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Adriano N. de Brito

Filosofia, Ciência e Escola

Caberia à filosofia formar o espírito crítico | 13.09.12 - 16:39

 Novo Hamburgo (RS) - Que a filosofia tem crescido em popularidade, não há dúvida, mas o que isso quer dizer não é inequívoco. Pelo menos isto é certo: mais e mais gente está exposta a ela, por exemplo, milhões de estudantes. A experimentação, contudo, é o procedimento padrão dos burocratas da educação no país. Graças a ela, chegamos à média de 13 disciplinas no ensino médio, incluindo a filosofia.

Se a filosofia tivesse produzido os efeitos esperados na universidade, teria mostrado aos experimentadores que sem controle, registro ou procedimento de verificação de resultados, experimentar não produz conhecimento, e, portanto, não cai sob a categoria de ciência. Não se aprende isso na academia e não é de se esperar que a filosofia possa ensinar algo sobre ciência nas escolas. Pois não o faz, quase nunca.
 
Diziam, para colocá-la no currículo, que à filosofia caberia a tarefa de formar o espírito crítico. O que é isso, não sabem ao certo. Pelos resultados, contudo, vê-se que não tem a ver com conhecimento e sim com uma orientação determinada e, por ironia, pouco crítica a clichês ideológicos esgarçados.

O lugar não convém à discussão de como a filosofia chegou a se afastar tanto das ciências e justamente no século XX, em que os procedimentos científicos se tornaram tão ubíquos. Fato é que boa parte dela, assim como uma fatia significativa das ciências humanas, ficou presa a uma síntese anacrônica entre o humanismo iluminista e o materialismo hesitante que esteve na raiz dessas ciências no século XIX.
 
A filosofia que nos é popular e que foi parar na escola tem esse perfil anacrônico e evoca temas como crítica social, preocupações existenciais e morais, alguma consideração edificante sobre a vida humana, digressões sobre a arte e a cultura, e muita, muita história do pensamento. Esses são todos temas legítimos e fundamentais para os que estamos nesse mundo, mas como tratá-los com a ajuda das ciências não é pergunta popular.

Comum, aliás, é pensar o contrário, é pensar  que não podem, que não se deve tentar fazê-lo, que esses temas seriam maculados pelo poder desenfeitiçador do conhecimento científico. Sim, o papel da filosofia contemporânea é urgente, mas é o de reatar os temas humanos com o mundo científico e com a natureza. Popularizar a filosofia deveria ser também popularizar a ciência contemporânea e seus procedimentos.
 
Os resultados pífios do Ideb, recém divulgado, ensejam agora a reorganização das várias disciplinas nas escolas em grandes áreas: linguagens, matemática, ciências humanas e da natureza. Não posso discutir aqui os méritos e deméritos da proposta curricular, mas, no que tange à filosofia, se essa se aproximasse das ciências teria muito a contribuir para um tratamento mais transversal e eficiente dos conteúdos de ensino.

Alguns exemplos: lógica para as linguagens e a matemática; noções de história e filosofia da ciência para a compreensão do conhecimento; e um viés antropológico e naturalista para confrontar a história, a biologia ou a geografia. Contudo, não obstante as idéias que se possa ter para o ensino no país, o que temos visto é que popular é reescrever receitas sem mudar os hábitos dos cozinheiros.
 
 
Adriano N. de Brito é coordenador do PPG em Filosofia da Unisinos  

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