Goiânia - O assunto amplo, geral e irrestrito em Goiás é o calor. Xingar o adversário político nas eleições está ficando menos frequente do que reclamar das altas temperaturas. Cá entre nós, não é para menos. Não está fácil para ninguém dormir encharcando as roupas de cama de suor, vestir o traje de trabalho com o sol lhe queimando a pele como bom dia e encarar a labuta diária sem a salvadora ajuda do ar-condicionado.
Senhoras e senhores, infelizmente não trago boas novas como Cazuza fazia. Eu não vi a cara da morte para saber se ela estava viva, mas vi que nossa reclamação acerca do calor não tem data para acabar. Talvez nossa geração conviva com isso até ficar velhinha, jogando milho sintético para os pombos mutantes em um parque artificial. Eu, pessimista militante por convicção, acho que será assim. Não percebo alteração no comportamento médio das pessoas para minimizar a temperatura da Terra que só sobe.
Pode me chamar de ecochato ou ambienterrosita. Não tenho problemas com essas pejorativas alcunhas. Vai ver que é isso mesmo que sou. Afinal, estou certo de que nossa sanha por cimentar tudo, cortar árvores em prol do progresso e entupir as ruas de carro é fator central para que aquela incômoda gota de suor que constantemente escorre pelas suas costas e pega o caminho central de suas nádegas seja cada vez mais frequente. Viva com isso.
Sei que temos uma tendência adquirida na evolução a ser otimistas nas questões que estão sob nossa governança e descrentes nas que não dependem diretamente de nós. Pode até ser isso. Mas não vejo a poluída China preocupada com o derretimento das geleiras dos extremos do planeta. Não vejo o sedento agronegócio do Brasil centro-sul preocupado com as ilhas de calor. Não vejo o trabalhador médio norte-americano economizando em seus padrões de consumo para demandar menos recursos naturais.
Para nós em Goiás, as mudanças estão na cara e só não vê quem não quer. Entre agosto e outubro, tradicionalmente vivemos o período final da estação seca, com baixíssima umidade no ar e calor nas alturas. Nosso couro é grosso para suportar isso. Estamos acostumados a encarar esse período desde que nascemos por aqui. Mas esse ano está pior. Não é sem razão.
Há poucos dias, o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa divulgou que setembro de 2014 foi o mês mais quente desde 1880, quando as medições tiveram início. O ano de 2014 está caminhando a passos largos para ser o mais quente da história. Você pode pensar diferente, mas para mim esse dado não é algo aleatório e que aconteceu só pelas mudanças naturais do planeta. Nosso dedo humano é responsável pela criação dessa estufa chamada Terra.
Assim caminhamos de forma acelerada rumo ao precipício. Mas de carro com combustível fóssil, ar-condicionado no talo e mandando vídeo de pornografia para o grupinho de amigos do WhatsApp no mais novo modelo de smartphone da maçãzinha mordida. A gente se mata, mas com estilo e consumo.