Goiânia - O esplendoroso cinemascope enlevado a uma paleta de cores exuberantes que exala sensualidade e beleza a serviço de uma construção de um grandioso filme do excepcional Richard Fleischer. O Escândalo do Século (1955), uma história baseada em fatos reais, esboça uma odisseia de sensações movida pelo ciúme doentio do jovem e telhudo Harry Kendall Thaw (
Farley Granger) que se apaixona perdidamente pela modelo Evelyn Nesbit (Joan Collins), uma mulher de uma beleza desconcertante de tirar o fôlego. Entretanto, Evelyn sente uma forte atração por Stanford White (
Ray Milland), um arquiteto mais velho e bem-quisto que passeia pelos mais requintados círculos sociais.
Os olhares penetrantes quando Stanford percebe a presença de Evelyn prenuncia a chama ardente de uma paixão desvairada que mexerá profundamente com seus sentimentos e sua dualidade devido ao fato de ele ser um homem casado. Todavia a atração pela beleza da moçoila se torna inevitável e a cruel dúvida entre se aventurar ou reprimir seus sentimentos são arquitetados brilhantemente por um mestre como Richard Fleischer. Os cortes são precisos, e evitam a pieguice.
Evelyn tinha 16 anos quando os olhares se cruzaram e os sentimentos fervilharam desde então. No intuito de seduzi-la, Stanford White a convida para seu apartamento de luxo sob o pretexto de fotografá-la. Há uma cena antológica que nasce deste encontro em que ela utiliza de um balanço para compor uma cena em que a sensualidade irrompe de modo espetacular. Deste encontro, surge um beijo tenro entre os dois e a paixão cresce entre ambos.
No entanto, White se recusa a se divorciar e Evelyn acaba por se casar com Harry Kendall Thaw. Outrora doce e afável, Thaw é suplantado por um enorme ciúme e se torna mais e mais possessivo. Ele demonstra um sentimento cada vez mais doentio ante a relacionamentos anteriores de sua esposa, sobretudo, seu envolvimento com White. Consumido pela cegueira, e não podendo mais conviver com o pensamento de que o arquiteto deflorou a jovem e bela Evelyn, Thaw, em mais um momento marcante do filme e da carreira do diretor, adentra o salão de um teatro e vai ao encontro de White, tudo em um ritmo bem cadenciado e permeado por uma escrita de câmera fabulosa do mestre Richard Fleischer, e dispara três tiros à queima-roupa decretando a morte do arquiteto.
A perdição por amor em seu irrefreável movimento, a beleza que encanta e que move os personagens em busca do preenchimento de suas vidas. Não é a primeira, e não será a última vez que um caso como este ocorrerá. Faz parte da natureza humana apaixonar-se e lutar contra isto não é nada fácil. Ao longo dos séculos, o comportamento humano é dimensionado por suas vontades que são indissociáveis e que representam o âmago e suas eternas contradições. Richard Fleischer transporta para a tela um retrato brilhante da psique humana imerso em um belíssimo e trágico romantismo.