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Goiânia

Suposto serial killer afirma que "sentimento demoníaco" o obrigava a matar

Tiago passará por exames de sanidade mental | 09.01.15 - 14:11 Suposto serial killer afirma que "sentimento demoníaco" o obrigava a matar (Foto: TJ Goiás)

Lorena Lara

Goiânia - A primeira audiência de Tiago Henrique da Rocha, que confessou uma série de assassinatos de mulheres e moradores de rua em Goiânia, ocorreu na manhã desta sexta-feira (9/1) e terminou com a decisão da justiça de submeter o acusado a um exame de sanidade mental. Ao se sentar na cadeira para dar seu depoimento, Tiago Henrique esboçava deboche, que logo deu lugar a um semblante sério. O réu se manteve cabisbaixo durante todo o tempo e chegou a dizer que "não era errado matar".
 
A audiência de instrução preliminar - primeira fase do processo - ouviu testemunhas do homicídio de Rosirene da Silva, morta em julho de 2014. Ela estava junto com a irmã, estacionando o carro próximo ao clube Viola de Prata, no Setor dos Funcionários, quando Tiago Henrique as teria abordado. Segundo Rocilda da Silva, irmã da vítima, o suspeito deu voz de assalto pedindo as chaves do carro, mas atirou em Rosirene e fugiu. O tiro feriu Rocilda, que chegou a mostrar a marca do ferimento durante seu depoimento.
 
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Ela ainda revelou que Tiago, antes de realizar o disparo, chegou a perguntar à vítima se as duas tinham algum parentesco. Rosirene respondeu que eram irmãs. Após isso, ela foi atingida e faleceu. A irmã afirmou que o disparo, apesar de tê-la atingido, foi claramento mirado em Rosirene.
 
Rocilda foi uma das pessoas que participou na formação do retrato falado de Tiago Henrique e afirmou ter certeza de que é ele o homem que assassinou sua irmã. Segundo ela, apesar de o crime ter acontecido à noite, havia iluminação pública suficiente para que os traços do supeito fossem vistos.
 

Rocilda da Silva, irmã de Rosirene  R(Foto: Hernany César)
 
Depoimentos
Outra irmã de Rosirene, Ivanete da Silva, também acompanhou a audiência e, em meio a lágrimas e abraçada à irmã, disse que não acredita na capacidade de se fazer justiça. "Nada vai trazer minha irmã de volta", lamentou. Rosirene era a caçula de sete irmãos. Para Ivanete, ela era "a companheira, irmã de coração. Sempre alegre e feliz e não desejava mal a ninguém".
 
Sobre estar frente a frente com o suposto assassino de Rosirene, Ivanete mal conseguiu falar. "Eu nem gostaria de saber quem fez isso com minha irmã." Apesar de ser uma das testemunhas do caso, seu depoimento não foi ouvido na audiência - ela chorava muito e passou mal desde o início do processo, que começou depois das 9 horas da manhã. Cerca de 60 pessoas acompanharam os depoimentos.

(Foto: Hernany César)
 
Outro irmão da vítima Rosirene, Henrique da Silva, também foi ouvido nesta sexta (9/1). Ele confirmou que a irmã foi encontrada morta no carro, com as pernas para o lado de fora do veículo. "Acho que ela tentou pegar a chave do carro para entregar a ele", disse.
 
Série de assassinatos
Uma das testemunhas do caso também foi o delegado Fábio Meireles. Ele é o responsável pelas investigações da morte de Rosirene. Fábio foi questionado pela defesa se ele considera que Tiago Henrique sofre de distúrbios mentais. "Não posso afirmar isso, não tenho conhecimento suficiente". "Por que então ele é chamado de serial killer?", perguntou uma das advogadas de Tiago. "Pela grande quantidade de crimes que ele cometeu", explicou o delegado.
 
Durante todo o tempo em que respondeu às perguntas do juiz, promotoria e defesa, Tiago Henrique manteve a cabeça baixa. Com as mãos algemadas, o réu demorava para responder. Em sua defesa, ele declarou que "foi obrigado a praticar o crime". Quando perguntado sobre quem o teria obrigado, ele respondeu apenas que "não sabia". Tiago afirmou, durante vários momentos da audiência, que "seguia uma voz" dentro de sua cabeça. "Era mais forte que eu", afirmou. O réu ainda disse que um "sentimento demoníaco" tomava conta dele.
 
Questionado sobre o assassinato de Rosirene, Tiago disse que se lembrava de ter ido a um bar e bebido cerca de dez doses de cachaça. Ele afirma se lembrar de anunciar o assalto e, depois disso, mais nada. "Fiquei cego. Só lembro de anunciar o assalto e sair em disparada", depôs. "Saí de casa e fui para um bar para esquecer o sentimento ruim que eu tenho", afirmou, cabisbaixo.
 
O juiz Eduardo Mascarenhas questionou Tiago sobre sua capacidade de manusear armas mesmo sob o efeito do álcool. "Mais ou menos", respondeu. Todas as vítimas de Tiago foram executadas com um único disparo. O réu trabalhava como segurança em uma empresa privada e afirmou que fez um curso preparatório para atuar como segurança. Os exames de balística confirmaram que a arma encontrada em sua casa é a mesma que foi utilizada no homicídio de Rosirene - o projétil foi encontrado dentro de seu carro.
 
Apesar da evidência, Tiago disse não saber qual o calibre da arma que estava em sua residência. Ele também não soube afirmar onde estava no horário em que o crime ocorreu, por volta das 23h20, mas ressaltou que tem um álibi de que esteve em um bar antes do homicídio.
 
O réu ainda foi confrontado pelo juiz com o fato de que trocava a placa de sua moto com frequência. Tiago ainda possuía uma capa vermelha para cobrir o tanque do veículo durante as práticas dos crimes. "Você tinha medo de ser pego?", perguntou o juiz. Tiago não respondeu objetivamente, mas afirmou que colocava a capa vermelha em sua motocicleta "para variar de cor". Já a troca das placas, segundo ele, não tinham "nada a ver com o crime".
 
Vontade de matar continua
Diversas vezes durante a audiência Tiago disse que "matar não dava prazer", mas que também não conseguia "segurar um sentimento" que tinha. Quando questionado pela defesa se tal sensação continuou mesmo depois de ser preso, respondeu que sim. A defesa também perguntou quando é que o suspeito se dava conta de que cometera os crimes. "Lembrava dos disparos só depois", disse Tiago.
 
"Você consegue entender que quando atira numa pessoa, ela morre?", perguntou o promotor Carlos Alberto Fonseca. A pergunta foi repetida outras duas vezes, sem obter uma resposta objetiva.
 
O promotor do caso afirmou, após o final da audiência, que está convencido de que todos os elementos para pedir o julgamento de Tiago estão presentes. No entanto, como a defesa discordou e levantou a possibilidade de insanidade mental, o processo fica suspenso até que os exames sejam realizados.
 
Caso problemas psicológicos sejam comprovados no réu, ele será submetido a uma medida de segurança. No entanto, a promotoria diz ter certeza de que não é o caso. "Temos convicção, pelas perguntas que fizemos no interrogatório, que ele tinha entendimento, que ele tinha auto-determinação", disse o promotor Carlos Alberto.
 
Ao fim dos exames psicológicos, caso Tigo Henrique seja diagnosticado como ciente de seus atos, ele será levado ao tribunal para julgamento.

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