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Turismo rural

Temporada da jabuticaba em Goiás: doçura da fruta e seus benefícios

Jornal AR visitou o maior jabuticabal do mundo | 08.10.17 - 11:15 Temporada da jabuticaba em Goiás: doçura da fruta e seus benefícios (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
Kamylla Rodrigues 
 
Nova Fátima (GO) - Se é inebriante para as abelhas, imagina para o ser humano. Em formato globoso, de cor preta arroxeada e repleta de um sabor doce, a brasileiríssima jabuticaba está exuberante no tronco e nos galhos. Em Goiás, a temporada da fruta começou em setembro e deve prosseguir até o começo de novembro. O Jornal A Redação visitou o maior jabuticabal do mundo, que fica em Nova Fátima, distrito de Hidrolândia, a apenas 30 quilômetros de Goiânia, e encontrou por lá não apenas um, mas 42 mil pés dessa frutinha que, além do paladar, adoça também a saúde. 
 

São 42 mil pés de jabuticaba (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
A Fazenda e Vinícola Jabuticabal recebe, nessa época, cerca de 3 mil visitantes por semana. Muitos nem imaginam que a primeira muda foi plantada em 1947 por Antônio Batista da Silva, um senhor de cabelos brancos, riso fácil e boa memória. "Foi no dia 3 de maio. Eu havia acabado de me mudar e quis plantar uma jabuticaba, que era uma das frutas que eu mais gostava. Eu dizia que queria ver o quintal cheio delas, mas meu pai retrucava: 'isso é perda de tempo'. Mas não desisti". O pé de 70 anos ainda está lá, no fundo do quintal, descansando das várias floradas pelas quais já passou e observando as novas gerações.
 

Antônio Batista da Silva plantou a primeira muda há 70 anos (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
Com a visitação de turistas cada ano mais crescente, o local conta com dois restaurantes de comida caipira, feita no fogão à lenha, um heliponto, uma sorveteria, um café, loja de conveniência, entre outros espaços, que foram erguidos ao longo do tempo nos 120 hectares de plantação. Toda essa estrutura e a proporção da fazenda não foi caso pensado. "Eu queria ter vários pés. Mas não achava que chegaria a isso", conta Antônio, que encabeça a árvore genealógica de mais de 110 pessoas. "Minha família é quase do tamanho do pomar", brinca Antônio, que completa 91 anos no dia 11 de dezembro e diz ter aposentado o trabalho na roça. "Hoje meu trabalho é ser tataravô".  
 
As jabuticabas de Antônio foram ficando famosas e atraindo artistas de todo o canto do País. Cantores, personalidades e políticos experimentaram a fruta nascida e criada em pomar goiano. Algumas dessas visitas estão estampadas em fotos na parede. Só não tem com os políticos Pedro Ludovico Teixeira e Mauro Borges. "Naquele tempo (década de 60) a gente não tinha a tecnologia de hoje. A lembrança está só aqui ó", disse apontando pra cabeça. 
 
O jabuticabal crescia e, com tanta fruta à disposição, o filho de Antônio, Paulo Antônio Silva. criou, em 1999, uma vinícola, onde fabrica vinhos, licores, geleias, cachaça, coberturas e doces usando a jabuticaba como matéria-prima. Todos os produtos são comercializados no próprio local e apenas durante a temporada de visitas. "São, em média, 3 mil produtos fabricados por temporada. Toda a renda fica para manutenção do pomar, que requer cuidado o ano inteiro. Como a oferta é apenas uma vez ao ano, tem gente que compra muitas garrafas de uma vez só para estocar em casa", explica Marcos Paulo Batista, um dos 11 netos de Antônio. 
 

Paulo Antônio Silva criou a Vinícola (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)

 
 
Produtos fabricados na fazenda (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
Turismo rural 
Um mirante, construído no andar do restaurante, dá uma ideia da imensidão do pomar. É de perder de vista e aguçar ainda mais a vontade de ver de perto. Mas pra isso, é preciso passar pela descida da alegria, que já anuncia: "temos wifi". "Bota alegria nisso", festejou Luciana de Souza, grudada no telefone e conectada nas redes sociais. Lá embaixo a terra fofa é morada da árvore piramidal, de tronco e galhos rústicos que sustentam frutas em abundância. 
 
 
(Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
"Que me perdoem as pequenas, mas a explosão das grandes na boca é sensacional", disse o técnico em eletrônica Alberto Cesar Macedo, que ajeitava algumas jabuticabas recém colhidas na sacola. O brasiliense Alberto comemorava o aniversário da esposa no local e aproveitou para levar outro casal de amigos. "Eu não sou um apaixonado pela fruta, mas o ambiente daqui é único. Como vivemos numa 'selva de pedra' na cidade, esse contato com a natureza revigora nossas energias", ressaltou o servidor público Osmar de Oliveira Aguiar. 
 
As anapolinas Maria Pinto, Maria Sirley e Maria Rodrigues compunham a caravana de mais de 15 pessoas que visitavam a  Fazenda Jabuticabal. As três marias já conheciam o local e tomaram frente como guias do grupo. "O pessoal que veio conosco não conhece, então vamos mostrar a beleza desse lugar e a doçura dessa fruta. Tenho duas netas que moram nos EUA e nunca viram a jabuticaba. Estou pronta pra filmar a reação", afirmou Maria Pinto, de 75 anos. 
 

Maria Pinto, Maria Sirley e Maria Rodrigues são as guias dos amigos (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
É com o turismo rural que a Fazenda Jabuticabal se mantém nesse período, já que a entrada no pomar é cobrada. Para gerir o complexo, a família conta com colaboradores. "Nós geramos 50 empregos diretos nessa época e esperamos ampliar ainda mais o quadro de funcionários, já que estamos caminhando para receber o selo IBD Orgânico. Queremos oferecer uma fruta totalmente orgânica, o que requer mais trabalho", disse Paulo Antônio Silva, o criador da vinícola. "A jabuticaba representa tudo para nós. É nosso sustento, nossas alegrias, nossas frustrações, nosso patrimônio. Vivemos para trabalhar por ela", completa o agrônomo Paulo Antônio Batista, neto de Antônio e responsável pelas pesquisas de manejo da fruta. 

O pomar também é morada de quem busca o descanso. Dá para armar uma rede e curtir as sombras e o barulho do Rio Dourado, que passa bem no meio da fazenda e que pode ser usufruído para banho e pesca.
 

Rio Dourado passa no meio da Fazenda Jabuticabal  (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
Adoça a vida e faz bem à saúde
Engenheira de alimentos, Clarissa Damiani, doutora em Ciência dos Alimentos e professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica que a jabuticaba é rica em compostos bioativos, antioxidantes, vitaminas, fibra e muitos minerais. "Na jabuticaba são encontrados ferro, fósforo, vitamina C e niacina, uma vitamina do complexo B que facilita a digestão e ajuda a eliminar toxinas. Quando eu falo de compostos bioativos, eu falo de compostos fenólicos, de antioxidantes que combatem os radicais livres, o envelhecimento e doenças. Todos os nutrientes estão mais presentes na casca, por isso a ingestão dela é importante, mas quase todo mundo a desperdiça", afirmou. 
 
Ela alerta que o consumo em excesso pode gerar desconforto intestinal. "Assim como outras frutas e vegetais, a jabuticaba tem muita fibra. E cada organismo vai reagir de um jeito, prendendo ou soltando o intestino. Não dá para precisar qual a quantidade de frutas consumidas de uma vez que cause reações. Cada pessoa vai saber identificar até que ponto ela não está mais fazendo bem". 
 

 (Foto: Kamylla Rodrigues / A Redação)
 
A jabuticaba é uma das frutas mais perecíveis. Depois que é colhida, a vida útil dela é de até três dias, desde que lavada e armazenada na geladeira. "A fruta continua respirando e tendo processos metabólicos mesmo após a colheita, que é feita quando ela já está madura. Após três dias ela vai começar a fermentar, já que é rica em açúcar. Nesse estágio, a fruta muda o aroma, a cor e a textura, e não deve ser consumida", ressalta Clarissa, que indica produtos processados para quem quer continuar consumindo a fruta após a temporada. "Sucos, geleias, doces podem substituir a fruta ao longo do ano, lembrando que a quantidade de nutrientes será menor, já que o produto passa por processamento".
 
A UFG desenvolve pesquisas sobre a jabuticaba. Uma delas foi feita com a casa, que se transformou em farinha. "Dessa farinha, fizemos marcarrão. Ficou extremamente atrativo para as crianças por causa da cor", informou. O processo de secagem pode ser feito em casa, como Clarissa explica. "Basta colocar as casas no forno em temperatura mínima. Essa casca seca pode ser consumida ou transformada em chá, farinha, doce, entre outras infinidades de receitas", instruiu. 

Serviço
Entrada na Fazenda Jabuticabal 
Valor: R$ 30
Criança de 0 a 4 anos não paga
Criança 5 a 9 anos paga meia entrada
Comprar as frutas: R$ 7 o quilo
Restaurante: R$ 44,90 o quilo
Horário de funcionamento: das 8h às 18h
Temporada de visitação: Até 3 de novembro 


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