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Gabriel Yamin

A vida de ninguém é uma piada

| 25.10.21 - 14:11
Eu tenho certeza que você já contou, ou pelo menos riu, de uma piada de anão. Meus pais e amigos também já fizeram isso. Bem, pelo menos até me conhecerem.
 
Pra você que não me conhece, muito prazer! Meu nome é Gabriel, tenho 14 anos. Quero aproveitar que hoje, 25 de outubro, é o Dia Mundial do Nanismo, pra te contar o porquê da piada sobre minha deficiência não ter mais graça.
 
Tudo começou lá em 2006, quando meus pais ouviram do médico: “seu filho é anão”. Para quem não sabe o nanismo é uma alteração genética que limita o crescimento da pessoa. Existem mais de 400 tipos, cada um com suas características. Eu tenho o tipo mais comum: a acondroplasia.
 
Voltando aos meus pais. Eles, claro, ficaram em choque, até porque ninguém, antes de mim, tinha nascido assim na nossa família. Eles não sabiam que qualquer casal pode ter um filho como eu (e é o que acontece com 80% das crianças que nascem com nanismo).
 
Bem, mesmo depois do choque, meus pais continuaram me esperando ansiosamente. Nasci, em novembro de 2006, bem, saudável, e lindo (claro).
 
Até uns 6 anos de idade, levava a vida numa boa, sem ligar muito pro fato de eu ser mais baixo do que a maioria dos meus amigos. Até que, um dia, uma colega me chamou de anão, e eu fiquei sem entender bem. Contei pros meus pais, e eles explicaram que eu tenho nanismo, mas que isso não me impedia de levar uma vida normal. Pra mim, na época, eu só não iria conseguir ser um grande jogador de futebol ou piloto de fórmula 1. Mas, ao longo do tempo, fui vendo que não era bem assim.
 
Com 9 anos, numa audiência pública no Senado Federal, tive meu primeiro contato real com outras pessoas com nanismo. Foi maravilhoso. Naquele instante eu percebi que, por mais que eu fosse diferente, não era o único. No mesmo dia, meus pais me contaram sobre uma campanha de combate ao preconceito à pessoa com nanismo que eles tinham pensado. O nome: #somosTODOSgigantes. Na hora, topei fazer parte.
 
Nunca pensamos que iríamos alcançar tantas pessoas! Há 6 anos passamos a enxergar, diariamente, as dores da comunidade, especialmente em relação  acessibilidade, inclusão e respeito. Há cinco anos criamos um portal na internet que fala só sobre o nanismo. Há quatro anos começamos a organizar encontros nacionais, onde pessoas de todo o Brasil se reúnem para trocar experiências, recebem atendimento médico e psicológico. Há um ano criamos o Instituto Nacional de Nanismo (INN), que nos permitiu entrar no mundo das políticas públicas porque há muito a ser feito.  
 
Eu fui crescendo e aprendendo, especialmente com outros como eu, que os centímetros a menos não me impedem de ser quem eu quiser. E hoje, o que eu quero é só ser eu mesmo, Gabriel e não o “anão”. Quero ser conhecido pelas minhas características (sim! Eu tenho nanismo!), mas não ser resumido a elas. Quero que os olhares sobre mim sejam os mesmos lançados para qualquer pessoa comum. Quero ter oportunidades e alcançar meus sonhos. Quero ter qualidade de vida e que as comorbidades relativas à minha deficiência não me limitem muito. Mas acima de qualquer coisa, quero ter a certeza de que os meus iguais terão acesso às mesmas conquistas.
 
Porque pra mim já está claro que nada disso faz sentido se não for para todos.
 
*Gabriel Yamin é porta-voz do Instituto Nacional de Nanismo (INN)
 
 

Comentários

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  • 25.10.2021 14:32 Othaniel

    Parabéns!

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