Sarah Mohn
Goiânia – Se na gestão pública ainda é tímido o desenvolvimento de ações que estimulem a sustentabilidade, na iniciativa privada novos modelos de negócios goianos pautados em produtos e serviços sustentáveis estão ganhando o mercado de consumo nacional. Ousadas, as novas empresas estão provando que é possível aliar lucro com comércio consciente.
É o caso, por exemplo, de uma marca goiana que, há cinco anos, produz no Cerrado cosméticos naturais livres de agrotóxicos e adubos químicos, sais de alumínio e conservantes. Ou de uma empresária goiana que abriu em São Paulo o primeiro guarda-roupa compartilhado do país. Na mesma linha de sustentabilidade, já se pode encontrar hoje em Goiânia uma empresa especializada em lavar carros sem utilizar água.
A essas iniciativas de vanguarda somam-se propostas também na área de gastronomia, como um restaurante localizado no centro da capital, que consegue unir o modelo self service a uma alimentação balanceada por uma gastrônoma – que não é vegana ou vegetariana. Ou ainda uma usina de energia fotovoltáica em fase de implantação no município de Itapuranga, que iniciará no ano que vem, em parceria com a Celg D, a distribuição de energia totalmente limpa e renovável.
Confira as iniciativas sustentáveis que o jornal A Redação selecionou:
Livealoe – Cosméticos naturais
Criada pelas irmãs Janaina Nunes de Lima e Déborah Nunes de Lima, a Live Aloe é a única empresa de cosméticos em Goiás cuja matéria-prima orgânica utilizada é certificada pelo Instituto Biodinâmico (IBD). São cerca de 50 produtos produzidos pelas empresárias na própria chácara da família, em Itapuranga.
“Para a empresa ser certificada como orgânica, ela precisa ser funcionar em um ambiente sustentável. Por isso, a gente teve todo o cuidado para criar um ambiente harmônico, que cause menos impacto e seja o mais sustentável possível”, afirma Déborah.
Déborah Nunes de Lima (Foto: A Redação)
De acordo com a empresária, a Livealoe tem a proposta de unir beleza, saúde e meio ambiente. Para alcançar o objetivo, os fitocosméticos produzidos no laboratório da chácara de Itapuranga garantem frescor e maior concentração de bioativos, além da oportunidade de profissionalização, valorização e empoderamento das comunidades locais.
(Fotos: divulgação)
“Como a matéria-prima está plantada na nossa chácara e lá mesmo está o laboratório, os bioativos não sofrem os agravos do transporte e não perdem a sua integridade. Outro exemplo, quem aduba nossas plantas são as galinhas do nosso galinheiro”, explica.
As duas empresárias acabaram de retornar de Nuremberg, na Alemanha, onde participaram em fevereiro da Biofach 2016, uma das maiores feiras de produtos orgânicos do mundo. As duas foram como representantes de Goiás ao evento. Lá, trocaram experiências com empresas de todas as partes do mundo e mostraram que Goiás não fica atrás na produção de orgânicos.
Apesar de ser uma empresa de pequeno porte, os cosméticos naturais produzidos pela Livealoe já são comercializados em 13 estados brasileiros, além da venda online (livealoe.com.br): Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília, São Paulo, Bahia, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Sergipe, Rondônia, Pernambuco e Espírito Santo.
Lucid Bag – moda compartilhada
A proposta é reduzir o consumo de roupas e acessórios e priorizar a troca de peças de vestuário entre mulheres de todo o país. A empresa Lucid Bag foi concebida pela jornalista goiana Luciana Nunes e inaugurada no ano passado em São Paulo. Apesar de contar com lojas na Barra Funda e Vila Madalena, a loja está 100% disponibilizada no site da marca como o primeiro guarda-roupa coletivo online do Brasil (lucidbag.com.br).
Funciona como uma biblioteca de roupas, construída por uma comunidade de mulheres de todo o país, seguindo a tendência mundial da economia compartilhada e criativa, que tem como precursores marcas como Uber e Airbnb. Por meio de assinatura mensal ou aluguel pontual, são emprestadas bags com cinco itens de moda para a pessoas usarem por dez dias e variar seus looks de forma mais sustentável e consciente.
Luciana Nunes é representante do movimento mundial Fashion Revolution em Goiás por um mercado de moda mais justo, realiza cursos, oficinas e palestras em slow fashion e planeja abrir sua primeira loja física em Goiânia no mês de março dentro do espaço Casulo Moda Coletiva.
"Esse novo modelo proposto pelo Lucid Bag é muito importante para fortalecimento do movimento Slow Fashion, de forma a valorizar e fazer circular peças incríveis esquecidas em guarda-roupas abarrotados. Desta formas, conseguimos proporcionar variedade, tendência e qualidade para quem usa o serviço e, de quebra, ainda incentivamos o consumo consciente em moda pela diminuição de compras por impulso”, explica Luciana.
FreeWet – Lavagem de carro sem água
Parece impossível, mas quem se preocupa com economia de água já pode optar pela lavagem de carro a seco. Isso mesmo, sem utilizar nenhuma gotinha de água. A empresa FreeWet, inaugurada em dezembro de 2015 no setor Nova Suíça, na capital, é até agora a única do mercado a utilizar a quantidade zero de água na limpeza de veículos.
Segundo a Freewet, as lavagens ecológicas que já existem no mercado não aboliram a totalidade de uso de água e ainda utilizam uma pequena parcela para diluir os produtos. A FreeWet garante a produção de seus próprios produtos e o cuidado, desde o início do processo, para que eles não danifiquem a pintura ou materiais internos de carros e motos.
De acordo com o empresário Fred Machado, a FreeWet economiza até 400 litros de água por carro lavado. Ele destaca também o serviço delivery oferecido aos clientes. “Nós vamos até a casa ou trabalho do cliente e fazemos a limpeza. As principais vantagens são a sustentabilidade, com economia de água, e a praticidade, com o atendimento delivery.”
A limpeza é feita por dois princípios básicos: aglutinação e suspensão da sujeira. A nano tecnologia aplicada na fabricação dos produtos FreeWet atua microscopicamente para agir apenas na camada de sujeira. Isso garante um serviço sem riscos ou manchas arredondadas. Além disso, as fragrâncias dos produtos se propõem a serem suáveis e agradáveis.
A empresa, que estuda abrir nova unidade no setor Santa Genoveva, trabalha com serviços delivery com preços a partir de R$ 40.
Gastronomia saudável
Nada de churrasco, massas gordurosas ou doces com grandes quantidades de açúcares. Um restaurante localizado no centro de Goiânia foi inaugurado, em 2011, com a proposta de oferecer uma alimentação saudável e balanceada. E tudo no método self service.
Criado pela gastrônoma e pós-graduada em Gastronomia Simone Alves, a chamada “cozinha de fusão” do Trio Gourmet é algo exclusivo em Goiânia. As saladas são sempre da estação e trazidas diariamente da fazenda da família dela. As carnes são frescas ou resfriadas e os temperos são pensados para cada prato também naturais.
Simone Alves (Fotos: divulgação)
Além do cardápio natural, a empresária se preocupa também com a sustentabilidade na entrega das refeições encomendadas a domicílio. As entregas são feitas, prioritariamente, por meio de bike. Além de contribuir com a redução da poluição na cidade, Simone Alves ainda garante a agilidade no tempo de entrega dos almoços e dispensa gastos com combustível.
“A proposta é servir o sabor da vida, uma comida com sabor, porém hipossódica e hipocalórica. No Trio Gourmet, tanto o cliente presente no restaurante, quanto o que escolhe a comida em sua casa ou trabalho saboreia o que de melhor preparamos, tendo sempre liberdade de escolha", diz Simone.
Outro restaurante por quilo com a proposta de oferecer alimentação saudável foi inaugurado recentemente no setor Marista. O Mix Tropical nasceu da união de três empreendedores que decidiram criar um cardápio com pratos “balanceados, nutritivos, saudáveis e com sabores requintados”.
A proposta do restaurante é oferecer praticidade, equilíbrio nutricional com redução de sódio e gorduras, de acordo com tendências modernas de boa saúde. Grande atrativo do estabelecimento é a variedade de refeições, que incluem desde legumes e vegetais a carnes e massas magras.
“Nosso objetivo é oferecer uma variedade de refeições deliciosas para uma alimentação balanceada e saborosa, atendendo um público crescente que pratica um comportamento saudável, moderno e inteligente”, explica a administração no site do restaurante (hmixtropicalrestaurante.com.br).
Energia solar
Pelo menos três empresas já atuam na geração de energia solar em Goiás. Pautadas nos princípios de utilização de fontes limpas e renováveis, que não agridem o meio ambiente, a Usina de Energia Fotovoltáica FCR, a AWR Tecnologia Solar e a Total Energia estão ampliando a participação no mercado goiano.
A ideia de implantar em Goiás uma usina capaz de transformar energia solar em energia elétrica surgiu durante viagem do empresário Marcus Molinari à China. Após conhecer a produção de energia solar lá, decidiu trazer o modelo para Goiás. Hoje, a Usina de Energia Fotovoltáica FCR tem como sócios também os empresários Hudson Costa e Franco Craveiro.
Com previsão de iniciar suas atividades em 2017, a FCR está em fase de implantação no município de Itapuranga e previsão de início das atividades em 2017. É a primeira usina do Estado a vencer leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2014, com contrato para dois anos e geração de 10 MW. O investimento total é de cerca de R$ 50 milhões de recursos próprios para instalação de 38,5 mil placas solares em dois 2 alqueires de terra.
(Foto: divulgação)
Também no mercado, a empresa goiana AWR Tecnologia Solar está investindo pesado na tecnologia e já é referência no cenário nacional. Fundada em abril de 2015, o grupo é formado pelo engenheiro civil Rodrigo Alves e pelos arquitetos Athos Rios e Walter Garcia. A proposta é oferecer fonte energética limpa e renovável acessível ao orçamento dos brasileiros.
Outra empresa que segue a mesma linha é a goiana Total Energia, do empresário Rodrigo Ferreira Fonseca Pedroso. No ano passado, ela venceu o 2º Leilão de Energia de Reserva de 2015, da Aneel, destinado à contratação de energia elétrica proveniente de novos empreendimentos de geração a partir de Fontes Solar Fotovoltaica e Eólica, com início de suprimento para novembro de 2018.
