Entre os mais influentes da web em Goiás pelo 12º ano seguido. Confira nossos prêmios.

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351

Sobre o Colunista

Leticia Borges
Leticia Borges

Leticia Borges é especialista em Língua Portuguesa, jornalista, professora e palestrante. / leticia.textos@gmail.com

Língua e letra

O "se" pode ser muita coisa

Partícula tem várias funções na oração | 02.10.14 - 11:10 O "se" pode ser muita coisa http://janetebridon.blogspot.com.br
Goiânia - A partícula SE tem várias funções sintáticas e morfológicas, mas isso passa despercebido porque a usamos muito naturalmente. Quando construímos uma oração raramente nos preocupamos se estamos usando o SE como substantivo, conjunção, pronome ou índice de indeterminação do sujeito. Muitas vezes dá certo, mas na hora da dúvida a única forma de escrever corretamente é conhecendo suas classificações.

A maior confusão está nos casos em que o SE é pronome apassivador ou índice de indeterminação do sujeito. Isso porque embora as orações tenham estrutura parecida, o que vai definir a classificação é a transitividade do verbo.

Por que eu digo “alugam-se casas” e “precisa-se de funcionários”, se ambos os complementos são substantivos no plural?

1. Alugar é um verbo transitivo direto e indireto, que admite voz passiva. Na oração “alugam-se casas” foi o que ocorreu: voz passiva sintética. Confirma-se isso passando para a voz passiva analítica: casas são alugadas. Nesse caso o verbo flexiona e o SE é pronome apassivador.

2.  Precisar é um verbo transitivo indireto, ou seja, exige complemento preposicionado. Quem precisa precisa DE algo ou alguém, portanto não admite voz passiva e não flexiona. Para confirmar isso, basta tentar passar a oração “precisa-se de funcionários” para a voz passiva analítica: funcionários são precisados? Não. Nesse caso o SE é índice de indeterminação do sujeito.
 
Além de pronome apassivador, o SE também pode ser:

Pronome reflexivo:
Ela olhou-se no espelho.
Ele machucou-se ao pular na piscina.
 
Pronome reflexivo recíproco:
As pessoas parecem respeitar-se nesse local.
Eles se amam.
 
Parte integrante de verbos pronominais (que indicam atitudes e sentimentos do sujeito, mas não são reflexivos):
A menina sentou-se no chão para brincar.
A professora queixa-se da desordem mas os meninos continuam indisciplinados.
 
Partícula expletiva ou de realce (não tem função essencial e pode ser retirada da oração sem prejuízo ao sentido do texto):
Foi-se o tempo em que podíamos andar tranquilos na rua.

Sujeito acusativo (sujeito de orações reduzidas de infinitivo quando há verbos causativos - fazer, mandar, deixar etc - e sensitivos - ouvir, sentir etc.)
Ele deixou-se levar pelas emoções. (O SE é objeto direto do verbo deixar e sujeito do verbo levar).
Se fosse só isso, estaria tudo ótimo. Mas há mais coisas importantes.

A partícula também pode ser conjunção de três tipos, e essa informação é essencial para a classificação das orações subordinadas.

Quando o SE é uma conjunção integrante, ela introduz as orações subordinadas substantivas (que podem ser subjetivas, objetivas diretas e diretas, completivas nominais, predicativas e apositivas).

Gostaria de saber se você já esteve em Paris. (Oração subordinada substantiva objetiva direta).

Quando o SE é uma conjunção subordinativa condicional, pode ser substituída por CASO NÃO, e dá ideia de condição nas orações subordinadas adverbiais.
Se não chover, iremos à festa.
Você só vai passar no concurso se estudar.
 
Quando o SE é uma conjunção subordinativa causal, pode ser substituídas por JÁ QUE, UMA VEZ QUE, nas orações subordinadas adverbiais.
Se você não queria o emprego, não deveria ter se candidatado.
 
E, finalizando, duas observações. Como qualquer palavra da língua portuguesa, o SE também se transforma em substantivo quando definido por um artigo, como no título desta coluna.

E em nenhum caso pode ser substituído pelo SI, que é apenas um pronome oblíquo tônico. Então orações como “ela si maquiou”, “vende-si roupas”, "a gente si ama" e similares são equívocos causados pela oralidade e que devem ser evitados na linguagem formal.

Comentários

Clique aqui para comentar
Nome: E-mail: Mensagem:

Sobre o Colunista

Leticia Borges
Leticia Borges

Leticia Borges é especialista em Língua Portuguesa, jornalista, professora e palestrante. / leticia.textos@gmail.com

Envie sua sugestão de pauta, foto e vídeo
62 9.9850 - 6351
Ver todas