunhão com o Papa Francisco, também neste aspecto. Mas é preciso saber que o diálogo exige grande capacidade de escuta, como frisou o Papa. Precisamos escutar com grande atenção os jovens. O diálogo estabelece um processo que amadurece no tempo e as partes saem enriquecidas. Sempre se pode dialogar!