Nádia Junqueira
No dia 1º de março, Danilo Alencar, professor de teatro da PUC-Goiás e diretor do grupo Arte e Fatos, começou a sentir um cansaço muito forte, boca seca, desarranjo intestinal, sonolência, ânsia de vômito e crise de soluço. No dia seguinte foi ao hospital saber o que estava acontecendo. Assim que a médica recebeu seu exame de sangue, constatou taxas altíssimas de uréia e creatinina, que medem a função renal. Levou um susto, o internou e chamou o nefrologista Mauri Félix de Souza. As taxas reveladas no exame apontavam comprometimento dos rins, com risco de Danilo ter de fazer diálise. A causa disso? Ele comeu muitas carambolas e bebeu suco da fruta.
Veneno para pessoas com insuficiência renal, a carambola possui uma neurotoxina que, de acordo com o Dr. Mauri, naqueles em que os rins não funcionam bem, cai diretamente no sangue e age no sistema nervoso central levando a convulsões, soluços intratáveis chegando à hipotensão e até óbito. Os que têm bom funcionamento renal, a toxina é excretada. No entanto, o caso de Danilo não é insuficiência renal. Ele tem diabetes, o que, no entanto, aponta uma pré-disposição para problemas renais.
“Eu nunca tinha ouvido falar na vida que diabéticos não podem comer carambola”, disse o professor de teatro. O grupo de estudos ligado a Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto que estuda desde 1996 a ação da carambola nos organismos de quem têm problemas renais também descobriu há pouco que a fruta é prejudicial a quem tem diabetes. O caso de Danilo foi apresentado ao grupo e eles incluirão em seus estudos, de acordo com Mauri Félix. O grupo aponta vários casos de morte por consumo de carambola daqueles com problemas renais.
Inicialmente, Dr. Mauri acreditou que o estado de saúde de Danilo era conseqüência do consumo de antinflamatório. Somente depois de alguns dias de internação, em uma conversa informal, Danilo contou que tinha ingerido grande quantidade de carambolas. O consumo do antinflamatório, a grande quantidade ingerida da fruta aliadas às diabetes do professor compuseram esse quadro de saúde complicado.
Comparações
O nefrologista Mauri Félix explica que para pessoas sem problemas renais, a carambola grande e colorida não prejudica o organismo. No entanto, caso consumam em grande quantidade a pequena e verde (mais azeda) até mesmo aqueles sem nenhuma predisposição a problemas renais podem desenvolver a perda aguda da função renal. Isso porque esse tipo tem maior quantidade oxalar. “No Sri Lanka, de onde vem a fruta, eles consomem bastante. No entanto eles cozinham as carambolas, o que diminui o oxalato”, explica o médico.
Fruta, do tipo grande e colorida, não prejudica o organismo. O perigo está nas pequenas e verdes.
Ele compara a fruta com a mandioca, que também tem grande quantidade de oxilato. “Não provoca insuficiência porque a comemos cozida e também porque tem cálcio, que não permite absorver muito oxalato. A carambola tem pouco cálcio. Se comermos cozida ou com cálcio não dá problema nenhum”, explica.
Na natureza, os pássaros e outros animais não comem essa carambola pequena e azeda. “Tem sabedoria maior do que a natureza?”, comentou Danilo quando soube desse fato. A fruta é um inseticida natural e os agricultores podem plantar árvores de carambola ao redor de pomares como uma forma de combater moscas.