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Patrícia Arantes de Paiva Medeiros

Se não pararmos, a terra para

. | 12.01.23 - 14:20
 
Recentemente assisti ao clássico O dia em que a Terra parou. O filme de 1951 aborda a visita de um alienígena chamado Klaatu ao nosso planeta para alertar do risco das guerras e como os outros planetas temiam que a nossa beligerância chegasse até eles.
 
O contexto em que o filme foi lançado não poderia ser outro para a lição de moral: o mundo havia acabado de sair de outra Guerra Mundial e entraram na Guerra Fria, agora com o perigo iminente de ataques de bombas nucleares.
 
Apesar de Klaatu ficar convencido de que nem todos os humanos eram maus, o mensageiro extraterrestre foi morto por um tiro de um soldado – irônico, não? (não é spoiler quando o filme tem mais de 70 anos).
 
Parece que os terráqueos não ficaram muito impressionados ou comovidos com a visita de Klaatu (é desse filme que vem uma das frases mais famosas da cultura pop Klaatu barada nikto). Aparentemente, não somos uma espécie que aprende lições com muita facilidade.
 
Os anos se passaram, as grandes guerras acabaram, a ameaça nuclear diminuiu, a pauta mudou. A ficha de muita gente caiu e percebeu-se que só temos este planeta para vivermos. Mais do que isso: precisamos cuidar das pessoas com quem convivemos, afinal, não dá para fazer tudo sozinho.
 
Tendo isso em mente, decidiram fazer uma nova versão de O dia em que a Terra parou. O filme foi lançado em 12 de dezembro de 2008, no mesmíssimo dia em que finalizavam a COP 14, na Polônia, depois de muita discussão e poucos resultados.
 
Desta vez, Klaatu veio para agir: “se os humanos vivem, a Terra morre. Se os humanos morrem, a Terra vive”, explica Keanu Reeves no papel do alienígena. Klaatu é convencido de que as pessoas podem mudar... enquanto foge do exército americano – de novo.
 
Um dos problemas desta refilmagem é que Klaatu acreditou apenas nas palavras da Jennifer Connelly, do filho do Will Smith e do John Cleese (depois de tantos anos de Monty Python, dá para levá-lo a sério?). E os outros sete bilhões de humanos? E os governos dos quase 200 países? E as milhões de empresas ao redor do mundo?
 
O que temos feito para evitar outra “visita” do Klaatu?
 
As práticas de Enviromental, Social and Governance, ou ESG, se bem aplicadas, sem dúvidas, poderiam nos salvar de nós mesmos, se é o que Klaatu quer, no fim das contas.
 
Contudo, deveríamos nos preocupar mais com quem finge que segue o ESG do que quem não faz ideia do que seja. As empresas que querem exibir a aparência de sustentáveis, de terem um ambiente de trabalho agradável e de serem transparentes, mas não o são acabam prejudicando todos os que se esforçam para ser.
 
As práticas ESG se tornaram dinheiro e vão se tornar ainda mais. Durante a recente COP 27, no Egito, o BNDES anunciou que aumentou para R$ 2 bilhões a linha de crédito para empresas que comprovarem que são “amigas do meio ambiente”, que respeitam e investem em seus colaboradores e que tratam o dinheiro da empresa com honestidade e zelo.
 
Empresas que vão bem em índices como Dow Jones ESG ou S&P/B3 Brasil ESG atraem investidores interessados em empresas que valorizam os valores simbolizados pelo ESG.
 
Aqueles que não seguem o ESG porque querem um mundo melhor, ao menos têm o incentivo financeiro para fazê-lo. Se é para fazer, que façam bem feito. Não dá mais para dizer que é sem ser, dizer que faz sem fazer.
 
Quatrocentos jatos particulares (que emitem até 14 vezes mais gases de efeito estufa por passageiro que aviões comerciais) pousaram no Egito em novembro para deixarem autoridades e ativistas que falaram durante a COP 27, uma conferência que trata das mudanças climáticas.
 
Canudos de papel são entregues por funcionários que podem ser demitidos a qualquer momento pelos motivos mais estapafúrdios. Marcas de roupas orgulham seus acionistas pela rentabilidade enquanto fazem propagandas com apologia à pedofilia.
 
Hipocrisia sempre existiu e sempre existirá. É ingenuidade achar que nos tornaremos perfeitos. Entretanto, depois de tantos e tantos anos em guerras, contra atrocidades e contra a miséria, seria bom que finalmente consigamos parar de “apagar incêndios” e construir algo concreto.
 
Se Klaatu tiver que vir aqui uma terceira vez e fazer a Terra parar de novo, espero que tenhamos aprendido pelo menos essa lição.

*Patrícia Arantes de Paiva Medeiros é advogada em Carvalho, Machado e Timm Advogados, mestranda em Direito, Justiça e Impactos na Economia. LLM em Direito Empresarial. Atua em regulação econômica e agronegócio.
 
 
 

Comentários

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  • 12.01.2023 18:21 Ednamar Arantes

    Parabéns Patrícia, vc nos leva a grandes reflexões.

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