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Luiz Barretto

A força dos negros empreendedores

Participação cresceu no Brasil | 13.09.13 - 14:49
Brasília - O Brasil registra, na última década, a evolução de indicadores socioeconômicos que embasa a construção de uma sociedade mais desenvolvida e mais justa. Nesse processo, o empreendedorismo tem sido protagonista. Mais do que uma oportunidade de evoluir na vida, como ocorre em tantas economias mais desenvolvidas, aqui no País ele também é um fenômeno de inclusão social. Agora temos mais elementos para apostar no potencial de transformação do empreendedorismo. Os negros, grupo historicamente discriminado, aumentaram a participação em atividades empreendedoras e comandam quase a metade do total de empresas no Brasil.

A informação é de um estudo inédito do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), que buscou detectar as principais características dos donos de negócio no Brasil, de acordo com a raça declarada por eles mesmos à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE. O trabalho revelou que, entre 2001 e 2011, o número de empreendedores negros passou de 43% para 49%. A participação relativa dos brancos caiu de 56% para 50%. A categoria Outros, que inclui aqueles que se autodenominam amarelos ou indígenas, por exemplo, permaneceu na faixa de 1%.

A participação crescente dos negros no empreendedorismo acompanha a evolução desse grupo na população brasileira e é apoiada pelo crescimento geral da renda. No contexto do crescimento da classe média, que viabilizou a ascensão social de mais de 40 milhões de pessoas na última década, grupos historicamente mais pobres são destaque. Oitenta por cento dos novos membros da classe média são negros. A renda desse grupo, bem como de nordestinos, cresceu o dobro da média da classe C nos últimos 10 anos, segundo o instituto Data Popular. Esses dados mostram que a classe média cresce com redução da desigualdade.

É possível verificar um círculo virtuoso: o processo de inclusão social fortalece o empreendedorismo, que, por sua vez, viabiliza maior inclusão social. Exemplo disso é a relação entre microempreendedores individuais – categoria que tem faturamento bruto anual de até R$ 60 mil, ou R$ 5 mil por mês – e beneficiários do Bolsa Família, programa voltado para famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. Atualmente, cerca de 10% de microempreendedores individuais são beneficiários do Bolsa Família. Esse percentual tem evoluído gradativamente, demonstrando que esse grupo busca meios para gerar renda e não depender, exclusiva e indefinidamente, do programa do governo.

Por reconhecer o potencial empreendedor dos beneficiários do Bolsa Família, o Sebrae tem atuado intensamente para capacitar microempreendedores individuais em todo o país. É de importância estratégica qualificar esse público, o que repercute positivamente não apenas nas famílias dessas pessoas, mas também nas economias local e nacional.

Os avanços merecem ser celebrados, mas há muitas estatísticas que precisam ser modificadas. Em geral, os negros ingressam mais cedo no mercado de trabalho e entre eles há uma proporção elevada de indivíduos que atuam em atividades mais simples, de menor valor agregado ou maior precariedade. No grupo dos brancos, verifica-se uma maior proporção de empreendedores que atuam em atividades mais especializadas e de maior valor agregado. Que fatores impactam decisivamente nessa diferenciação? O grau de escolaridade e a capacitação empreendedora estão entre os principais.

Não é possível dissociar o êxito no empreendedorismo do nível de capacitação do empresário. A atividade empreendedora deixou de ser um caminho emergencial para quem não tinha alternativa de renda e cada vez mais é buscada devido à identificação de uma oportunidade no mercado. Abrir uma empresa, porém, é apenas o primeiro passo. Para que o negócio tenha chances de consolidação e de longevidade, o empreendedor precisa ter iniciativa de se capacitar de forma contínua. Caso contrário, sua empresa não terá condições de enfrentar a concorrência, numerosa e bem preparada.

No Sebrae, buscamos oferecer cursos variados, com linguagem e didática segmentados para cada tipo de empreendimento: microempreendedores individuais, microempresas e pequenas empresas. Temos a convicção de que a melhoria da gestão proporciona uma série de impactos positivos. A empresa ganha mais competitividade e amplia o potencial de faturamento e os empresários passam a ter mais qualidade de vida. A elevação no patamar de renda de um grupo aumenta a capacidade de consumo, movimenta a economia local e beneficia o contexto socioeconômico nacional.

A redução das disparidades sociais no país está relacionada a avanços na educação, o que inclui valorização da capacitação empreendedora. A diminuição da desigualdade racial entre os donos de negócio no Brasil é uma evolução bem-vinda, mas todos sabemos que ainda há muito a ser feito para tornar nossa sociedade mais justa. Essa construção deve incluir o fortalecimento do empreendedorismo no país, alternativa de acesso cada vez mais democrático e atraente para todos os brasileiros.


Luiz Barretto, presidente do Sebrae Nacional

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