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Entrevista

'Eu acredito na justiça'

Mãe fala sobre a vida após a morte da filha | 23.09.11 - 10:44 'Eu acredito na justiça' Tânia Borges, mãe da publicitária, conta como é a vida de alguém que perdeu a filha de forma brutal (Foto: Fábio Lima)


Catherine Moraes

Nos encontramos pela enésima vez, mas a simpatia é a mesma. Loira, com lápis preto nos olhos verdes cheios d’água, a anapolina, que é dona de uma academia, usava camiseta com o rosto da filha estampado. Precisou se recompor antes de dar a entrevista. Sua luta é contínua.  Tânia Borges, mãe da publicitária Polyanna Arruda, conta como é a vida de alguém que perdeu a filha de forma brutal.


AR – Você se reuniu com a Polícia Civil (na quinta,22). Foi apresentada alguma novidade sobre o caso?
Tânia Borges – Não, nenhuma novidade foi apresentada. Continua a confissão do Marcelo Gaguinho como o fato mais importante da investigação e, de acordo com a polícia, faltam algumas coisas para poder concluir o inquérito e eles apresentarem para o Ministério Público. São questões de telefonemas que foram dados e coisas nesse sentido.

AR – De lá para cá, como é a sua vida? Você é uma pessoa bem ativa, dá aulas, malha, é mãe, esposa...
Sou uma pessoa que não passa em branco nada na vida. Realmente, mergulho em tudo, profundamente. Quero saber, quero chegar às conclusões. Vou te dizer com toda sinceridade: eu faço todas as coisas que uma pessoa comum faz, que uma mãe de família faz, que uma profissional faz. Tenho meu lazer, viajo, mas existe uma marca. Falavam muito de cicatriz, eu achei que cicatriz era pouco. Então, essa semana mesmo eu cheguei a uma conclusão. Eu passei pelo fogo. É como se eu tivesse na metade do meu corpo a marca de uma queimadura. Todas essas coisas eu faço carregando essa marca. Não definiria como uma dor. É uma perda, como se eu tivesse perdido um lado meu, um pedaço. E fica essa marca em tudo o que faço.  Então, por mais que eu sorria, que eu faça um exercício, que eu converse com pessoas, que eu receba os amigos na minha casa, tenho essa marca. Tanto é que quando as pessoas olham pra mim e tenho a sensação de que elas estão vendo essa marca em mim. Pode ser que, no futuro, ela esteja só na minha alma, mas, hoje, parece que ela tá na minha  face.

AR – Você acredita em justiça e na resolução desse caso?
Acredito. E é a minha esperança que me move para frente. Na internet, tenho vários amigos, vários contatos, dois perfis no facebook. Converso com pessoas que não quiseram prosseguir nessa luta pela verdade e por uma solução. Quem não acredita, desiste e fica com sua dor. Amanhã, na manifestação que vai haver no Ministério Público, tem uma mãe de um rapaz que foi assassinado e até hoje não houve solução. Ela vai lá porque quer me dar um abraço. Acho que vai acontecer a mesma coisa que aconteceu comigo. Eu fui a Buenos Aires recentemente e coloquei na minha programação uma ida à Praça de Maio, onde as mães se reúnem até hoje clamando pelo desaparecimento dos seus filhos. Grisalhas, velhinhas, elas estão lá há 40 anos. Eu, com dois anos, não vou desistir.

AR – Você acha que uma solução vai amenizar a dor?
Olha, é difícil falar de uma coisa que a gente ainda não viveu, mas eu acho que vai ser mais fácil. Acho que vai trazer uma coisa que ontem o Valmir Salaro (repórter policial do Fantástico que acompanhou o caso da Mércia) me falou por e-mail: “Faça mesmo. Isso vai trazer descanso”. Pela experiência que ele tem, com tantas famílias de vítimas. Acho que quero aceitar essa proposta de que, no futuro, a gente possa ter descanso. Houve justiça. Amenizar perda, jamais.

AR – Tem alguma coisa de especial, algum lugar que te marca fortemente e que você pensa: É  a cara da Polyanna?
A Polyanna está comigo o dia inteiro. Ela vivia tão intensamente que é impossível fazer alguma coisa sem estar junto com ela. Mas, existem algumas coisas que são muito marcantes. Por exemplo, chocolate. Uma coisa que ela amava comer. Algumas músicas, do Chico Buarque, por exemplo, que ela amava... Folhear uma revista e ver um trabalho publicitário bem feito é a cara da Polyanna. A arte, olhar um céu bonito. Sentir um cheiro gostoso de perfume é a cara da Polyanna. Uma roupa extravagante é a cara da Polyanna. Ela está em tudo, ela está viva e vou procurar, sentindo ela em tudo. É a maneira de mantê-la viva dentro de mim.

AR – Quando te liguei você estava indo para a terapia. Como é que começou?
Não me lembro se foi no primeiro ou segundo mês. Já havia visitado um psquiatra porque a minha noite de sono era muito ruim. Eu acordava de madrugada, chorando, gritando, e ele fez um diagnóstico e falou: Você não tem depressão. E eu então falei à minha filha psicóloga que queria um psicanalista. Eu não quis fazer outro tipo de terapia com psicólogo, eu queria psicanálise. Eu falei logo no começo que não gosto de nada superficial. Gosto de mergulhar fundo em tudo.

AR – Existe algum segredo para não deixar a família morrer, para, apesar disso tudo, ter uma vida normal?
Segredo? Acho que tem, o que já existia. Nada começou depois da morte da Polyanna. O segredo é que nós já éramos uma família unida. Uma família que sabia sentar à mesa e dar risada. Uma família que sabia dividir as dificuldades, assumir as lutas e as dores do outro. Acho que o segredo é esse. 

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Comentários

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  • 20.04.2012 08:42 Francisca

    Estou comovida com esse caso ,ultimamente quando fique sabendo como ocorreu o assassinato detalhe,fico pensado o tempo todo.Já olhe ,as reportagens varias vez e videos do confessamento de Marcelo e fique imprecionada pensado quanto ela sofrer e foi corajosa em enfreta los. Fica torcendor para condenacão desse assassinos, por que todos têm culpa.

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