Catherine Moraes
Fotos: Álbum de família
Uma gravidez tranquila e saudável. Um parto bem sucedido e a espera pelo filho que o casal já tinha decidido: seria o único. Lá fora, uma festa preparada para receber o Gabriel, um anjo mesmo. De repente, a pediatra explode uma notícia sem nenhum preparo: “Seu filho tem Síndrome de Down”. Simples assim, complicado demais na cabeça. A bióloga Isleide Maria Portela Estrela, de 43 anos, recebeu esta notícia em 9 de outubro de 2003. Hoje, Gabriel tem oito anos e os pais perceberam que especial não é o filho, especiais são eles que receberam este presente.
Hoje (21/3), Dia Internacional da Síndrome de Down, devido à trissomia do cromossomo 21, comemorado em 193 países, o jornal A Redação conta a história de Gabriel e os desafios superados por seus pais.
Nas fotos, Gabriel com a mãe, Isleide Estrela e com o pai, José Araújo
“Entrei em desespero e a saída da maternidade, que era pra ser uma festa, foi triste e pensativa. Havia em mim um ponto de interrogação, não sabia por onde começar ou mesmo como seria nossa vida. Chorei muito porque, apesar de amar meu filho, o sofrimento existe, claro. O tempo é o melhor remédio e é com ele que você percebe que é especial e, por isso, recebeu uma super missão”, se emociona.
Gabriel foi um garoto de rápido desenvolvimento, e os pais adotaram o lema: “Síndrome de Down! Uma história de nariz comprido”, história de mentiroso. Isso porque o garoto firmou o pescoço com quatro meses, sentou com dez meses, engatinhou com 1 ano e andou com dois anos um mês e dezesseis dias, data que marcou completamente a vida da mãe e do pai, José Araújo Estrela Júnior, de 49 anos.
As primeiras palavras vieram com apenas seis meses, quando ele falou angu. Com um ano e meio já falava papa, mama, pa, vó e usava tutu para pedir música. Se lhe perguntassem a idade, ele mostrava logo o dedinho indicando um e dois dedos para mostrar que faria aniversário. Foi nessa época que ele aprendeu a mostrar o polegar para cima, mostrando que estava jóia, bater palmas, dar tchau e jogar beijo.
Gosto pela música vira livro
Rapidamente ele aprendeu a mostrar as partes do corpo, imitar animais, encaixar brinquedos pedagógicos e a ser seleto quando o assunto era livros, música ou exposições de quadros. O gosto musical, entretanto, era de gente grande. Nada de desenhos animados ou música infantil, ele gosta mesmo é de U2, Simple Red, Engenheiros do Havai, além de Ópera, MPB e Rock em geral.
Os pais contam que começaram a observar a animação dele com determinados tipos de música e aos poucos, ele mesmo pedia para colocarem os dvd’s. Por horas ele fica em frente à televisão apreciando a boa música. A musicoterapia também fez parte da vida do Gabriel e essa presença da música em seu tratamento fez com que Isleide começasse a escrever seu primeiro livro: “A história de um menino musical”.
“Estou escrevendo há aproximadamente um ano e o objetivo é terminar daqui a três anos, já que pretendo acompanhar sua evolução nesse tempo. Meu objetivo é mostrar a nossa história para o mundo e mostrar como ultrapassamos cada obstáculo”, adianta Isleide.
Encarando as terapias
A primeira terapia pela qual o pequeno guerreiro passou foi fonoaudiologia. Em seguida vieram iniciação musical para bebê e estimulação precoce. Aos nove meses começou a fazer natação e passou ainda por musicoterapia e ecoterapia, sem abandonar a fisioterapia.
A mãe garante que as terapias precisam ser pensadas em coletivo. “Todas as terapias são boas e para nós, pais, é uma lição de vida. Aprendemos que eles precisam viver bem, correr, brincar, sem pular etapas. Essa vivência o torna mais preparado e ajuda no crescimento”, completa.
Autismo, o segundo baque
Aos três anos, quando o pequenino já se mostrava bastante desenvolvido, veio a segunda notícia. Gabriel apresentou sinais de autismo e o que havia aprendido foi regredindo. A bióloga conta que foi outro choque para a família, mas que ergueu a cabeça e pensou: Vamos passar por mais esta etapa. As terapias continuaram e a luta foi intensificada. Aos poucos, os sintomas foram desaparecendo até que se tornaram mínimos. Ele aprendeu tudo novamente.
Inclusão escolar
Gabriel estuda em uma escola regular que trabalha com a metodologia Pedagogia Waldorf, que leva em consideração as diferentes características das crianças e jovens. A pedagogia lida ainda com criatividade, flexibillidade e responsabilidade. Isleide conta que a escola trabalha com o equilíbrio da criança, usa brinquedos de madeira ao invés de plástico e opta por alimentação saudável. Os pais pagam ainda uma estagiária de pedagogia que acompanha Gabriel durante as aulas.
Isleide Estrela e o filho Gabriel se divertem durante brincadeira
Se você descobre que vai ter uma criança especial, calma
Para quem vai ser pai ou mãe de uma criança portadora de síndrome de Down, Isleide dá a dica: “a gente deve chorar, se permitir passar pelo sofrimento, mas ele precisa ser curto. Arregace as mangas e vá à luta, sem cessar. Saboreie cada momento e não estresse seu filho, deixe que ele cresça e o insira na sociedade, o máximo que for possível”, finaliza.
