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Entrevista exclusiva

Lúcia Vânia: “não tive reconhecimento do PSDB local nem do nacional"

Senadora confirma que PMDB propôs filiação | 23.06.15 - 16:38 Lúcia Vânia: “não tive reconhecimento do PSDB local nem do nacional" Senadora Lúcia Vânia (Foto: Adriana Marinelli/A Redação)
Sarah Mohn

Goiânia –
Em tom de desabafo e sem poupar críticas aos diretórios estadual e nacional do PSDB, a senadora Lúcia Vânia justificou ao jornal A Redação que sua saída do partido é resultado de “muitas dificuldades”, em especial do episódio deste ano que culminou na retirada de seu nome da composição da mesa diretora do Senado.

Segundo ela, houve omissão do PSDB goiano em não reivindicar o espaço na Casa legislativa. “Eu fiquei praticamente sozinha. Se não posso ter o reconhecimento do partido de que eu mereço esse espaço, tenho que buscar outro caminho”, disse.

Ao AR, a senadora falou sobre as especulações de que sua filha, a secretária da Estado da Fazenda, Ana Carla Abrão, poderia ser o nome na sucessão de Marconi Perillo; confirmou que recebeu convite de todos os partidos, inclusive do PMDB, mas que deve mesmo se filiar ao PSB até o fim de agosto; e afirmou que não nutre mais desejo de governar Goiás. “Passou”, disse. Quanto à disputa pela prefeitura de Goiânia, desconversou: “Não é que eu não tenha interesse, eu acho que existem pessoas que estão na frente”.


(Foto: A Redação)

Em sua trajetória política, Lúcia Vânia coleciona os cargos de deputada federal por dois mandatos consecutivos, entre 1987 a 1995, e o de senadora também reeleita (2002/2010 e 2010/2018). Em 1994, candidatou-se ao governo de Goiás pelo Partido Progressista, mas foi derrotada por Maguito Vilela (PMDB). Foi secretária Nacional de Assistência Social no governo Fernando Henrique Cardoso, até ser eleita novamente deputada federal, em 1998. Em 2000, liderou a disputa pela prefeitura de Goiânia, mas foi derrotada Pedro Wilson (PT). Neste mês de junho, desfiliou-se do PSDB.

Confira a íntegra da entrevista:

Jornal A Redação: A senhora está no Senado há 12 anos e meio. O que destaca de contribuição para Goiás nesse período?
Lúcia Vânia: Nesses 12 anos em que estive no Senado, minha atividade foi voltada para duas frentes de trabalho. Primeiro, o social, que eu sempre trabalhei e me dediquei muito. Fui presidente da Comissão de Assuntos Sociais, onde fiz trabalhos importantes, como a negociação para aprovação das células-tronco, a Lei Maria da Penha, na Comissão de Justiça, pude trabalhar várias matérias na Comissão de Saúde, especialmente saúde da mulher. E na segunda frente de trabalho eu me dediquei a fazer um trabalho de integração da região Centro-Oeste, onde pude recriar a Sudeco, recriar o FDCO, um novo fundo de infraestrutura, que hoje destina R$ 1,4 bilhão para nossa região. Fui também presidente da Comissão de Infraestrutura e nela trabalhei muito as concessões das rodovias federais que envolvem a região Centro-Oeste. Ao lado disso, acompanho de perto a negociação da dívida do Estado, a convalidação dos incentivos fiscais, a renegociação da dívida, com muitas emendas aprovadas.

AR: Senadora, por que a decisão de sair do PSDB após 20 anos no partido?
Eu venho tendo muitas dificuldades no partido e a última foi em relação à eleição da mesa (diretora do Senado). O que pode parecer uma discordância minha, porque não recebi um cargo, não é bem isso. Não me acrescenta nada, pelo contrário, demanda mais trabalho, mas ao mesmo tempo abre portas para a região. Como o meu trabalho parlamentar é de resultados, eu não sou parlamentar de tribuna, de discurso, sou parlamentar de resultados, ter posição dentro da Casa é fundamental para que eu possa avançar no trabalho que faço. Ao me negarem esse espaço, fiquei muito constrangida dentro do partido, porque esse espaço tinha que ser reivindicado não só por mim, mas pelo partido local. Quando o partido nacional me negou essa posição, o partido local teria que ter tomado uma providência e dito “nós trabalhamos aqui, demos vitória ao nosso candidato e essa posição não é da senadora Lúcia Vânia, é do Estado de Goiás”.

AR: O PSDB goiano se omitiu?
Eu fiquei praticamente sozinha. E achei que, ficando sozinha, como fiquei ao longo desse tempo todo, todos os espaços que conquistei foram conquistados com trabalho, então eu decidi que, se não posso ter o reconhecimento do partido de que eu mereço esse espaço para continuar trabalhando, eu tenho que buscar outra motivação, outro caminho em que esses espaços possam ser conquistados por mim novamente. Isso para mim é muito bom, pois me dá força para inovar, buscar motivação para abrir novos caminhos.

AR: Esses espaços que a senhora conquistou foram mérito apenas da senhora, sem respaldo do PSDB em Goiás?
O partido aqui nunca tomou conhecimento do meu trabalho. Se você perguntar ao partido aqui o que eu fiz, ninguém sabe. Nunca o meu trabalho foi evidenciado pelo partido. E esse trabalho não é evidenciado nem pelo partido local, nem pelo partido nacional. Eu fiz um trabalho no governo Fernando Henrique que está aí para quem quiser ver. Todo o trabalho voltado aos idosos, a Lei Nacional do Idoso, tudo isso é trabalho meu que o partido tinha que reconhecer, tinha que evidenciar. No entanto, isso não foi feito e toda a minha trajetória política foi dedicada ao Estado de Goiás. Se o partido entende que isso não tem valor, eu não posso continuar nesse partido.

AR: Quanto à indisposição com a indicação à mesa diretora, alguns tucanos a acusaram de ter votado no senador Renan Calheiros (PMDB). Essa acusação é verdadeira?
Houve um mal entendido no sentido de colocar em dúvida, porque como eu tenho um bom relacionamento dentro do Senado, fruto de um trabalho pessoal meu. As pessoas sabem que o que pego para fazer, faço direitinho. Sou ouvidora do Senado. A Ouvidoria é um cargo de confiança do presidente do Senado (Renan Calheiros/PMDB). Então, eu tenho com o presidente do Senado um relacionamento bom. Mas isso não significa que eu votei nele. E o partido sabe que eu não votei. Isso foi dado como desculpa. Estou há 20 anos lá, ninguém muda de repente. Eu sempre segui o partido e fui disciplinada. O que acho é que quando você não tem o reconhecimento local, é muito difícil você ter o reconhecimento nacional.

AR: Para qual partido a senhora irá?
Estou ainda trabalhando isso, mas minha tendência é ir para o PSB.

AR: Quando a senhora irá se filiar? Antes ou depois de outubro?
Até o fim de agosto.

AR: Caso a senhora vá mesmo para o PSB, a senhora comandaria o diretório estadual?
Nem discuti isso ainda. Naturalmente, o que entendo hoje por partido moderno é, primeiro, um partido que não tenha segmento para mulher. Já é uma grande coisa. No PSB não há PSB mulher. É apenas PSB e a mulher está dentro do diretório. O segundo princípio é que um partido precisa ser colegiado, ter decisões colegiadas. Não existe dono do partido. Eu não vou para o PSB para ser dona do partido. Eu vou para trabalhar em conjunto com as pessoas que estão lá.

AR: Vanderlan Cardoso é um nome que a senhora apoia como pré-candidato à prefeitura de Goiânia?
Eu não posso falar isso, porque nem filiada ao partido ainda estou. Vamos aguardar.

AR: Mas ele é um bom nome?
É um bom nome, que tem credibilidade. É uma pessoa que já demonstrou competência no trabalho. É um homem que tem visão municipalista, e isso é importante. Goiânia está precisando de alguém que entenda o que é um município. Não é fazer obras, município é prestar serviços de qualidade. Obras são importantes, mas mais importante é que essas obras funcionem bem. De nada adianta uma obra bonita, se o serviço prestado é incompetente, ineficiente. A coleta de lixo precisa ser eficiente, a educação precisa funcionar bem, as escolas têm que ser decentes, de qualidade. A saúde tem que funcionar, o transporte coletivo...

AR: A senhora acha que hoje a administração municipal funciona?
Eu não gostaria de fazer avaliação do que existe. Quero fazer do que pode ser feito. Se eu fosse candidata à prefeitura de Goiânia, eu teria como mote da minha campanha o serviço de qualidade. É isso que Goiânia precisa hoje. É preciso priorizar isso como meta de governo e a grande dificuldade é essa.

AR: Em 2000, a senhora foi candidata. Ainda tem interesse em disputar a prefeitura de Goiânia?
Não é que eu não tenha interesse, eu acho que existem pessoas que estão na frente e que querem ter uma oportunidade. Eu acho que o meu dever é ajudá-las.

AR: A senhora chegou a ser convidada para se filiar ao PMDB?
(Risos). Todos os partidos me convidaram.

AR: Todos, até o PMDB?
Todos.

AR: Há 21 anos, a senhora foi candidata ao governo do Estado. Ainda há o desejo de governar Goiás?
Não. Passou.

AR: Com sua saída do PSDB, como ficará sua relação com o governo de Marconi Perillo (PSDB)?
Minha relação com o governo vai continuar como sempre foi. Sempre fui uma parlamentar dedicada, mas sempre independente.

AR: Como avalia o trabalho que sua filha, Ana Carla Abrão, está fazendo na Secretaria da Fazenda de Goiás?
Eu me sinto totalmente incapacitada, inviabilizada de dar opinião sobre isso. Seria muita pretensão minha.

AR: A secretária tem sofrido críticas e resistências de alguns setores do próprio governo.
Ela tem recebido um apoio claro e evidente do governador. Isso é que importa.

AR: Já existem especulações de que a secretária Ana Carla teria pretensões eleitorais. Ela seria um bom nome para suceder Marconi Perillo no governo do Estado?
A Ana tem a carreira dela, que foi construída... Tanto ela, quanto eu sempre tivemos muita independência em abrir nossos caminhos. Ela abriu os caminhos dela por ela mesma, pela competência, pelo trabalho dela. Agora, o futuro dela quem pode delinear é ela mesma. Eu não influencio, como não influenciei na indicação dela (à Sefaz). Só compete a mim como mãe torcer para que ela tenha sucesso.

AR: A senhora sequer sugeriu ao governador o nome dela para a Sefaz?
Não. Ela é um convite e uma responsabilidade do governador.

AR: A reeleição ao Senado em 2018 é um objetivo?
Eu não trabalho pensando em eleição. Quando termina uma eleição, eu trabalho para ter resultado. Se esse resultado for positivo, a eleição é natural. Se o resultado não é bom, eu não teria condições de abrir meus espaços. Eu não trabalho pensando em eleição. Se ela vier, se for necessária, se eu entender que tenho condições e que queira trabalhar ainda, eu vou ser candidata. Só o tempo vai dizer o que me reserva o futuro.

AR: Sair de um dos maiores partidos do Brasil para integrar uma legenda menor vai trazer algum prejuízo?
Absolutamente, não. Não me atrapalha em nada. Eu disse para você, na hora em que precisei do partido, ele me falhou. Eu sempre conquistei as posições com trabalho, tanto é que estou nas comissões mais importantes independente de estar sem partido. Isso não pesa em nada.

AR: O que pesa na saída do PSDB?
O que pesa para mim em relação ao partido é o tempo, a dedicação, são as pessoas com as quais você convive, é o relacionamento que você faz. Não é fácil abandonar isso de repente. Isso é dolorido, não é fácil. Mas eu acho que a saída é importante para que eu encontre motivação para continuar trabalhando com a mesma força, entusiasmo e dedicação. Eu preciso me encontrar confortável para que eu tenha motivação para continuar essa luta.

AR: A senhora perdeu a motivação?
Eu continuo o trabalho como se eu estivesse no meu primeiro mandato. Ontem (domingo, dia 21), eu estava no Novo Horizonte, comemorando com a comunidade o aniversário do bairro. Dificilmente, você vê um senador fazer esse trabalho. Eu faço com gosto, com entusiasmo, como se eu estivesse começando agora.

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