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Jales Naves

A angústia de viver duas pandemias e um momento precioso

| 05.06.20 - 16:27
Jales Naves
Especial para o jornal A Redação

Goiânia - A longevidade que se verifica ultimamente, com algumas pessoas atingindo uma idade pouco comum até pouco tempo atrás, permitiu-lhes vivenciar situações que não gostariam de revivê-las novamente. Um desses casos é daqueles que atingiram ou estão próximos de completar 100 anos e puderam, em seu tempo, participar de episódios que marcaram suas existências.
 
Um desses episódios foi a famosa gripe espanhola, que eclodiu ao final da I Grande Guerra Mundial, em 1918, que infectou em torno de 500 milhões de pessoas, correspondentes a um quarto da população mundial da época, e que vitimou em torno de 50 milhões de indivíduos. Tornou-se uma das epidemias mais mortais da história da humanidade e uma das primeiras causadas pelo vírus influenza. Houve uma segunda fase, no início da década de 1920, que causou mais mortes, em especial de mulheres grávidas ou que tinham acabado de ter os seus filhos.
 
As condições sanitárias, naquela época, eram diferentes das de hoje. Não dispunham ainda de medicamentos mais eficazes, como a penicilina, de médicos, com os atendimentos sendo feitos mais por farmacêuticos, e nem de meios de comunicação ágeis, que trazem a informação em tempo real, como agora, que possibilitam a rápida adoção de medidas preventivas, com a devida urgência e eficácia.
 
Esse episódio marcou muitas pessoas, que perderam entes queridos, e que agora estão revendo, com muita angústia, essa história, que se repete com a mesma agressividade e rápida disseminação do vírus, já com números que nos perturbam.
 
Minha mãe, Maria Luíza Naves, que em julho chega aos 99 anos, conheceu duas pandemias e sentiu de perto a dor da perda de uma pessoa muito querida. Sua mãe, Maria de Araújo Oliveira e Silva, apelidada de Preta, que se casou em 1916, estava com forte gripe quando deu à luz, em 1923, a sua terceira filha – já tinha um menino, com seis anos, e duas meninas, uma com quatro e outra com dois anos. Era justamente essa maldita gripe espanhola e não resistiu. A criancinha já nasceu morta.
 
Preta, mineira de São Gotardo, de 1898, veio com os pais e outros familiares para essa região no início do século XX e se instalaram no município de Campinas. Morena, muito bonita, com olhos azuis, ela despertava paixões por onde passava e ao completar 18 anos casou-se com o jovem Osório Carlos da Silva, que tinha a mesma idade e ocupava, na época, o cargo de Procurador Fiscal do distrito de Trindade.
 


Maria Luíza Naves, em 2019 (Foto: Jales Naves)
 
Os filhos vieram na sequência: José Heinzelman da Silva, em 1917, Eliza Araújo de Oliveira, em 1919, e Maria Luíza Neta, no dia 25 de julho de 1921, que por ser a menorzinha ficou com o apelido de Nenzinha. Com a morte da mãe, os três foram criados pela avó paterna, homônima da caçula, Maria Luíza de Jesus, conhecida como Vó Iza, mineira do Triângulo.
 
Agora enfrentando uma nova pandemia, em grandes proporções e igualmente trazendo muita apreensão, ela rememorou alguns momentos preciosos na conversa que tivemos hoje, por telefone, já que o isolamento social não nos aconselha a ficar próximos, fisicamente. Estamos seguindo à risca a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), para evitar a propagação desse vírus que tanto nos incomoda e maltrata.   
 
Passados quase 100 anos e no calor dessa nova pandemia, ela se lembrou do que sua avó lhe contou: então na faixa dos dois anos de idade, como não tinha com quem brincar, Nenzinha saía pelo grande quintal da casa onde morava, em Trindade. Nessas pequenas e solitárias caminhadas, colhia os raminhos mais bonitos e verdes que encontrava e levava para sua avó, que os conhecia, para fazer seus chás milagrosos, da medicação caseira que utilizava, para dar à mãe dela, que tinha febre muito forte.
 
Em função do parto realizado naquele momento de forte gripe, que a deixou fragilizada, Preta ficava mais na cama, sem disposição para se levantar, o corpo com dores e cansada. Ela sobreviveu o quanto pôde, por uns 15 dias, quando a famigerada gripe espanhola também a levou do convívio com os familiares.

 
 
 
 

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