Kamylla Rodrigues
Goiânia - Com crise, sem crise. Nas vacas magras, ou gordas. O consumidor que diz rejeitar desconto está mentido ou nada no dinheiro. O símbolo de porcentagem faz os olhos brilharem e até aquele produto que nem estava na sua lista de compras, acaba entrando no carrinho.
Nos últimos anos, as empresas buscaram acompanhar e se adaptar às mudanças de comportamento do novo consumidor, aderindo às plataformas digitais de compras, que oferecem descontos ou programa de pontos como forma de fidelização. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em 2017, revela que mais da metade dos consumidores brasileiros com acesso à internet (59%) já utilizou algum aplicativo em dispositivos móveis para comprar algo. Desses, 22% possuem o hábito de utilizar sites e aplicativos de descontos.
Nesse sentido, um sistema que promete alavancar o consumo é o cashback (dinheiro de volta). A modalidade vem ganhando espaço no Brasil e uma das diferenças dos tradicionais programas de fidelidade é que parte do dinheiro é devolvido ao cliente após a compra.
Dois aplicativos que têm atuação mais expressiva em Goiás são o Beblue e o Méliuz, startups de metodologias diferentes. O Beblue, que já movimentou R$ 5 milhões em Goiás, tem como foco o varejo físico e devolve ao consumidor o crédito para ser utilizado na próxima compra em uma das lojas parceiras. Já o Méliuz, que atua também por meio de site, devolve o dinheiro direto na conta do cliente quando o valor mínimo (R$20,00) é atingido. A porcentagem de devolução ou de crédito começa em 2% e chega a 100% dependendo da loja, que pode ser física ou virtual.

São postos de combustíveis, supermercados, confeitarias, padarias, salões de beleza, oficinas mecânicas e outros empreendimentos associados que abrem mão de uma porcentagem do que ganhariam para investir no marketing desses aplicativos. "26% dos jovens utilizam esse recurso como argumento de compra. Eles escolhem o estabelecimento em função da troca de bônus. Os estabelecimentos estão percebendo isso e aderindo a essa inovação, mesmo que sacrifique um pouco de sua margem. Acredito que essa tendência cresça bastante nos próximos anos", ressalta a gerente de relacionamento da Câmara dos Dirigentes Logistas (CDL), Dina Marta Correia Batista.
Gerente de relacionamento da Câmara dos Dirigentes Logistas (CDL), Dina Marta Correia Batista (Foto: divulgação)
O economista Edilson Aguiais, que utiliza o Beblue em postos de combustíveis credenciados, afirma que o sistema de cashback funciona mais como uma estratégia de marketing para dar visibilidade às lojas e fidelizar clientes. "O surgimento dessas novas tecnologias acompanha uma tendência natural de mudança de padrão de consumo, independente de cenário político e econômico. Essas plataformas oferecem vantagens reais, que você vê ali, na hora, e isso atrai e engrossa o consumo. Fidelizar cliente é uma estratégia antiga, porém difícil. E ela não deve ser a única", afirma.
É um bom negócio?
A Beblue estabelece porcentagens de cashback mínimas e máximas dentro de cada categoria, mas cada empresa define – dentro desse range – qual porcentagem do valor total da compra será creditada de volta ao cliente. São os lojistas que pagam ao aplicativo uma taxa por cada transação. Já a proposta do Méliuz é diferente. As lojas pagam para anunciar no site e no app da startup e a empresa devolve ao cliente, em dinheiro, parte desse valor.
Douglas de Oliveira, proprietário de uma loja de açaí em Goiânia, entrou no Beblue há cerca de três meses e sentiu a diferença entre a publicidade no app e em outros meios. "Esse tipo de marketing você paga se o cliente vier até a loja. Já a propaganda em meios de comunicação você paga mesmo sem vender qualquer produto. Isso é uma vantagem", disse ao complementar que pelo menos uma vez na semana o estabelecimento fica na aba de ofertas especiais do dia, que podem gerar um cashback de até 100%.
No último domingo (29/10), por exemplo, o restaurante Manda Brasa, no Setor Jardim América, ofereceu a caneca de chopp claro de 400 ml, por 100% no Beblue. Ou seja, o valor integral da caneca de chopp voltava para seu saldo no aplicativo. O produto tinha limite máximo por pessoa de seis unidades.
Ana Paula Dagli, gerente da Abuelita Bolos Caseiros, ressalta que a ferramenta atrai novos consumidores para dentro da loja e permite que o empresário tenha um feedback do atendimento, já que no final da compra o cliente avalia o estabelecimento. "Com esse retorno do cliente, conseguimos melhorar nosso produto e o capital humano que lida diretamente com o consumidor. Isso torna a loja cada vez melhor e aumenta as chances daquela pessoa voltar", disse. A Abuelita conta com um cartão fidelidade que acumula número de compras e, após 10 transações, o cliente ganha um desconto. "Vamos agregando vantagens para não perder venda. A gente aperta a margem para manter o dinheiro circulando".
(Foto: reprodução Instagram)
A vantagem nem sempre atinge todos os setores, como explica o diretor da CDL, Gustavo Henrique de Faria, que também é sócio-gerente de um posto de combustíveis. "Eu cheguei a entra por um tempo, mas nós vimos que não estávamos conseguindo um lucro mínimo, uma vez que o setor de combustíveis possui uma alta variação. Nossa margem é pequena e, em alguns momentos, ela ficava abaixo do valor oferecido no cashback. Para outros setores que precisam de fluxo, como restaurantes, é excelente. Para nós não foi tão vantajoso, porque o fluxo eu já tenho", informou. Em contrapartida, o diretor da CDL ressalta que a ferramenta é um ótimo caminho para o consumidor que busca economia.
Diretor da CDL, Gustavo Henrique de Faria (Foto: divulgação)
Para o consumidor
O assistente administrativo Vittor Hugo Peixoto conheceu o aplicativo Beblue por meio de uma das ferramentas que ele oferece: transferir o saldo para qualquer pessoa que tenha do app. "Esse amigo me devia um dinheiro e transferiu o crédito que ele tinha para mim. Gostei do aplicativo e desde então toda vez que vou sair escolho locais catalogados no Beblue, de preferência algum que esteja na área de ofertas do dia, cujo os descontos são maiores", afirma. Ele utiliza o aplicativo Beblue há quatro meses, duas vezes na semana, em média. Nos primeiros dois meses, o contador conseguiu acumular R$ 100 de cashback. Com o crédito, ele realizou novas compras. "Foi como se eu tivesse ganho dois jantares".
Vittor Hugo Peixoto utiliza o aplicativo toda semana (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
Felipe Teodoro tem os dois apps e utiliza o Méliuz para compras on-line já que, em Goiânia, não há lojas físicas cadastradas. "Compro muito pela internet e percebi que esse aplicativo é um dos melhores para conseguir reaver uma parte do dinheiro". Felipe comprou um sapatênis de valor normal de R$ 139,90. O cashback recebido foi de 50%. Ele conta que antes pesquisou os preços. "Eu sou desconfiado e sempre que vejo promoções assim eu pesquiso. O preço do sapato não estava 'superfaturado' e por isso comprei", disse.
Beblue
O Beblue conta com 10 mil empresas associadas em todo o País, sendo 500 delas em Goiânia. O app começou a operar na Capital em maio de 2017 e, desde então, foram creditados cerca de R$ 5 milhões para os usuários cadastrados na região metropolitana. A expectativa da startup é ampliar esses números nos próximos anos. " São cerca 2,5 milhões de possíveis consumidores, o que faz com que a região metropolitana de Goiânia esteja entre as 15 mais populosas do Brasil e tenha um potencial de mercado muito atrativo. Além disso, segundo alguns estudos, a cidade tem expectativa de crescimento acelerado nos próximos anos e nós queremos fazer parte desse processo", afirma o co-fundador da Beblue, Daniel Abbud.
Os co-fundadores da Beblue, Daniel Abbud e Daniel Gava (Foto: divulgação)
Ele acredita que esse tipo de ferramenta tem se consolidado como nova forma de consumo em tempos de gastos mais conscientes. "A gente entende que o cashback oferece maior poder de escolha para o consumidor, que está cada vez mais buscando otimizar suas compras. O retorno de parte do dinheiro investido em um serviço ou produto é um benefício incomparável nesse sentido", complementa. O aplicativo Beblue está disponível de forma gratuita para iOS e Android.
Méliuz
O Meliuz foi lançado em 2011 e já devolveu mais de R$ 40 milhões aos clientes em todo o Brasil. São mais de 2 mil lojas parceiras. Em 2016, a empresa alcançou a marca de R$ 1 bilhão em vendas e fechou o ano com um aumento de 250% no volume de compras feitas por meio do site, em relação a 2015. Neste ano, o Méliuz ampliou o cashback para lojas físicas, mas em Goiânia apenas uma farmácia está cadastrada. A intenção é ampliar os credenciamentos das lojas físicas da Capital até o começo do ano que vem. O app também está disponível de forma gratuita para iOS e Android.
Como usar?
Após baixar os dois aplicativos e inserir os dados, o cliente terá acesso ao catálogo de lojas associadas e quanto elas oferecem de cashback. No Beblue, a compra é feita nas lojas físicas, que possuem uma máquina de cartão específica e que aceita as bandeiras Visa, Hipercard e Mastercard. Ao finalizar a compra, a máquina pede o CPF do consumidor, e o crédito é gerado na hora. O valor do cashback devolvido pode ser conferido na tela principal do aplicativo. Com o cashback é possível realizar uma compra nas lojas credenciadas. Basta colocar o CPF na máquina de cartão.
Com o Méliuz, a compra pode ser feita em lojas físicas credenciadas ou pelo site do aplicativo. Basta ativar o dinheiro de volta e fazer a compra na loja normalmente. Assim que a loja confirmar a compra, o dinheiro do casback cai na conta fornecida.