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Bolsas do governo e o nosso preconceito

Mudança é gradativa, porém eficiente | 16.12.14 - 16:43 Bolsas do governo e o nosso preconceito .
 
Goiânia - O Brasil tem aproximadamente 700 mil presos em penitenciárias e delegacias, segundo dados divulgados este ano pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Esse índice só cresce. Dez anos atrás, eram menos de 120 mil e já não há presídios suficientes para a população carcerária brasileira. O custo só para manter os detentos passa de mil reais mensais por preso.
 
O mesmo Brasil tem quase 13,7 milhões de famílias atendidas pelo Bolsa Família, segundo dados de 2014 da Caixa Econômica Federal. O programa começou em 2003 e, em uma década, quadruplicou. O custo dele é, em média, de 121,6 reais mensais por família atendida (os valores por lar são diferentes, definidos conforme a condição de cada um).
 
A população alvo do programa é constituída por famílias em situação de pobreza ou extrema pobreza. As famílias extremamente pobres são aquelas que têm renda per capita de até R$ 77,00 por mês. As famílias pobres são aquelas que têm a renda per capita entre R$ 77,01 a R$ 154,00 por mês, e que tenham em sua composição gestantes, nutrizes, crianças ou adolescentes entre 0 e 17 anos.
 
“As mulheres vão ter mais filhos para receber mais dinheiro do governo”. “As pessoas vão deixar de trabalhar para viver de benefício social”. “É claro que as famílias vão gastar mal o dinheiro”. Quando o Bolsa Família nasceu, crenças como essas eram comuns entre aqueles que não acreditavam no programa.

Quase 11 anos após sua criação, a iniciativa apresenta bons resultados e é aclamada pela comunidade internacional como um dos mais bem-sucedidos programas sociais do mundo.
 
Nos presídios, a grande maioria dos detentos não faz absolutamente nada além de aprender novos requintes de violência e crueldade em celas insalubres. Para receber o Bolsa Família, é preciso que as crianças estejam matriculadas em escolas e com a carteirinha de vacinação em dia.
 
Os presídios não recuperam criminosos e prova disso é a reincidência de crimes no Brasil, que chega a 70%. Ou seja, 7 de cada 10 bandidos presos voltam a assaltar, roubar, matar etc. Em relação ao Bolsa Família, 5,8 milhões dos beneficiários já deixaram de receber o dinheiro do Estado, sendo 40% deles por terem conseguido ganhar uma renda maior que o benefício. Ou seja, 2,3 milhões de brasileiros "aprenderam a pescar" graças ao Bolsa Família.
 
Esses números servem de base para refletirmos acerca da visão limitada e reacionária segundo a qual transferências de renda por meio de programas assistenciais gera "vagabundos" encostados no Estado. Em vez disso, devemos lembrar que a desigualdade gritante do capitalismo selvagem gera marginalização e marginalização gera exclusão, violência, causando prejuízos muito maiores que os financeiros a toda a sociedade (inclusive aos mais abastados, que passam a ser alvo maior da violência).
 
Pode-se dizer -e com razão- que é preciso ir além do Bolsa Família. Sim, mas ele é um começo para um país que sempre foi governado da elite só para a elite. Prova disso é que, nos anos 90, a mesma quantia que hoje se gasta com o Bolsa Família era torrada nas altas taxas Selic, e caía nas mãos de especuladores que não fazem nada além de pôr e tirar dinheiro da ciranda financeira.
 
O Brasil está numa situação privilegiada, outros países passaram por crises muito mais graves, golpes, derramamento de sangue e até terrorismo quando passaram por esse processo de redução de desigualdade social e redistribuição de renda.
 
Aqui a mudança está sendo gradativa, porém eficiente, dentro da lei e das regras do regime democrático. É difícil para uma classe que dominou 500 anos aceitar que classes inferiores economicamente, até então subservientes venham ganhando direitos e ascendendo lentamente ao mercado de consumo e à representação política.
 
Temos uma resistência é óbvio. Mas o Brasil está vencendo aos poucos essa cegueira egoísta da elite, que na verdade perde muito pouco dos seus privilégios e mesmo assim se apavora com a possibilidade de dividir uma pequena fatia da riqueza e das oportunidades com todos.
 
O Brasil agradece o fato de termos como filósofos de oposição figuras inexpressivas como ex roqueiros, humoristas, socialites e apresentadores de TV que se restringem a jogar milho aos pombos, pombos cada vez menos exigentes que digerem qualquer coisa e papagaiam nas redes informações sem lastro e fundadas no preconceito.
 
O Brasil perde com uma oposição política fraca, desorganizada, confusa e que tem um telhado de vidro imenso e frágil e não tem força nem carisma para cooptar seguidores através de idéias e ideologias, apenas através do medo e do ódio.
 
Como disse meu amigo Pedro Ivo no calor da noite do dia 26 de outubro, "sobre o ódio nada se constrói".
 
Enfim, sintamo-nos privilegiados por fazer parte desse momento histórico, uma revolução lenta, mas capilarizada na sociedade, em sintonia com diversas classes sociais, estudantes, intelectuais, trabalhadores, artistas e movimentos sociais verdadeiros.
 
A hora é de defender a democracia, a justiça e a transparência, doa a quem doer.

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