Navegar pelo mar de 86 bilhões de neurônios não é uma missão fácil, e poucos se aventuram a enfrentar esse desafio. No entanto, a proposta foi feita e acolhida com coragem pela querida Marianne Araújo para o Papo Cabeça, em comemoração aos 2 anos de existência do Jardim Potrich, no sábado (8/2).
Mari é engenheira mecatrônica com mestrado em Neuroengenharia pelo Instituto Internacional de Neurociência Edmund e Lilly Safra (IINLS), ou simplesmente NELSON, como ela carinhosamente o chama. Atualmente, está se doutorando em Neurociências pela Universidade Masaryk, na República Tcheca.
Mari é o tipo de pessoa que costumo chamar de "cabeção", uma estudiosa da mente e do comportamento; humanista por natureza, mas incondicionalmente atraída pelas inovações tecnológicas na Ciência da Engenharia. Ela se dispôs, em apenas quarenta minutos, a explanar sobre questões tão complexas e ainda misteriosas após milênios: "O que é a mente? Como o cérebro dá origem à nossa consciência? De que forma ele molda o nosso pensamento?"
Paralelamente ao evento, comecei a leitura do livro A Jornada da Humanidade: as origens da riqueza e da desigualdade, do economista israelense-americano Oded Galor, que apresenta dados científicos sobre o desenvolvimento da civilização, abordando os altos e baixos da sociedade. Ele comprova, com estatísticas, que a educação, o conhecimento e a curiosidade incessante do ser humano são os verdadeiros motores da riqueza mundial.
A mente precisa ser constantemente provocada, movimentada por inquietações, questionamentos, teses, antíteses e sínteses, para que a humanidade saia da zona de conforto e transforme o mundo em um lugar mais saudável para viver.
"Desde as civilizações mesopotâmica e egípcia, os filhos das elites aprendiam a ler, escrever e realizar tarefas aritméticas básicas para se prepararem para cargos como escribas, sacerdotes e funções administrativas. Também eram frequentemente apresentados à astrologia, filosofia e teologia, enriquecendo seu conhecimento espiritual e cultural, além de abrir portas para as classes intelectuais."
Galor evidencia, por meio de gráficos, como o investimento em capital humano teve impacto direto e positivo nas sociedades que mais priorizaram a educação.
No Papo Cabeça do sábado (8/2), Mari mencionou uma reflexão de Santiago Ramón y Cajal, o "pai da neurociência moderna". Cajal foi o cientista que desenvolveu a teoria neural, descrevendo o sistema nervoso como uma rede de neurônios individuais que se comunicam por sinapses. Ele também criou técnicas revolucionárias que nos permitiram visualizar a complexidade das células nervosas:
"É preciso sacudir energeticamente a floresta dos neurônios cerebrais adormecidos; é necessário fazê-los vibrar com emoção diante do novo e infundir-lhes nobres e elevadas inquietações."
Em um momento cada vez mais dominado por fake news, falsos messias, subcelebridades e epidemias de "muskitos", estudos comprovam que, pela primeira vez na história, os filhos estão com QIs inferiores aos dos pais (Fonte: BBC).
É urgente que voltemos a vibrar com emoção e curiosidade por temas ocultos, misteriosos e ainda não decifrados, para sacudir as águas desse nosso mar de 86 bilhões de neurônios. Como diz o velho ditado: "mar calmo não faz bom marinheiro". Então, que tal balançar o que balança a gente. Que tal começarmos, mentalmente, a humanizar o futuro!
Fachada Jardim Potrich e livro de Oded Galor. (Foto: Arquivo pessoal)
Tatiana Potrich e Mari, em 2019. (Foto: Arquivo pessoal)
*Tatiana Potrich é designer de joias e curadora de eventos culturais