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Leticia Borges
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Leticia Borges é especialista em Língua Portuguesa, jornalista, professora e palestrante. / leticia.textos@gmail.com

Língua e letra

A lição dos alunos do EJA

Histórias de quem voltou para a escola | 01.09.14 - 20:50
Goiânia - Na semana passada tive um contato diferente com uma modalidade de ensino, o EJA (educação de jovens e adultos). Pretendo aprofundar uma pesquisa sobre a metodologia, o sistema e os avanços que estão sendo conquistados, mas por enquanto, gostaria de relatar uma experiência emocional.

Conversei com um grupo de homens, todos na faixa etária de 30 a 40 anos, que voltaram à escola e estão tentando recuperar o tempo perdido. A maioria ainda busca concluir o ensino fundamental e alguns poucos já estão no ensino médio.

Em um primeiro contato eles se sentiram constrangidos em dizer que estão na escola. Depois de ouvirem minha opinião sobre o estudo, o aprendizado, a necessidade de estar sempre buscando uma compreensão melhor do mundo dentro e fora da escola, a vergonha se transformou em orgulho e eles conseguiram, com brilho nos olhos, desabafar sobre a dificuldade que encontram no campo profissional e as expectativas que alimentam no banco da escola.

Conversamos muito sobre leitura, curiosidade, cidadania. Eu disse a eles que o conhecimento é um tesouro, que estudar não é obrigação, é direito. Eles passaram a perceber que quando entendem melhor sobre leis, quando conseguem fazer cálculos e até quando interpretam as figuras de linguagem, o mundo fica mais claro e a vida se torna mais fácil. Provei isso ao exibir um filme de comédia.

Depois discutimos sobre as piadas mais sutis, que dependiam de conhecimento para interpretar o jogo de palavras.

Um desses rapazes disse que chegava em casa tão empolgado com o que tinha feito na escola que a esposa decidiu se matricular também. Por consequência, o filho de nove anos passou a se dedicar mais aos livros. Fiquei imaginando, em um futuro próximo, a família reunida em torno de uma história, de um documentário, de um boletim “todo azul”.

Outro, ao perceber que precisaria ler em voz alta, já disse que não conseguia “ler perto dos outros”. Mas eu disse que ele não conseguia ainda, e que em breve descobriria como isso é bom.

De história em história fui me dando conta que o que é trivial e chato para alguns  - a leitura – para outros é uma meta que, se faltar estímulo, fica parecendo inalcançável. A baixa escolaridade pode gerar complexos, estar na escola em uma idade inadequada pode ser desconfortável, mas a persistência e a crença na própria capacidade têm que ser maiores.

Aprendi demais com essa turma. E acho que eles também ficaram mais animados e confiantes depois dessa conversa. Acho que todos podemos dar essa forcinha para quem está próximo de nós e acha que já está tarde para começar de novo.

Quando um pai volta para a escola porque tem o sonho de sentar com os filhos para fazer os deveres de casa, é sinal de que tem muita coisa tomando o rumo certo.

Comentários

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  • 02.09.2014 13:06 Leeh

    Também já tive oportunidade de dar monitoria para alunos do eja, no caso eram a maioria mulheres que voltaram a estudar, pois a época em que viviam o lugar da mulher era em casa lavando e passando. Bastante gratificante e te faz pensar como o papel e autonomia da mulher modificou com o tempo. Nenhuma delas falava como era bonito ficar em casa se dedicando para o lar e bordando, o que mencionavam era a humilhação que sofriam do marido e do próprio pai. De como os irmãos homens eram tratados diferentes e se lamentavam de não terem tido oportunidade de estudar naquela época

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