Raisa Ramos
Absurdo. Esse é o adjetivo que melhor define o filme "o Homem do Futuro", comédia nacional que estreia no País na próxima sexta-feira, dia 2/9. Com roteiro fraco e cheio de falhas, a obra dirigida por Cláudio Torres aposta num elenco de peso, que inclui o ótimo Wagner Moura e a linda Alinne Moraes.
A história não poderia ser mais clichê e moralista. Zero - o protagonista, interpretado pelo ex-Capitão Nascimento - é um cientista amargurado, que pensa que sua vida toda é um desastre porque, numa festa nos tempos da faculdade, foi humilhado publicamente pela garota que achava ser o amor de sua vida. A garota, no caso, é Alinne Moraes, que interpreta Helena, uma estudante de física, assim como sua vítima. No meio evento que mais parece "Prom Night" americana, a bela chama o nerd para cima do palco, onde cantam juntos a música "Tempo Perdido", do Legião Urbana. Depois da apresentação, um grupo de marmanjos liderados por Helena despeja um balde de cola no rapaz, jogam penas sobre ele e o suspendem no meio do salão, onde todos os presentes riem do coitado.
Achou um pouco parecido com "Carrie, a Estranha"? Bingo! Bem que a continuação da comédia podia ser igual ao clássico suspense da década de 1970, com Wagner Moura matando todo mundo ali na festa e acabando o filme na primeira meia-hora de duração, mas não é assim, infelizmente.
Por conta do bullying sofrido na juventude, Zero cresce ressentido, inventa uma máquina do tempo e volta em 1992 para mudar tudo o que aconteceu naquela noite. Assim ele o faz, mas quando retorna para o presente, vê que suas atitudes causaram estragos ainda piores na sua vida. Ele se tornou uma pessoa rica, arrogante e canalha. Não tem amigos e, muito menos, Helena como esposa. Ele,portanto, tem que viajar novamente no tempo e consertar os problemas. Para isso, ele percebe que, por pior que seja a humilhação, ele deve passar por toda aquela experiência terrível. E é nesse momento que o filme passa de chato para absurdo, fazendo uma verdadeira ode ao bullying. "A vida é cheia de problemas e devemos, desde cedo, não os evitar, mas aprender a lidar com eles". Essa é a moral da história do filme, ou melhor, "moral" do filme.
Outra coisa impossível de engolir é colocar atores já na faixa dos 40 anos para interpretar papéis de garotões de 20. Tudo bem que cinema é a arte das possibilidades, onde a mágica acontece etc., mas tudo tem limite! Gabriel Braga Nunes cheio de pé de galinha nos olhos não convence como o ex-namorado de Helena. Maria Luísa Mendonça também não consegue passar por nem aqui nem em lugar nenhum. O mesmo acontece com os protagonistas. Não há maquiagem que dê conta! A mesma dica vale para outros filmes e programas de TV (ouviu, Malhação?).
Confesso que há momentos em "O Homem do Futuro" que são engraçados, mas não conseguem compensar o conjunto inteiro. Num ano em que as comédias nacionais estão batendo recorde de bilheteria, diretores e roteiristas bem que podiam se esforçar para fazer filmes melhores. Ao contrário do que se pensa, o Brasil tem ótimas produções cinematográficas que acabam sendo prejudicadas pela má reputação criada e mantida por produções fracas, como essa estrelada por Wagner Moura.