Goiânia - Responda sinceramente: atualmente você lê tanto quanto lia há alguns meses ou anos?
Se o critério for apenas o número de palavras, é bem provável que todos nós estejamos lendo cada vez mais. Mudemos, então, a pergunta: o que você anda lendo?
A miríade de fontes de informação disponível na internet, somada às mais diferentes redes sociais existentes, praticamente nos obriga a exercitar a leitura a todo o tempo. A cada hora, cai na rede o equivalente a 28 milhões de DVDs e a conta sobe exponencialmente à medida que novas tecnologias tornem o acesso mais rápido e mais gente fique conectada. A título de comparação, quando Gutemberg criou a tipografia, em 1455, a impressão de 200 cópias da Bíblia (o primeiro livro impresso no modelo que conhecemos hoje) consumiu um ano e meio. Um verdadeiro milagre para a época.
É inegável que estamos mais informados, o que não significa, necessariamente, que temos mais conhecimento.
Pensava nisso tudo há alguns dias e fiquei ainda mais instigado após um post publicado no Facebook pela jornalista e escritora Cássia Fernandes, autora de colunas deliciosas aqui mesmo no jornal A Redação.
No texto postado, o autor toca em uma questão crucial: o excesso de informações tem nos roubado a capacidade de imersão em textos que exigem dedicação.
A leitura rápida, fragmentada e telegráfica da internet cria um leitor também ávido, apressado, sequioso. Habituado aos 140 caracteres, ao meme e às imagens, o ciberleitor enfrenta dificuldade para concentrar-se por horas em textos mais densos da literatura.
O medo de ficar por fora (do inglês Fear of missing out), fenômeno da sociedade hiperconectada, é incompatível com a inventividade linguística de um Guimarães Rosa, com a intensidade psicológica de um Dostoiévski, ou com a sensibilidade quase bucólica de um Manoel de Barros.
Se, por um lado, a internet nos abre as portas do mundo, por outro nos impede o acesso aos porões da alma.
Precisamos, urgentemente, encontrar o equilíbrio.