Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 14º ano seguido. Confira nossos prêmios.
Jairo
Macedo
fotos: Fábio Lima
Uma verdadeira febre por corridas tem tomado a cidade de Goiânia nos
últimos tempos. Quem caminha ou corre pelas pistas e parques da cidade é
estimulado a aderir a qualquer movimentação: corridas defendendo causas que
variam de luta ecológica a prevenção contra o câncer de mama, passando por
minimaratonas ou mesmo corridas específicas para mulheres, terceira idade e crianças.
Até o Vila Nova, clube que não anda lá muito bem das pernas, resolveu botar
seus torcedores para correr há algum tempo, em atividade que buscava promover a
Campanha do Tijolinho - onde foi parar? - lançada pelo Tigrão.
Mas afinal, onde correr em Goiânia? Caroline Protásio, personal trainer que
trabalha somente com corridas e caminhadas há oito anos, defende variações de
percursos, em que mais de um tamanho de pista esteja disponível para o usuário.
"Por que o Parque de Brasília é tão frequentado?", ela pergunta e
logo vem com a resposta: "É por que lá tem percursos de 4, 6 e 10 km, e
essas distâncias diferentes possibilitam a inclusão de pessoas que estejam em
vários níveis de caminhada". Em Goiânia, onde a pista maior é a do Horto,
na Alameda das Rosas, com 2,6 km, essa variação não é uma tarefa fácil. Sendo
assim, "os parques na cidade são feitos para as pessoas passearem, não
para correrem", resume Caroline. Alda Meirelles, empresária de 45 anos que
participa do grupo de corrida da professora, segue raciocínio semelhante.
"Uma mesma pista para caminhada e corrida não funciona, o corredor não
quer uma pessoa muito lenta na sua frente", admite. Alda cita o Parque
Vaca Brava, de muita movimentação de pessoas e pista estreita, como um dos mais
difíceis para a busca de um ritmo ideal.
A dificuldade das dimensões também é apontada por Wendel Costa, outro
profissional de Educação Física que também trabalha com a corrida ao ar livre.
Wendel participa do programa Caminhando com Saúde, criado pela Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer (Semel), e compara duas pistas em que ministra
suas aulas de orientação aos caminhantes. "Na Vila Redenção, trabalhamos
com uma pista bem pequena, de 350 metros, e lá funciona pela proximidade da
vizinhança, mas está longe do ideal", observa. "A pista localizada na
Chácara do Governador, próximo à UEG, pelo contrário, é plana e de dimensão
ideal", complementa. O Parque Flamboyant é outro que também se encaixa
nestes padrões, na opinião do professor.
Carros, estresse e ritmos diferentes
Nessa diversidade de interesses convivendo na mesma pista, ninguém melhor que
Benedito Ferreira - aposentado, "já passei dos 80 anos" -, que
escolheu o Parque Areião para as suas atividades físicas há quase dez anos. Seu
'Bené', como é conhecido por todos, deixa escapar que acha as subidas e
descidas do parque "meio complicadas", mas não é dado a reclamar.
"Tenho o hábito de andar e até arrisco umas corridas e uns trotes e no
final ainda faço uma ginástica", diz ele, para lá de animado. "Às vezes,
a gente passa por dentro do parque, para dar uma variada e respirar melhor,
depois voltamos ao normal", explica Bené.
Sobre o Areião, o professor Wendel, que também atua no local e conhece bem o
Seu Bené, observa que neste e em outros parques goianienses não se corre por
dentro deles, mas sim margeando-os. "Isso complica por que é nosso
objetivo aliviar o estresse das pessoas e lá tem uma movimentação enorme no fim
de tarde, com muito carro buzinando, ambulância saindo e entrando no hospital,
acaba-se perdendo a calma e o pique", reclama. "A pessoa corre pela
saúde e pelo bem-estar, mas acaba correndo junto com os carros", concorda
Caroline.
Ricardo Paranhos
É consenso entre os profissionais e praticantes consultados por A Redação que a Avenida Ricardo
Paranhos segue como a ideal para quem busca um ritmo mais acelerado. Depois de
muita conversa entre a Prefeitura e profissionais da área, um formato
satisfatório foi encontrado. A adequação destes 2,5 km para a prática de
atividades físicas contribuiu decisivamente para a criação de pequenos grupos
que, por vezes sob orientação especializada, procuram performances mais
ambiciosas. O tamanho da pista, em uma movimentação de ida e volta, simula bem
o formato das provas de corrida, usualmente realizadas em múltiplos de cinco
quilômetros. O grupo de Caroline Protásio e Alda usa a pista por essas
dimensões e pela singularidade de quem a utiliza, uma vez que ela ficou
caracterizada pelo uso de corredores e não de ciclistas, crianças ou pessoas
que procuram uma caminhada mais leve. Lá eles correm e, quando possível, ainda
esticam os exercícios até as ruas adjacentes à avenida.
Se ainda há problemas com moradores? "O goiano ainda tem dificuldades de
entender a importância daquele espaço, mas já melhorou bastante", observa
Caroline, aliviada pela segurança com que os praticantes contam hoje em dia.
Wendel Costa também observa a existência de alguns desentendimentos com
motoristas, mas entende que não é mais como antes.
Mas consenso de fato, entre os entrevistados, é a certeza da importância do
exercício físico, bem como o prazer que a prática dele ao ar live - e com
companhia, é claro - proporciona a quem se disponibiliza a ganhar as pistas da
cidade. "Sozinha e em academias, mesmo com um sonzinho no ouvido, não é a
mesma coisa", compara Alda. Seu Bené entende essa convivência como
essencial e, sempre amistoso, completa com um "jornalista também
pode!", entre irônico e convidativo.