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Cássia Fernandes
Cássia Fernandes

Cássia Fernandes é jornalista e escritora / lcassiaf@gmail.com

Alinhavos

Sonhador disparado

O equivalente feminino ao raio-x masculino | 22.05.14 - 15:10
 
Goiânia - Vou revelar aqui um segredo guardado pelas mulheres por séculos. Digamos que não seja exatamente um segredo. Mulheres não são muito boas em guardá-los na dispensa, principalmente por muito tempo.

É que têm sempre uma melhor amiga, que por sua vez também possui uma amiga melhor e, como dizia Mário Quintana: 
 
"Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também..."
 
Portanto, já que esse segredo já não é tão secreto pra ninguém, vou aqui, apenas a título de curiosidade, comentar um detalhe sobre a anatomia ou a natureza feminina que às vezes passa despercebido. Não obstante os muito tratados científicos e filosóficos escritos sobre o tema, há quem ainda diga que esses seres são totalmente ilógicos e incompreensíveis.
 
Todas as mulheres - preciso ser enfaticamente generalizante - todas nascem dotadas, além daquelas partes protuberantes e macias que tanto fascinam os homens, de um botãozinho chamado sonhador que começa a funcionar tão logo se entendem por meninas. (Por favor, sem piadinhas maliciosas). 

O tal do sonhador é disparado cada vez que uma mulher conhece um homem que acha atraente ou às vezes até nem tanto, pois ocorre que o botãozinho de algumas é meio assanhado e pouco seletivo (mas do funcionamento da engrenagem falarei mais adiante).

Para bem compreenderem em que ele consiste, direi que é o equivalente da visão raio-x de que os homens são equipados. Explicando melhor: sabe aquela capacidade inata que eles têm de, toda vez que encontram uma mulher que consideram atraente, ver através das roupas e imaginar como ela é pelada? Pois é.

O sonhador feminino é mais ou menos isso: uma vez acionado, em vez de imaginar a coisa por detrás do espaço, a mulher imagina a coisa para além do tempo. Não pinta mentalmente músculos contraídos ou distendidos, comprimentos, espessuras, mas a imaginação é que se estica por distâncias e alturas.

A moça mal conhece o sujeito, informando-se sobre seu estado civil, profissão, rendimentos, põe-se a vê-lo em futuro próximo ou distante, na condição de namorado, marido, pai de seus filhos, avô de seus netos. Imagina os programas e viagens que juntos farão; como, quando e onde se casarão; o vestido que ela usará; o lugar em que irão coabitar.

Ora, alguns de vocês já estarão dizendo, indignados: nem todas as mulheres querem se casar nem desejam esposar qualquer um! Claro que não. Uma mulher não se casa com todos com que namora, nem namora todos que a atraem, assim como um homem não despe todas aquelas cuja nudez antevê. Isso não tem absolutamente nada a ver com querer ou mesmo com fazer. Isso tem a ver apenas com imaginar. É uma espécie de impulso primitivo. O botão é acionado independentemente da vontade ou mesmo consciência.

Há divergências sobre a localização exata de tal dispositivo. Uns dizem que ele se encontra alojado próximo à glândula pineal, nas vizinhanças do centro do cérebro; outros dão como certo que ele está por trás do ventrículo esquerdo do coração. E finalmente há alguns que juram que ele fica no flanco direito, escondido sob a última costela, naquele local que é frequentemente pressionado pelas enormes bolsas a tiracolo quando a mulher posta-se ereta e em posição de compra.

Deixando de lado as controvérsias sobre a residência do botãozinho, que nada acrescentam, o que importa mesmo é notar que ele dispara muito mais frequentemente entre mulheres mais jovens. Não se pode precisar também a periodicidade com que entra em ação, mas pode acontecer de se ativar várias vezes num mesmo dia, a cada semana, mês e mais raramente no longo intervalo de um ano ou vários.

Há que se notar, entre mulheres até a faixa dos 30 anos (idade imprecisamente estimada, variando para mais ou para menos), o fato de que o sonhador permanece apertado por curto intervalo de tempo. Às vezes basta uma palavra inapropriada que o sujeito diz, um encontro em que ele aparece vestido com uma regata ou com uma camisa de time de futebol, para que o dispositivo automaticamente se desligue. Felizmente, pois se se permanecer ligado por um longo prazo, o risco é grande de que se acione uma outra engrenagem, que é o tal do apaixonador e aí está feito o grande estrago.

Naturalmente, há mulheres que, sabe-se lá com que estímulos físicos, psicológicos ou químicos, dão um jeito de manter o tal botão constantemente pressionado, porque, convenhamos, a vida parece mais divertida assim. Essas, porém, vivem perigosamente porque seus sonhos se estendem desbragados: elas veem os tais sujeitos atraentes ou não tão atraentes travestidos de namorados; assistem as discussões que com eles teriam; supõem os argumentos com que os rebateriam; casam-se; imaginam-se traídas; elaboram diversas teses sobre as reações que adotariam diante disso; separam-se, não sem antes listar uma a uma as condições do divórcio e questões sobre a guarda dos filhos.

Não é raro que as que assim se arriscam, se ingressam em um relacionamento e os sonhos se transmudam em realidade, de repente num acesso de pânico, desliguem o botão abruptamente e saiam correndo.  Constituem dessa forma aquela categoria de pessoas que terminam uma relação por medo de que ela acabe.

Ocorre também com as mulheres que ultrapassaram os 30 (novamente faixa etária bastante relativa) que não só as juntas fiquem duras, mas que o próprio sonhador se torne enrijecido, com um que de emperrado. Aciona-se cada vez mais raramente, com uma prudência calculada e multiplicada não só pelas desilusões que tiveram, pelas rasteiras que levaram, mas pela aguçada capacidade de observação do mundo. Digamos que se acopla ao tal botão originário um maduro detector de roubada. 

Que não se caia, todavia, no engano de pensar que o botãozinho foi aposentado: o sonhador feminino continua funcionando, mesmo que elas já tenham usado o desejado vestido, mesmo que todos os óvulos já tenham descido dos ovários, mesmo que hajam atravessado por várias vezes seguidas as naves das igrejas, que já possuam meia dúzia de filhos, que já sejam octogenárias.

Apenas as imaginações desencadeadas tornam-se mais sutis, mais delicadas. Elas já não imaginam talvez o véu e a grinalda, a bela casa compartilhada, a prole, mas apenas um pôr-do-sol na varanda, um mesmo livro folheado, uma caneca de café em uma manhã de domingo, uma porção de fatos corriqueiros e miúdos a que já nem dão o nome de sonhos, mas de realidade, a mais doce, a mais modesta e talvez a mais rara realidade.
 

Comentários

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  • 09.06.2014 20:12 Nuno Cavaco

    Interessante o recado a um alguém, que seja, transformar-se em uma visão unívoca possível; é que moraliza e estimula o mundo a expressão artística estudada, intuída e vivida...

  • 07.06.2014 10:50 Cássia Fernandes

    Tem razão, Marcelo. O sonhador disparador é um total disparate, mas faz parte de nossa diferente humanidade em matéria de gênero. :) Letícia, você é livre na sua leitura e interpretação. O que há para além do texto não é texto, é imaginação ou suspeita. Mas onde foi mesmo que eu falei em orgasmo? Será por causa do botãozinho, confundido com a protuberância secreta e mágica de que todas as mulheres são dotadas? Não deixa de ser uma conclusão engraçada.

  • 02.06.2014 22:47 Letícia

    Eu acho que vc escreve para dar recados para um certo alguém, uma só pessoa. Esta é impressão, pq este material é completamente sem lógica. Um orgasmo não é nenhum bicho de sete cabeças, aliás, é preciso apenas uma cabeça.

  • 27.05.2014 17:59 Marcelo

    Sonhador disparado? Disparatado é que é!

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