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Rodrigo  Hirose
Rodrigo Hirose

Jornalista com especialização em Comunicação e Multimídia / rodrigohirose@gmail.com

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Onde está a tristeza?

| 06.06.16 - 12:10
 
Goiânia - Aquela amiga com os pés na areia, a foto estrategicamente cortada no meio das coxas revelando o bronzeado, o mar azul ao fundo.
 
A comida com apresentação impecável, daquelas que literalmente se come com os olhos, uma taça de vinho tinto displicentemente ao lado.
 
Os olhos incontidos pelos óculos escuros, o sorriso largo em primeiro plano e, ao fundo, a Torre Eiffel em menor proporção.
A barriga sarada, os músculos definidos, o bumbum saliente, os aparelhos de musculação.
 
Imagens assim inundam a timeline todos os dias. A Pasárgada, onde somos amigos do rei e temos a mulher (ou homem) que desejamos na cama que escolhemos, está bem ali, a uma atualização. Bem mais acessível que o paraíso sonhado pelo poeta.
Aí, fica uma dúvida: onde está a tristeza, essa que nunca tem fim, que é senhora desde o que o samba é samba?
 
De repente, o Éden, do qual fomos expulsos por um Senhor implacável com nossos erros, está de volta às nossas mãos, graças a um aparelhinho de poucos centímetros e muitos bits e bytes e dólares. E a felicidade parece que nunca vai embora.
 
É claro que, vez ou outra, a angústia de algum amigo virtual impertinente nos bate à cara. Mas basta uma mensagem (“Deus conforte a família”, “Força, amigo, se precisar estou aqui”) e estamos prontos para navegar pelas doses infinitas de Prozac digital.
 
A questão é que a injeção ininterrupta de alegria alheia tem efeitos colaterais, pois, por mais que tentemos acompanhá-la, publicando nossas próprias fatias de satisfação, fica aquele sentimento de que a grama do vizinho sempre será mais verdinha.
Os estudos (sempre há os estudos) comprovam. A Universidade de Berlim diz que as redes sociais, especialmente o Instagram, podem levar os usuários à depressão.

As fotos causam comparação social imediata e sempre fica a impressão de que nossa vida real é bem aquém do que poderia ser. Outro levantamento, este da Universidade de Pittsburgh, EUA, diz que o uso intenso das redes sociais está vinculado à depressão (mas não esclarece se o uso leva à doença ou vice-versa).
 
Há alguns anos, decidi excluir um blog após conversa com uma amiga. Disse ela: “Não gosto do seu blog. A vida é tão boa e você escreve sobre coisas ruins”.
 
Então, o melhor (será?) é manter o sorriso puro e franco para as redes e não incomodar os milhares de amigos lá de fora e reservar este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, e estes olhos tão vazios e o lábio amargo, para aquelas cada vez mais raras companhias de carne e osso. 

Comentários

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  • 07.06.2016 21:25 Lilika

    Gosto do sorriso tímido e sincero que vem de você e também de seus textos.

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