Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.
“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura,
os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história.” – Bill Gates
Receber e enviar e-mails, checar o Facebook, tuitar inúmeras vezes ao dia, postar fotos no Instagr.am, ver os vídeos da banda favorita no YouTube, jogar online e ter seu próprio avatar no videogame. Estas são algumas das atividades que crianças e adolescentes fazem “de uma vez só” quando estão on-line.
Enquanto isso, muitos pais nem sabem o que estas palavras significam. Os novos vocábulos já deixaram de ser neologismos e são comuns em uma sociedade cada vez mais familiarizada com a internet e que experimenta um grau de conexão nunca antes visto.
É certo que tudo ocorreu de maneira muito rápida. A internet se popularizou em meados dos anos 90 – logo ali na escala evolutiva do homem. De lá pra cá, a tecnologia web se massificou de forma impressionante. Só no Brasil, somos 78 milhões de internautas, segundo o Ibope/Nielsen, em setembro/2011.
Agora, estudamos, conversamos, trabalhamos e até descansamos em frente ao computador, se e somente se, ele estiver conectado à internet. Este hábito contemporâneo, único na história da humanidade, tem chamado a atenção de pesquisadores e estudiosos.
O americano Nicholas Carr é um dos interessados pelo tema e, de maneira aprofundada, abordou o assunto no livro “The shallows – What the internet is doing to our brain” – Os superficiais – o que a internet está fazendo com nossos cérebros. Para ele, a exposição constante às mídias digitais está mudando para pior a forma como pensamos. “Estamos menos inteligentes, mais superficiais e imensamente distraídos”, opina.
Algumas pesquisas vão ao encontro à tese de Carr. Uma consultoria chamada Genera entrevistou seis mil pessoas da geração que cresceu usando a internet e concluiu: “eles não lêem uma página necessariamente da esquerda para a direita e de cima pra baixo. Pulam de uma palavra para outra, atrás da informação pertinente”.
Na Universidade de Stanford, o professor de comunicação Clifford Nass sugere que pessoas acostumadas ao funcionamento multitarefa do computador – que permite fazer várias coisas ao mesmo tempo – tendem a imitar a máquina, tocando várias atividades ao mesmo tempo. De acordo com os estudos, as conseqüências são pessoas improdutivas, que não se concentram em uma única atividade e profissionais irritados, que se distraem facilmente.
Segundo estudo do professor Nass, quanto mais a pessoa se julga eficiente fazendo várias coisas ao mesmo tempo, pior ela faz. O motivo é: nossa capacidade de atenção é limitada. Quanto mais fracionada, menos funciona.
Déficit de atenção e memorização. A pessoa simplesmente não armazena tanta informação, pois sabe que no momento que precisar o “Doutor” Google estará à sua disposição. Estas são as impressões dos apocalípticos do século XXI.
A internet é uma fonte infinita de informações, que não está sendo filtrada pelos seus usuários. Este é o ponto questionável. A multilateralidade da web pode impactar a capacidade do cérebro de memorizar e processar conhecimentos. Os críticos da tecnologia afirmam que a ideia passa pelo conceito de neuroplasticidade – capacidade dos neurônios de criar novas conexões ou de reforçar as já existentes, ou seja, o cérebro cria novas conexões em função do aprendizado.
Assim, podemos ativar e desativar redes neurais. A tecnologia pode fazer com que nosso cérebro mude o tempo todo, mas isto não é ruim – cabe a nós o estimularmos positivamente, por isto é preciso dosar o discurso de que a internet faz mal ao cérebro, repetindo alegações semelhantes ao passado.
Quando a sociedade experimentou o surgimento da escrita, o pensador grego Sócrates temia que o registro dos pensamentos por meio de símbolos levaria a um enfraquecimento da mente e do raciocínio. As reações foram parecidas quanto ao surgimento da imprensa de Gutemberg – as pessoas temiam a banalização da cultura.
Todas as tecnologias supracitadas socializaram a informação e permitiram a democratização do conhecimento. Em relação ao Quociente de Inteligência (QI), a humanidade saltou imensuravelmente – ninguém emburreceu ao longo dos anos.
Entretanto, todo o cuidado se faz jus na perpetuação do Quociente Emocional do ser humano. O equilíbrio mental e a manutenção do índice de felicidade devem ser preservados como uma das principais maneiras de manter as pessoas na condição de seres mais inteligentes da face da Terra.
É preciso dosar o acesso a internet com os momentos em família, as conversas na mesa de jantar, as brincadeiras de domingo, os jogos de tabuleiro e o café no fim da tarde. Seja em grandes cidades ou nos pequenos municípios é preciso manter-se atento ao princípio da integração entre as pessoas.
A internet deve ser mais uma ferramenta para a colaboração, renovando assim a forma como aprendemos. Os jovens são a geração mais bem instruída da história e a tecnologia lhes permite saber o que está acontecendo, distribuir informação e organizar respostas coletivas.
Somado a valores humanos e instruções sobre a responsabilidade de cada um no universo, crianças e jovens instaurarão um novo jeito de se habitar e modificar o planeta, com redes produtivas, interdependentes e benéficas uns aos outros.
Reilly Rangel é superintendente da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Goiás