Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Na Assembleia Legislativa

Fórum Permanente sobre o acidente com o Césio 137 é lançado em Goiânia

Acidente radioativo completa 30 anos em 2017 | 24.04.17 - 13:54 Fórum Permanente sobre o acidente com o Césio 137 é lançado em Goiânia (Foto: Kamylla Rodrigues/A Redação)
Kamylla Rodrigues
 
Goiânia - Perto de completar 30 anos, a ferida aberta com o acidente com o Césio - 137 ainda não cicatrizou. Muitas vítimas ainda lutam por cidadania e tentam reconstruir a vida com dificuldades financeiras e de saúde. Pensando em resgatar as histórias do maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares, foi lançado na manhã desta segunda-feira (24/4), no Auditório Costa Lima, da Assembleia Legislativa de Goiânia, o Fórum Permanente sobre o acidente com o Césio - 137. 
 
O coordenador do Fórum, Júlio de Oliveira Nascimento, explica que a ação é uma das formas de chamar a atenção para as vítimas que, segundo ele, não estão sendo devidamente assistidas. "A situação delas continua crítica. Quando a memória desaparece, a assistência desaparece também. Nossa intenção é resgatar a história de um acidente muito grave que teve várias facetas. Nós percebemos que as vítimas precisam de atenção psicossocial, aumento da pensão e assistência à saúde de todos que foram contaminados", explicou. 
 
Ele contou que o Fórum terá agenda durante todos os meses até setembro, mês em que o acidente completa 30 anos. "Vamos ter seminários, palestras com especialistas de todo o Brasil, visitas dirigidas, ações pela internet e audiências públicas. Em setembro, vamos fechar o Fórum com um teatro encenado pelas vítimas da bomba atômica de Hiroshima", disse Júlio. 
 
O evento recebeu a presença de Kunihiko Bonkohara, sobrevivente da bomba de Hiroshima no Japão e diretor da Associação Hibakusha Brasil pela Paz. Ele compartilhou experiências e contou como foi o processo para que as vítimas japonesas da bomba atômica e que residem no Brasil conseguissem receber recursos do governo japonês. "Nós ganhamos na justiça no ano passado e esperamos que este ano consigamos receber esse auxílio. São mais de 30 anos de luta e muitas mortes. Éramos 270 japoneses aqui, hoje somos 90, porque todo ano alguns morrem por falta de assistência", informou Kunihiko. 
 
O japonês de 75 anos tinha apenas 5 quando foi atingido pela explosão. Ele e o pai estavam a dois quilômetros de distância do epicentro da explosão e além dos estilhaços, os dois tiveram contato com a nuvem radioativa. "Perdi minha mãe e uma Irmã. Mas as consequências não foram pontuais. Tive tuberculose, problemas cardíacos, além de feridas físicas e psicológicas durante os anos. Nós, da associação travamos uma luta para conseguir na justiça o direito de receber algum auxílio do governo japonês. Esse ano, isso se resolve. Vamos receber por mês o valor referente ao salário mínimo brasileiro", informou. Para ele, não há mais tempo para discutir. "É necessário fazer algo agora. Pessoas estão morrendo, sofrendo", completou. 
 
Sérgio Dialetachi, ex-integrante do Greenpeace e expert na questão da energia nuclear e da Articulação Antinuclear Brasileira (AAb) criticou a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e governos. "A culpa do acidente com o Césio não é de vocês ou daquele que abriu a cápsula. A culpa é dos governos municipal, estadual e federal, que falharam em descartar, detectar, indenizar e auxiliar. Essa comissão também nunca funcionou. As pessoas continuam passando por problemas de saúde, financeiros e psicológicos. Continuam morrendo e o que está sendo feito? Nada! Não podemos sentar no problema. Não deixem que isso seja esquecido. O mínimo que vocês precisam ter é uma indenização decente", encorajou. 
 
Lei 
De acordo com o presidente da Associação dos Contaminados, Irradiados e Expostos ao Césio-137, João de Barros Magalhães, o Fórum também quer fazer os governos cumprirem a lei 9.425, sancionada no dia 24 de dezembro de 1996, e que concede pensão alimentícia vitalícia as vítimas. "Temos muita dificuldade de receber o auxílio e o valor está defasado, já que deveria ser corrigido de acordo com o salário mínimo. Hoje recebemos R$ 778. Temos vítimas que precisam de medicamentos que custam quase isso. Então precisamos de um olhar mais sensível", ressaltou.  
 
Segundo ele, atualmente 520 ex-funcionários do Consórcio Rodoviário Intermunicipal (Crisa) e policiais militares recebem algum tipo de pensão. É o caso de Marães Pereira de Almeida, de 53 anos. Ele foi um dos motoristas da Crisa que levava técnicos do Rio de Janeiro para os locais contaminados. "Eu preciso fazer reposição hormonal duas vezes por mês. Cada dose do medicamento custa mais de R$ 500. A pensão não supre nem as duas doses que eu preciso par ficar bem para trabalhar", reclamou. 
 
Ele conta que na época do acidente, todos achavam que se tratava de um gás e não imaginavam a gravidade do problema. "Eu mesmo descia dos caminhões e ia com os técnicos até os locais para recolher materiais contaminados. A falta de informação era tão grande que todos os dias a gente almoçava ali nas áreas contaminadas. Várias vezes minha esposa lavou minhas roupas junto a da família toda. A falta de apoio na época reflete na vida de muita gente até hoje", desabafou. 
 
"Nós estamos pedindo o que é justo, o mínimo para sobreviver com dignidade. Muitas vítimas só tem o básico em casa e escolher ter o que comer em casa do que comprar medicamento. Acredito que o Fórum reascenderá essa discussão, pois 30 anos depois estamos do mesmo jeito, passando pelas mesmas dificuldades", finalizou Suely Lina de Moares Silva, presidente da Associação das Vítimas do Césio (AVCésio).
 
Relembre o caso
Um dos maiores acidentes com o isótopo Césio-137 teve início no dia 13 de setembro de 1987, em Goiânia. O desastre fez centenas de vítimas, todas contaminadas por meio de radiações emitidas por uma única cápsula que continha césio-137. 
 
Ao vasculharem as antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia (também conhecido como Santa Casa de Misericórdia), no centro de Goiânia, dois catadores de material reciclável depararam-se com um aparelho de radioterapia abandonado e removeram a máquina com a ajuda de um carrinho de mão. Eles levaram o equipamento até a casa de um deles.
 
Os homens acharam que se tratava de sucata e venderam o fragmento a um ferro-velho. A cápsula projetava uma luz brilhante que despertou curiosidade, e muita gente acabou manuseando o material. O acidente foi descoberto duas semanas depois. Após os primeiros sinais de contágio pela radioatividade, a peça foi levada à Vigilância Sanitária, que constatou tratar-se de material tóxico. A partir de então, casas e ruas foram isoladas, e a cidade foi invadida por especialistas e técnicos em radiação. Moradores fizeram testes para saber se estavam contaminados. Os primeiros atendimentos foram no Estádio Olímpico de Goiânia, e os casos mais graves foram transferidos para o Rio de Janeiro.
 
Mais de mil pessoas foram contaminadas por radiação de césio-137. Na ocasião, quatro morreram. Mas, estima-se que dezenas de pessoas faleceram em consequência de complicações desenvolvidas a partir da contaminação pelo césio 137. 
 

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:
Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351