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Declieux Crispim
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Declieux Crispim é jornalista, cinéfilo inveterado, apreciador de música de qualidade e tudo o que se relaciona à arte. / declieuxcrispim@hotmail.com

Cine Qua Non

O milagre do cinema de Clint Eastwood

| 19.12.16 - 09:23
Goiânia - Clint Eastwood é um dos grandes diretores da história do cinema. Fato incontestável. Todavia antes de se tornar um diretor consagrado, seu início no cinema se deu como ator. Ganhou destaque e projeção mundial na estupenda trilogia dos dólares, realizada, na década de 60, pelo lendário diretor italiano Sergio Leone.
 
Herdeiro do classicismo de grandes mestres do cinema de Hollywood como John Ford e Don Siegel, Clint foi moldando seu estilo inconfundível até obter o reconhecimento por sua vasta filmografia como diretor devido a uma solidez admirável de sua obra raramente alcançada por outro cineasta. 
 
Sua carreira como diretor teve início com Perversa Paixão, realizado em 1971, mas seu primeiro grande filme foi realizado dois anos depois com o ótimo O Estranho Sem Nome, cuja atmosfera de suspense predomina até o final em aberto, revolucionários para época. Seria um esboço para Os Imperdoáveis, uma de suas obras-primas definitivas, e que marcaria o ocaso do gênero faroeste, apesar de que há algumas centelhas de uma possível volta no cenário atual ainda que timidamente. Josey Wales, realizado em 1976, é sua primeira obra-prima e meu filme preferido atualmente.
 
Seu cinema é esplendoroso e, no século atual, possivelmente não há outro diretor que se iguale em quantidade e qualidade. Manoel de Oliveira, diretor português falecido aos 106 anos em abril do ano passado, rivalizava diretamente com Eastwood. Na década atual, a sua preocupação está em retratar episódios da história dos Estados Unidos da América - J. Edgar, Jersey Boys, Sniper Americano e o recém-lançado nos cinemas Sully - O Herói do Rio Hudson -, exceto em Além da Vida, realizado em 2010 e um de seus melhores trabalhos.
 
 Clint Eastwood, por ser declaradamente republicano, é tomado por certa aversão e preconceito por muitas pessoas que criticam seus filmes sem mesmo assistir a eles, o que ficou mais evidenciado em Sniper Americano, seu penúltimo filme. Nele há um profundo estudo acerca das origens da violência e um personagem que remete a John Wayne em Rastros de Ódio - a obra-prima de John Ford - em uma brilhante construção. É anti-guerra, com um tom nitidamente melancólico e nada triunfalista como seria em um filme de um patriotismo exacerbado. Retratar de forma fidedigna um personagem não o transforma em um filme pró-guerra. 
 
Filmes como Gran Torino e Cartas de Iwo Jima revelam que Clint possui um sentimento de culpa ante a violência cometida pelos EUA ao longo dos anos. Mesmo que o filme fosse favorável à guerra, o que não é o caso, trata-se de cinema e de como estas imagens são traduzidas para a tela, independentemente de aspectos ideológicos, não há como negar o triunfo de seu cinema, um genuíno herdeiro de John Ford. A obra de arte transcende a vida pessoal e ganha vida própria.
 
Sully - O Herói do Rio Hudson - é seu trigésimo quinto filme e me restam somente O Destemido Senhor da Guerra e Escalado Para Morrer para fechar sua filmografia. Sua estreia no cinema se dá em um momento de comoção mundial em torno da tragédia recente envolvendo o time da Chapecoense, dirigentes, jornalistas e tripulantes que infelizmente tiveram suas vidas ceifadas por um acidente aéreo. O humanismo onipresente em seus filmes irrompe cada vez mais com uma sensibilidade rara e beleza penetrantes aliada ao seu habitual classicismo que me parece cada vez mais démodé no cinema atual, infelizmente.
 
Quando o menos é mais, tal qual Budd Boetticher - brilhante e esquecido diretor -, de uma economia, precisão e concisão assombrosas, bem como uma depuração técnica irrepreensível e uma direção extremamente inteligente, Clint narra a história de Chesley “Sully” Sullenberger (Tom Hanks), piloto da US Airways, que numa manhã de janeiro de 2009 realizou um pouso de emergência com ambos os motores avariados, por meio de uma destreza portentosa, sobre o rio Hudson, salvando todos os 155 passageiros e tripulantes que estavam a bordo. Um dos melhores filmes do ano sem dúvidas.
 

Comentários

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  • 10.01.2017 13:58 FLAVIA BOSSO

    Parabéns! Excelente texto! ''A obra de arte transcende a vida pessoal e ganha vida própria.'' adorei! Clint Eastwood é sem dúvida um dos melhores do mundo, a sua obra é maravilhosa.

  • 21.12.2016 02:06 Jaqueline

    Excelente texto sobre o Clint!!! Sucesso super merecido!!! Parabéns!!! Vou compartilhar!!!

  • 20.12.2016 19:07 Mariana

    Eu já admirava Clint como ator, e depois de assistir seu filmes passei a admirar mais. Ótimo texto!

  • 20.12.2016 15:06 Jackelline de Castro

    Belíssimo texto. Clint Eastwood é meu diretor favorito e com sua crítica dá ainda mais vontade de assistir!

  • 20.12.2016 12:09 Fábio Julian de Sousa

    Sem dúvida nenhuma, Clint Eastwood é um ícone do cinema mundial. E duradouro! Belo texto!!!

  • 20.12.2016 11:10 Fernanda Borges Freire

    Dos textos anteriores publicados, este é sem dúvida especial, ainda mais para uma admiradora do trabalho de Clint como ator e infinitamente mais como diretor. Excelente texto Declieux Crispim. Vou compartilhar. Abraço e sucesso.

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