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Fabiano de Abreu

Roberto Leal e a mágoa de sentir-se emigrante no Brasil e em Portugal

| 19.09.19 - 18:23
Roberto Leal foi um cantor português radicado no Brasil. Um de seus trabalhos mais marcantes foi em O último a sair, série televisiva portuguesa de comédia. Falecido falei há poucos dias, o cantor recebeu diversas homenagens, dentre elas a de seu grande amigo Bruno Nogueira que revelou que a mágoa de Roberto “sempre foi sentir-se emigrante no Brasil e em Portugal”.
 
Essa frase me tocou profundamente quando li, pois posso dizer que o entendo e vivo essa dicotomia diariamente.
 
Sou neto e filho de portugueses, mas fui criado no Brasil. Hoje moro em Portugal. Nas terras brasileiras, era chamado de portuga. Em Portugal, sou o brasileiro.
 
Atribuio muito disso ao sotaque, que apesar de ser normal, nos aponta e nos coloca em uma caixinha identitária que nem sempre é a correta. A exemplo de minha mãe, que mesmo nascida em Portugal, tem sotaque brasileiro pois foi muito nova para o país e é tida por todos como nativa. Apenas quando conta suas origens, as  pessoas passam a considerá-la uma portuguesa.
 
Em síntese, a questão que foi vivida não apenas por Roberto, mas também por mim, minha mãe e tantos outros amigos é o pré-julgamento humano em relação a nossa origem. E isso incomoda até certo ponto, visto nos colocam e até mesmo criam uma identidade que não é a nossa.
 
Ser colocado em caixas identitárias é um hábito corriqueiro em Portugal. Comumente, escuta-se alguém ser designado de o francês, o suíço, mas essas pessoas, na maioria dos casos, não são nascidas nesses países, mas sim, parentes de nativos que migraram para cá, ou seja, são portugueses.
 
Defendo o ponto como afinco, pois ao meu ver, a genética é que define a cultura e a personalidade de uma região. Portugueses são portanto, todos os nascidos, filhos ou netos de portugueses, que carregam na sua personalidade a cultura de Portugal. A própria lei assim define quando permite a nacionalidade por laços sanguíneos.
 
Os portugueses no Brasil, por exemplo, exercem mais a sua cultura do que se estivesse no país de origem, mantendo a sua tradição, pois mesmo tendo deixado a nação, sentem a necessidade de manter a pátria que amam, a evidenciando muito mais do que permaneceu nela.
 
Portugueses que conheci enquanto estive no Brasil são inclusive, mais conservadores que aqui. É como estivessem parados no tempo, para manter as tradições mais fortes.
 
Existe ainda uma diferença quando se é chamado de imigrante no Brasil. Devido a característica de possuir pessoas de todos o lugares do mundo, eles são facilmente reconhecidos, mas conseguem ser chamados de brasileiros, só que de forma rasa.
 
Sempre há um país antes do Brasil e é por isso, que mesmo nascendo no local, há outra nação que vem a frente e perde-se o sentimento de nacionalismo.
 
O futebol mudou muito isso, mas ainda é uma realidade.
 
Por fim, entendo Roberto. O português, convicto, mesmo quando sai de seu país, não quer ter sua identidade inventada. Esse é o orgulho de ser português, que deveria ser respeitado.

*Fabiano de Abreu é empresário e assessor de imprensa 

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